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Recuperação judicial, o tempo, o time e o capital

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Nos últimos 2 anos muito se tem discutido sobre a Recuperação Judicial, e são enfocados apenas os pontos jurídicos da Lei 11.101/2005, as jurisprudências formadas ao longo do tempo nos tribunais, assim como os riscos inerentes a alguns temas polêmicos dos quais o entendimento ainda não esta consolidado nos tribunais. 

Destarte 3 pontos são fundamentais para o sucesso de um projeto de Recuperação Judicial: (1) Tempo; (2) Time e (3) Capital.

O tempo esta relacionado ao momento certo para a tomada de decisão sobre a entrada com um processo de Recuperação Judicial. Esta decisão hoje esta fundamentada no sentimento empírico do empresário enquanto deveria estar fundamentada no pragmatismo dos números. Os empresários geralmente esperam estar com os seguintes problemas para se decidirem a entrar com a Recuperação Judicial: 
    Queda de faturamento por mais de um ano seguido;
    Falta de capital de giro para a utilização ótima da capacidade instalada;
    Falta de bens imóveis livres e desimpedidos de ônus para a tomada de crédito de terceiros;
    Atraso na pagamento da folha dos colaboradores;
    Protestos de fornecedores;
    Falta de crédito com fornecedores;
    Falta de crédito com bancos passando a operar com factorings, que na maior parte dos casos praticam taxas de juros muito maiores do que a “TIR” (Taxa Interna de Retorno) da empresa.

Uma ferramenta matemática para se avaliar o momento correto é a fórmula “Altman Z-score”, que é uma fórmula usada para avaliar e acompanhar a solvência das empresas. Essa fórmula foi concebida por Edward Altman, um economista professor na New York University, e é composta por cinco variáveis para prever a probabilidade de falência nos próximos dois anos. Estudos realizados sobre a eficácia dessa fórmula atribuíram-lhe uma confiabilidade superior a 70%.

A fórmula Z-SCORE para empresas de capital fechado é:

Z = .717T1 + .847T2 + 3.107T3 + .420T4 + .998T5
Onde:
T1 = Capital de Giro / Total de Ativos
Mede os ativos líquidos em relação à dimensão do balanço.

T2 = Lucro Operacional / Total de Ativos 
Mede a capacidade de gerar lucro da empresa.

T3 = LAJIR (Lucro Antes de Juros e Imposto de Renda)/Total de Ativos 
Mede a eficiência operacional sem levar em conta impostos e alavancagem.

T4 = Book Value / Total de Passivos. 
Book value ou valor contábil corresponde aos ativos menos os
passivos presentes no balanço. Ou seja, é teoricamente o valor do que a empresa tem (ou lhe devem) menos o valor do que a empresa deve.

T5 = Vendas / Total de Ativos 
Mede o giro do ativo.
 
Interpretação:
Z > 2.9 - Zona segura
1.23 < Z < 2. 9 - Zona cinzenta
Z < 1.23 - Zona perigosa

Uma vez mitigado o risco do tempo certo para a tomada de decisão, devemos avaliar o time envolvido, que é composto por um tripé: empresa, advisor jurídico e advisor consultor estratégico (a quem caberá a gestão de todo o projeto de Turnaround). 

O time da empresa é a peça fundamental, pois é a parte que executará o projeto interno de Turnaround. Na maior parte dos casos é extremamente necessária a mudança de grande parte do corpo diretivo da empresa, profissionalizando a gestão, sem deixar de aproveitar os pontos fortes que existam no time (que na maioria das vezes esta relacionado a produção/prestação dos serviços). Os pontos fracos geralmente se relacionam a gestão administrativa e financeira e aos sócios da empresa.

Quando falo em profissionalização, me refiro a tornar as informações da empresa mais fluidas, transparentes e confiáveis, além de tornar a empresa inovadora e não criar inúmeras regras que na maioria dos casos burocratizam tanto a empresa que a torna um corpo pesado e lento.

Turnaround não é uma receita de bolo, é experiência, aprendizado, acertos e erros.

Por último trataremos do item “CAPITAL”. Por definição o capital é um recurso incerto e finito e necessário para o desenvolvimento de qualquer atividade.

Quando analisamos uma companhia, o capital esta relacionado aos recursos financeiros necessários para se atingir o proposito de existência da empresa, cumprindo sua função social. 

Os recursos financeiros fomentam o CAPEX e a Necessidade de Capital de Giro (“NCG” ou “CCL”) e provem de capital próprio e de terceiros. No Brasil em virtude da imprevisibilidade para o médio e o longo prazo, assim como devido as altas taxas de juros para a captação de recursos de terceiros, as empresas precisam trabalhar com uma proporção maior de capital próprio do que os pares internacionais para terem mais segurança na sua solvência. 

Uma parâmetro que deve ser utilizado pelas empresas no Brasil é terem no máximo de 2 a 3 vezes o Endividamento Líquido como proporção do EBITDA (geração operacional de caixa) anual, independente do setor que atuam. Através deste parâmetro conseguimos trabalhar a proporção seguro entre capital próprio e capital de terceiros.

A ideia de se esgotar todas as possibilidades antes de pedir ajuda ao “judiciário” através de uma Recuperação Judicial esta errada é levam os empresários brasileiros a chegar atrasados e muitas vezes não conseguirem se manter em RJ e o desfecho acaba sendo a falência.

Autor(a)
Cidinaldo Boschini
Informações do autor
Sócio da 2C Consultoria Financeira EIRELI e membro TMA Brasil desde 2013

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