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Carvalho, novo dono da Leader, renegocia dívida de R$ 1 bilhão

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O BTG Pactual Participations concluiu na terça-feira a venda de sua parte na Lojas Leader à Legion Holdings, empresa criada há menos de seis meses, e controlada pelo advogado e consultor Fabio Carvalho. Foi pago pela operação um valor simbólico, de cerca de mil reais, já que a compradora deve absorver dívidas de cerca de R$ 1 bilhão, de uma rede com 167 lojas (marcas Leader e Seller) e prejuízo de R$ 530 milhões em 2015. O BTG tinha 70% da Leader, com receita bruta de cerca de R$ 2,5 bilhões em 2015.

O atual plano para tentar recuperar o negócio passa pela renegociação de débitos, que já estaria em andamento com credores da Leader, revisão de projetos e da situação das lojas. Circulam informações no mercado de que a empresa pode demitir funcionários e fechar pontos da rede de moda, cama, mesa e banho. O BTG Pactual Principal Investments FIP, do qual participam outros investidores, também integra o acordo. A conclusão da operação está sujeita a obtenção de aprovações regulatórias.

As negociações entre BTG e Carvalho estavam acontecendo desde o fim do ano passado, como antecipou o Valor em janeiro, mas só se aceleraram mesmo neste ano. Esta era uma das únicas soluções que o BTG tinha em mãos para conseguir sair do negócio, após sondagens de venda da operação que não avançaram ou despertaram interesse - a família Gouvea, sócia com 30% da empresa, desistiu de negociar meses atrás.

Fabio Carvalho montou no fim do ano passado a Legion Holdings, enquanto começava a conversar com o BTG, e trouxe para a sociedade um ex-gerente da BRMalls, André Peixoto, e o ex-sócio da Polo Capital, na gestora até dezembro, Rogerio Bimbi. Os dois entraram na operação como investidores pessoa física e são minoritários.

Carvalho entrou na negociação da Leader para tentar desenhar alguma solução com o banco, dentro de um projeto, diz ele, de reestruturá-la com a ajuda da consultoria Alvarez & Marsal - que já está na empresa há dois meses. O Grupo BTG queria se desfazer do ativo, num processo de saída de operações com problemas. Além disso, medidas anteriores para recuperar resultados não funcionaram e crescia o risco de um pedido de falência da rede, que poderia ser aceito na Justiça. Sócios da rede Seller já haviam entrado com um pedido, não aceito, em janeiro.

Carvalho é próximo de André Esteves, fundador do BTG, afastado do controle e do comando do banco após sua prisão em novembro no âmbito das investigações da Lava-Jato. Em vários momentos, fez transações com o banco. "Não nego que muitos dos meus negócios passaram pelo banco [BTG], mas meu banqueiro é o Santander", diz Carvalho. Ele não detalha quais linhas de financiamento possui ou a expectativa de injeção inicial de capital no negócios. A Leader precisa de aportes para funcionar e as vendas vêm caindo com as interrupções de entrega de produtos nas lojas.

Em relatório de 30 de março, a Harpia, um dos veículos de investimento do BTG na Leader, diz que a empresa tem uma "insuficiência de capital circulante líquido" (ou seja, falta de capital de giro) de quase R$ 1,1 bilhão ao fim de 2015. Quanto à necessidade de aportes na operação, já de imediato, para conseguir ir "tocando o negócio", Carvalho diz que "está preparado" para alguma necessidade de caixa no curto prazo, sem detalhar.

Ele repete que o caminho para recuperar o negócio é fazer a rede gerar caixa. "Para reverter isso rápido, o dinheiro tem que vir da operação, e tem que eliminar distorções. Você não paga conta com dinheiro que é para pagar dívida, por exemplo."

O empresário disse que não colocará dinheiro na companhia até que a operação seja aprovada pelas entidades reguladoras da concorrência. Questionado sobre críticas de credores de que a venda é nociva à eles, já que Carvalho não tem as mesmas condições financeiras que o Grupo BTG, o empresário concorda que há mudanças, mas que podem ser benéficas aos credores. "O banco [BTG], apesar desse aparente acesso às melhores condições, parece que não foi o bastante [no caso da Leader]. Eu tenho o que o BTG não tem, a capacidade de tocar o negócio, e o BTG tem o que eu não tenho, dinheiro", disse ele, depois de ter afirmado que tem bancos que pode acionar.

Carvalho ganhou algum destaque maior no setor privado após a bem-sucedida reestruturação da varejista Casa & Video, da qual é sócio - uma rede que, na crise, tinha um terço da dívida atual da Leader e R$ 1,2 bilhão de receita. O próprio BTG teria liberado algum financiamento inicial para Carvalho na Casa & Video, quando havia poucos canais disponíveis, segundo fontes. O que Carvalho faz é ajustar a operação e, como sócio, revender e ficar com a diferença.

Antes da Casa & Vídeo, ele foi da consultoria Alvarez & Marsal e atualmente é do conselho da empresa de recuperação de créditos Recovery. Em 2015, participou de outra operação com o banco. O BTG decidiu reduzir sua participação na Bravante, empresa do segmento de navegação, diminuindo de 47% para 10% sua fatia na DSB Serviços de Óleo e Gás, sócia da Bravante. Nessa operação, Carvalho acabou entrando como sócio na Bravante, e no projeto de reestruturação.

Autor(a)
Adriana Mattos

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