Dívidas, inadimplência, retração das vendas. O país em crise e algumas empresas se veem cada vez mais a beira da recuperação judicial. Mas há outra saída. O futuro da sua empresa pode ser outro, com calma e decisões corretas.
Em curto comentário que havia enviado para um cliente, em janeiro de 2015, dizia que aquele ano seria mais difícil que 2014. Motivo era o grande “ajuste fiscal” necessário para recolocar a economia nos trilhos.
O ramo editorial didático, no qual esse cliente atua, é muito diferente da maioria dos negócios. A receita só existe durante três meses, enquanto que a despesa ocorre nos doze meses do ano. O setor tem também como barreira de entrada uma grande necessidade de capital próprio, pois o ciclo de criação do material didático é de dois anos, no mínimo, até ser um produto vendável.
Costumo dizer ao pessoal da área jurídica e de bancos que esse é o agronegócio da educação.
Falava ainda, naquele comentário, redigido poucos dias após a posse do segundo mandato presidencial de Dilma Rousseff, de que não acreditava na execução do falado ajuste fiscal e que a consequência seria o crescimento da inflação, redução dos negócios, desemprego, e inadimplência generalizada.
Meses depois, vejo que a bola de cristal estava limpa e clara naquele dia. O ministro Joaquim Levy se manteve por um ano, mas os organismos do governo se negaram a colaborar para o ajuste.
O ano de 2016 começou com nova equipe e as mesmas velhas promessas.
O FMI formalizou o que parece ser uma nova expectativa realista do futuro da economia brasileira, qual seja ela deverá sofrer uma queda no seu PIB de 3,5% este ano e que 2017 será ainda mais um ano de estagnação. Vale ressaltar que esta projeção está em linha com a maioria dos analistas financeiros aqui no Brasil.
O termo que os economistas usam para esta situação é DEPRESSÃO.
O resultado dessa depressão é muito dolorido no ambiente empresarial. Indústria, comércio, prestadores de serviços, sofrem com a acelerada queda nos negócios. Efeitos são destruidores como se vê em recente informe da Serasa Experian que registrou um aumento de 55% no número de Recuperações Judiciais (RJ) no ano de 2015, comparado com 2014. De 828 ocorrências em 2014 passamos a 1.287 em 2015. Mais ainda, o primeiro bimestre de 2016 apresentou um crescimento acima de 115% nos pedidos de RJ, quando comparados a janeiro e fevereiro de 2015!
Este era o assunto de conversa, enquanto almoçava em restaurante “por quilo” com um amigo, diretor e sócio de uma empresa de médio porte.
Conversa sombria, preocupante, que me fez lembrar aquele comentário sobre os ideogramas que representam a expressão “crise”. Um representa nosso termo “Perigo”, enquanto que o outro representa o temo “Oportunidade”.
Neste ponto me vem a mente a expressão: ALVÍSSARAS
(al.vís.sa.ras) interj.
Us. para manifestar alegria, em razão de uma boa notícia sfpl.
Recompensa a quem dá boa noticia ou entrega de um objeto perdido.
Conforme Aulete Digital
Quais são então estas boas notícias?
Empresas em situação de dificuldade podem ser reestruturadas.
Existe remédio.
Usar antes de recorrer a uma Recuperação Judicial.
Apesar de pouco divulgado, o administrador especialista em turnaround management tem um instrumental muito vasto e testado para o processo de recuperação das empresas. O ponto principal para o inicio de uma reestruturação pré RJ é uma mudança radical na orientação e gestão dos negócios. Os sócios, acionistas, donos do negócio e os principais stakeholders precisam reconhecer essa necessidade.
Citando o físico Albert Einstein:
“É insanidade pensar que, ao fazer sempre a mesma coisa, você possa obter resultados diferentes.”
Exemplo macro desta afirmação é trocar ministros e não mudar nem discurso nem as ações. Naturalmente nada poderia mudar.
No microcosmo da administração, no dia a dia da empresa em crise, também é necessário mudar radicalmente a orientação e direção dos negócios, para obter esse desejado resultado diferente.
Em certas ocasiões esse remédio terá um paladar amargo, mas de efeito plenamente comprovado. Inclusive há diversos casos em que se verifica um resultado muito melhor que uma RJ.
O recomendado é que a aplicação seja feita sempre por administrador comprovadamente experiente.
Tres palavras podem resumir os principais componentes dessa “poção” e estão presentes, em proporções bem definidas, em todas as reestruturações bem sucedidas.
Foco - Gestão - Caixa
O primeiro componente demanda uma clareza de percepção dos negócios. A partir da visão macro, perspectivas dos próximos meses/anos, é necessário encontrar, avaliar e definir o nicho ou espaço que ainda existe para produzir/vender aquele produto. Ou então, redefinir o produto/negócio para atender um nicho encontrado.
Exemplifico com a situação de um empresário com quem conversei recentemente. Comerciante com muitas lojas em diversas cidades reclamava da péssima situação em que se encontrava. Várias de suas lojas estariam gerando prejuízo e queria fechá-las. Ao formular-lhe as primeiras perguntas, ele se deu conta que não tinha a mínima ideia de que produtos, nem de que departamentos davam algum retorno. Complementarmente, não tinha ideia de quais as verdadeiras demandas das diferentes clientelas, nas diversas lojas, e nas várias cidades.
Então, somente fechar lojas geradoras de prejuízo não é uma resposta sensata. Ao encerrar as atividades em alguns pontos comerciais pode-se perder o contato exatamente com aqueles clientes que deixam margens maiores, mas que não encontram um sortimento completo, que atenda seus desejos. Por outro lado, mesmo fechando diversas unidades, vai continuar “carregando” produtos geradores de prejuízos nas outras lojas.
Definitivamente, a “crise” havia tirado do empresário a capacidade de ver seu negócio com clareza, com nitidez.
Lembro que nas antigas máquinas fotográficas era necessário ajustar o foco para que a imagem não ficasse borrada. É um ajuste fino. Para isto é necessário saber exatamente o que se quer mostrar. Este será o ponto mais importante da imagem, e deve estar com seus bordos (limites) claros e precisos.
Isto é o que se chama de F O C O! Resultado será uma foto de alta qualidade.
Definido o foco é hora da ação e, neste momento, ela se chama GESTÃO.
Sem mudança no processo, na administração da empresa, não haverá mudança no resultado.
O comando passa a ser único, concentrado, ou como alguns advogados gostam de chamar, uma monocracia. O poder será exercido por pessoa necessariamente com conhecimentos e habilidades específicas. Um Administrador experimentado! No terreno das siglas, um CRO - Chief Restructuring Officer.
O ambiente de uma crise nos negócios estimula atitudes e ações díspares nas mais diversas áreas da empresa. Essa multiplicidade de caminhos, em vez de ajudar, somente conturba e agrava ainda mais a situação.
Exemplo mais recorrente é aquele em que o gestor financeiro sai desesperado, a caça de recursos para suportar os pagamentos vincentes, e as ameaças de execução, sem poder avaliar custos, prazos e outros riscos. Enquanto isto, outros gestores estão executando ações diferentes e conflitantes entre si. É a operação tapa buraco que, da mesma forma que no asfalto, se dilui já na próxima chuva ou, no caso, no próximo vencimento.
Não há outra forma de superar a crise e voltar a um ambiente sadio e normal de negócios sem a concentração de todas as decisões em um CRO ou num comitê de crise coordenado por esse CRO. Esta pessoa ou comitê deverá decidir e acompanhar todas as ações saneadoras, como fechamento de unidades, cancelamento de encomendas, dispensas, negociação dos pagamentos, etc.
GESTÃO, sem qualquer dúvida, é o princípio ativo desse “remédio”. Sua aplicação correta torna o caminho do estado de crise para o de crescimento, menos traumático e mais objetivo.
Apresentei o plano de ação - que chamei de FOCO - e tenho o CRO - Chief Restructuring Officer que vai executá-lo no que chamei de GESTÃO.
Necessito agora de um instrumento confiável para a jornada até o “outro lado”.
Afinal o objetivo principal é reestruturar a empresa e não entrar numa RJ.
Neste ponto busco a precisão, confiabilidade e atualidade constante da informação mais crítica no momento e que se chama de Fluxo de Caixa.
Todo e qualquer tesoureiro - estou falando daqueles bons, competentes - trabalha no seu dia a dia com um fluxo de caixa. É absolutamente detalhista, completo e registra instantaneamente toda e qualquer movimentação financeira.
É o monitor de batimentos cardíacos dos negócios. Caixa é o equivalente ao sangue na empresa. Quando para de circular é sinal de falência, morte. O problema não é a falta de recursos em si, mas a parada de sua circulação que liquida uma organização. Então FLUXO DE CAIXA, é o instrumento de trabalho diário, tanto de ação quanto de controle. Aqui posso antever novos problemas, corrigir atos errados, enfim garantir que o processo de recuperação siga seu curso e, ao final, terei novamente uma empresa saudável, capaz de obter novos recursos e, principalmente, rentável.
Entendido?
Este é o remédio!
Composição: Foco, Gestão e Caixa.
As doses do remédio a serem aplicadas são naturalmente variáveis, dependendo, além dos resultados internos, também dos fatores externos. Afinal, alguns desses fatores podem ser motivos para novos ajustes no foco que, por sua vez, provocarão novos ajustes no fluxo de caixa. O alinhamento do CRO com sócios, acionistas ou donos do negócio é essencial para o melhor andamento da reestruturação.
Neste ponto, o empresário em situação desesperadora me faz duas perguntas:
Isto funciona?
Resposta: Sim, é muito eficiente.
Em quanto tempo podemos sair desta crise?
Resposta: De um e três anos, dependendo da situação da empresa e do mercado. Ao final do primeiro ano o negócio já estará completamente diferente.
O importante aqui é relembrar as alvíssaras que anunciei acima:
Existem remédios para reestruturar empresas!
Finalizando, a crise que afeta uma empresa precisa ser claramente entendida e abordada, razão pela qual costumo usar a expressão “muita calma nessa hora”.
Na maioria dos casos uma reestruturação com foco, gestão e caixa feita por um experiente profissional vem a ser a melhor solução para todos os stakeholders.