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Solução em Foco - A crise no varejo chegou de vez? Desenvolvimentos recentes e tendências.

Leonardo

PARTICIPANTES: BRUNO CHIARADIA (Moderador e sócio de ASBZ Advogados); OMAR CARRABALLO (Debatedor e sócio de Kearney Consultoria Estratégica); RENATO BORANGA (Debatedor e Managing Director de FTI Capital Advisors); e, SILVIA BESSA RIBEIRO (Debatedora e Advogada do Banco do Brasil).

PALAVRAS-CHAVE: Crise – Varejo – Setor Varejista – Crédito – E-commerce.

SUMÁRIO: 1. Introdução – 2. A Crise no Varejo Chegou de Vez? Desenvolvimentos Recentes e Tendências – 3. Considerações finais.

No dia 10/03/2023, dando sequência aos eventos on-line promovidos pelo TMA em 2023 ocorreu o "SOLUÇÃO EM FOCO - A CRISE NO VAREJO CHEGOU DE VEZ? DESENVOLVIMENTOS RECENTES E TENDÊNCIAS", que contou com a participação de especialistas no assunto.

A moderação foi realizada por Bruno Chiaradia, sócio da ASBZ Advogados, que fez uma breve introdução sobre o assunto e apresentou os palestrantes: Omar Carraballo, sócio da Kearney consultoria estratégica, Renato Boranga, Managing Director da FTI Capital Advisors, e Silvia Bessa Ribeiro, advogada do Banco do Brasil. A relatoria do evento ficou por conta de Leonardo Viana, advogado do Barbosa Dutra Advocacia.


2. A CRISE NO VAREJO CHEGOU DE VEZ? DESENVOLVIMENTOS RECENTES E TENDÊNCIAS

Na Abertura do Debate, o Dr. Omar Carraballo introduziu o tema com uma visão macroeconômica do setor varejista e como a pandemia de COVID-19 afetou o consumo no Brasil. Ele enfatizou que o consumo do varejo está muito ligado à renda familiar e consequentemente ao acesso ao crédito, e que durante a pandemia, houve uma queda no "ingresso real das famílias"/"poder de compra real", com perspectiva de recuperação em 4 a 5 anos para retomarmos os patamares da Pré-pandemia.

 O Dr. Omar também mencionou que os Estados Unidos estão sofrendo com juros altíssimos, sendo que o FED - Federal Reserve System, vem emitindo alertas mensalmente sobre a possível piora desse cenário, enfatizando que isso afeta diretamente o varejo, já que as famílias estão fazendo economia. O varejo alimentar, por exemplo, vem sofrendo com o "Tradedown" de marcas, ou seja, as famílias estão optando por marcas mais baratas. 

O Dr. Omar trouxe, ainda, dados de pesquisas da Kearney que apontam que hoje mais de 50% dos brasileiros têm considerado o preço como principal fator de compra desde o ano passado e que as pesquisas vêm apontando que a classe A e B foram as classes que mais passaram a acessar o atacado nos últimos anos, ou seja, o consumidor está buscando preço e economia. Essa mudança de perfil impacta diretamente os varejistas tradicionais que têm estruturas caras em pontos mais caros.

Reiterou, por fim, que o perfil do consumidor mudou e grandes Marketplaces, como Mercado Livre e Amazon, estão crescendo cada vez mais no mercado. A penetração do e-commerce no Brasil Pré-pandemia estava a 5/10 anos atrás de países considerados desenvolvidos, mas a pandemia acabou com essa distância.

Acompanhando a discussão trazida, o Dr. Bruno encaminhou a fala para a Dra. Silvia Bessa Ribeiro, advogada do Banco do Brasil que, inicialmente, apresentou sua visão sobre a estrutura macroeconômica do mercado, apontando que as grandes empresas conseguiram fazer uma boa transição neste período pandêmico, mas as pequenas e médias empresas tiveram seus modelos de negócio prejudicados. 

Em continuidade, a Dra. Silvia apontou que vivemos em um período desafiador de reestruturação do varejo e atualmente as estratégias mais utilizadas são desinvestimento, abatimento e refinanciamentos de créditos. Ocorre que a maioria dessas estratégias de reestruturação exigem garantias por partes da empresa, o que é uma grande dificuldade para as empresas do setor varejista já que grande parte de suas estruturas como equipamentos, maquinários e imóveis são locados. 

A Dra. Silvia então indagou aos demais debatedores qual seria a medida adequada a ser tomada para resolução desse problema, tendo apontado que a Recuperação Judicial é uma alternativa viável e que, inclusive, com última alteração da Lei 11.101/05, a Tutela Antecedente na Recuperação Judicial tem sido uma alternativa bastante utilizada devido a possibilidade de antecipação do Stay Period, ou seja, a suspenção de execuções contra a empresa. Trouxe, ainda, que a Recuperação Judicial abre as portas de um ecossistema de renegociação, além das UPIs e venda de créditos. Apontou que operações dentro do ambiente de Recuperação Judicial mitigam o risco de todos os envolvidos, mas que não se pode dizer que a Recuperação Judicial só possui pontos positivos, destacando que ainda hoje o processo gera para a empresa dificuldade de acesso ao crédito, a imagem da empresa é prejudicada e todos esses fatores geram uma falta de confiança na sociedade empresária, que geram dúvidas em toda a cadeia produtora, desde o fornecedor até o consumidor final.

Na sequência, o Dr. Bruno ressaltou como foi importante ouvir um pouco da perspectiva de um representante do setor bancário sobre o tema, principalmente na perspectiva de como enxergam o mercado e o acesso ao crédito daqui para a frente diante dos casos recentes de grandes varejistas buscando processos de Recuperação Judicial após a Pandemia, tendo a Dra. Silvia encerrado o ponto trazendo a perspectiva de outras alternativas inclusive para os bancos, como cessões de crédito dentro de processos de Recuperação Judicial. 

Em seguida, a fala foi endereçada ao Dr. Renato Boranga, Managing Director da FTI Capital Advisors, que apresentou uma perspectiva transacional das empresas de varejo diante da crise. Foi enfatizado que as empresas listadas na B3 alavancaram demais durante a pandemia, chegando em média a parâmetros de 1,5x do EBTIDA e apontou que o desafio daqui para frente é lidar com as taxas de juros altas, ressaltando que as empresas que mais vão sofrer são as que tiveram maior dificuldade de migração para o e-commerce. O Dr. Renato citou como exemplos as Lojas Marisa, que teve dificuldade de migração para o e-commerce e entrou alavancada, enquanto a Renner é operacionalmente muito eficiente e pouco alavancada, pois se preparou para esse momento. Já a C&A está no meio termo, pouco alavancada, mas sob alerta.

Em sequência, Dr. Renato trouxe perspectivas da realidade das médias empresariais, que têm dificuldade pelo pagamento de taxas altas, CDI + 5 e CDI +10, de modo que carregar, hoje, taxas altas como essas faz com as empresas entrem em uma espécie de "espiral negativo", até chegar na preocupação de pagamento de contas básicas como folha de pagamento, e é nesse momento que a maioria das empresas buscam assessoria de restruturação, o que na maioria das vezes também já é tarde demais.

Passando um pouco para análise de casos de Recuperação Judicial, o Dr. Renato iniciou sua abordagem com o caso Lojas Americanas, afirmando que em sua visão a situação de insolvência da empresa nos moldes atuais decorre de um problema estrutural e contábil, muito anterior à pandemia. Apontou que o desafio agora para a Americanas na Recuperação Judicial é a manutenção dos fornecedores, mas que apesar de todo o desgaste gerado pelo processo, a Lojas Americanas é um “Player” de mercado muito forte e, portanto, possui poder de barganha com grandes fornecedores, citando o caso dos ovos de Páscoa em que a Americanas destaca-se como a maior varejista em termos de vendas de ovos de Páscoa no Brasil. Destacou, ainda, que o Marketplace da empresa é muito forte, mas há desafios em manter os vendedores na internet, uma vez que a empresa precisa de capital de giro para manter o estoque nas lojas e recuperar a confiança, inclusive no online.

Diante das falas do Dr. Renato, o Dr. Bruno Chiaradia trouxe apontamentos de uma perspectiva do mercado brasileiro, no sentido de que – tradicionalmente no Brasil – as grandes empresas decorrem de empresas familiares, salientando que esse perfil de empresa tem dificuldade de reconhecer o momento correto de buscar uma reestruturação e acabam tardiamente buscando soluções como a Recuperação Judicial, de modo que questionou ao Dr. Renato se “a pandemia não deveria ter criado esse senso de alerta em todas as empresas?”.

Dr. Renato respondeu que infelizmente não sentiu alteração nesse aspecto, apontando que tal característica faz parte da natureza do ser humano, em que vive mais confortável negando os erros e acabando por reconhecer a perda tardiamente.

Retomando ao caso das Lojas Americanas, o Dr. Renato endereçou sua conclusão para destacar novamente o caráter excepcional do caso, enfatizando que o ocorrido com as Lojas Americanas não foi um produto somente da crise gerada pela pandemia, tendo provavelmente se iniciado anteriormente por uma gestão distorcida de suas operações no modelo de “risco sacado”, apontando que não é possível ainda concluir com precisão a causa, e que futuramente terá de ser explicado por seus acionistas. Destacou, por fim, que o caso das Americanas gerou uma consequência imediata ao mercado, uma vez que os bancos pararam de fornecer o crédito decorrente da operação de “risco sacado” para qualquer empresa, medida que gera um problema para empresas que estavam fragilizadas, pois perderam o acesso a uma linha de crédito mais barata e provavelmente terão que refinanciar de forma mais cara. 


3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, o evento abordou os desafios do setor varejista e como a pandemia afetou o consumo no Brasil. Os especialistas demonstraram soluções para a segurança do varejo e o impacto da Recuperação Judicial nas empresas. O caso das Americanas foi um exemplo claro de como a alocação incorreta da dívida pode afetar a empresa e gerar desconfiança no mercado. Foi também uma excelente oportunidade para entender a perspectiva dos bancos e o papel deles no processo de Recuperação Judicial, além de discutir a importância da migração para o e-commerce e a necessidade de antecipar os efeitos da Recuperação Judicial para se preparar para o processo futuramente.

Autor(a)
Leonardo Viana, Advogado Barbosa Dutra Advocacia
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