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70% das pequenas indústrias dizem que medidas do governo não chegam à ponta

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88% das micro e pequenas indústrias afirmaram que estão sem acesso a crédito no momento para manter suas operações, segundo pesquisa

Passados três meses desde a chegada da pandemia de covid-19 ao país, a dificuldade de acesso ao crédito para empresas de menor porte persiste. No caso das micro e pequenas indústrias de São Paulo, 70% dos empresários consultados pelo Datafolha em pesquisa encomendada pelo Simpi-SP avaliaram que as medidas governamentais de combate à crise não chegaram à ponta. “Vemos um rol de medidas que demonstram boa vontade, mas há dúvidas sobre sua eficácia”, avalia o presidente do Simpi, Joseph Couri. O Simpi é o sindicato que representa o setor no Estado.
Foram consultados 257 micro e pequenos empresários industriais entre os dias 6 e 15 de junho. Na enquete, 29% dos entrevistados informaram que tiveram algum cliente que deixou de comprar porque entrou em falência ou em recuperação judicial desde o início da crise. Com as medidas de isolamento social necessárias para enfrentar a pandemia, os recursos disponíveis em caixa das empresas são escassos, devido ao tombo da demanda.
Na cadeia de fornecedores dessas indústrias, essa taxa foi de 21%. O risco de falir nos próximos 30 dias é mencionado por 16% das empresas industriais ouvidas, enquanto 14% consideram entrar com pedido de recuperação no período.
Segundo Couri, os resultados do Boletim de Tendências refletem a ineficiência do socorro financeiro do governo para o micro e pequeno empresário. “Os problemas de acesso ao crédito vêm se agravando, o que coloca em risco os empregos gerados por essas empresas e a sobrevivência delas”, disse Couri.
De acordo com ele, os critérios usados pelos bancos privados para análise de crédito, como a exigência de que a empresa não tenha dívidas com o fisco, por exemplo, têm impedido que muitas das firmas de menor porte acessem as linhas de emergência criadas pelo governo.
No levantamento de junho, 88% das indústrias afirmaram que estão sem acesso a crédito no momento para manter suas operações. As empresas que avaliam o capital de giro como insuficiente são 62% do total.
E a grande maioria (79%) relata que o faturamento piorou em relação ao período anterior à crise, ao passo que 36% registraram vendas menores do que no fim de maio. O resultado se manteve igual para 43% das companhias entrevistadas.
O Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que começou a funcionar na semana passada e tem cobertura de 85% da carteira de empréstimos, também deve ser de pouca ajuda para o setor na visão de Couri. “Não adianta o governo garantir até 100% da inadimplência, como está discutindo, se não mudar como é feita a análise de crédito, pelo sistema tradicional. Não vai liberar dinheiro algum”, criticou.
Com financiamentos restritos para os pequenos negócios de forma generalizada, apenas 8% dos empresários dizem não ter problemas com falta de pagamentos e calotes dos clientes. Já 42% deles notaram que a inadimplência subiu após a pandemia. “Isso agrava bastante o caixa das empresas”, aponta Couri.
A avaliação das micro e pequenas indústrias de São Paulo sobre sua situação financeira segue negativa, mas houve alguma melhora em relação ao início da crise. A parcela daquelas que classificam esse quesito como ruim ou péssimo ficou em 46% na medição atual, percentual que chegou a alcançar 64% na primeira edição do boletim, referente à primeira metade de abril.
O levantamento também mostra que, aos poucos, os negócios estão voltando ao normal. O percentual de empresas totalmente ou com a maior parte de suas atividades paralisadas caiu de 62% no fim de maio para 46% na primeira quinzena de junho. Entre as restantes, 23% já estão funcionando normalmente.
Em sentido contrário, o contingente de empresários que demitiram funcionários cresceu, de 28% no fim do mês passado para 32% na medição atual. Quase um quinto deles (19%) já dispensou mais de 30% de seu quadro de empregados.

22/06/2020
 

Autor(a)
Por Arícia Martins

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