A Agrenco Holding apresentará na quarta-feira aos credores da empresa no Brasil um plano alternativo para a reativação das unidades da companhia em Caarapó (MS) e em Alto Araguaia (MT). As ideias principais foram detalhadas em maio de 2010, mas faltavam os recursos que garantiriam o capital de giro para as fábricas.
Na semana passada, essa questão foi solucionada, com o anúncio da obtenção de uma linha de crédito de R$ 130 milhões no GEM, fundo de investimento do Reino Unido.
Com a linha disponível, a expectativa da empresa é que os credores aprovem o plano, que prevê que todos serão pagos em 8 anos e não em 14, como prevê o plano atual.
"Se os credores aprovarem, temos condições de colocar as unidades para funcionar no dia seguinte", afirma Edgard Salomão, presidente do conselho de administração e representante dos acionistas minoritários da Agrenco.
Há meses, os credores negociam, sem sucesso, com a parceira operacional Glencore meios de obter capital de giro para por as unidades para funcionar. Se não concordarem com a proposta, a empresa fica sem perspectivas.
A demora na reativação das fábricas durante a recuperação judicial gerou descontentamento na holding, que tem sede na Holanda e 47,91% da Limited, que negocia recibos de ações, BDRs, no Brasil.
Desde o ano passado, a holding, que abriga os fundadores da Agrenco, entre eles Antonio Iafelice, e os condutores do processo de recuperação disputam o comando das operações no país. Por conta do atraso na entrega de balanços, a Agrenco ficou 11 meses impedida de ser negociada em bolsa.
Neste mês, a companhia soltou os informes financeiros, mas a auditora BDO apresentou parecer com "negativa de opinião", o que significa que as ressalvas são tantas que não é possível atestar que os dados estão de acordo com as práticas contábeis do Brasil.
O patrimônio líquido está negativo em R$ 570 milhões, com prejuízo acumulado de R$ 1,3 bilhão.
Desde a retomada das negociações na bolsa, no dia 10, os BDRs registram forte alta, de 94% - a valorização se intensificou com a obtenção do crédito com o GEM.
Apesar da situação delicada, os BDRs também têm negociado muito. No dia 20, giraram R$ 97 milhões; no dia 21, R$ 86 milhões; e sexta-feira, R$ 84,6 milhões.
Salomão diz que os papéis passam por uma "reacomodação do mercado". Na reestreia, desabaram 50%, com investidores querendo vender a qualquer preço. "Mas as notícias têm sido positivas e o mercado vê o trabalho para colocar a empresa novamente em funcionamento", diz.
O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Francisco Satiro Júnior diz que empresas em situação como a da Agrenco ficam suscetíveis a fortes oscilações e atraem investidores que querem se aproveitar desse ganho alto e rápido. "A lógica é que quanto mais complexa a situação, maior a possibilidade de acontecer um evento que tenha impacto nas cotações, o que alimenta uma febre especulativa", afirma.
Autor: Ana Paula Ragazzi
Fonte: Valor Econômico (31/01/2011)