Documento de 134 páginas é uma espécie de estudo profundo da companhia
09/12/2024
Após o Agrogalaxy apresentar o Plano de Recuperação Judicial ao mercado, os administradores judiciais escalados para acompanhar o processo publicaram o primeiro relatório mensal analisando as condições de gestão da empresa. O documento de 134 páginas é uma espécie de estudo profundo da companhia e inclui dados contábeis, financeiros, sobre entregas e comercialização feitas pela empresa desde 2022.
O relatório mensal de atividades (RMA) - nome técnico do documento - foi incluído ontem à noite nos autos do processo que tramita no Tribunal de Justiça de Goiás.
Um dos administradores, o advogado Miguel Cançado, comentou ao Valor que o processo de recuperação da empresa de varejo no ramo de insumos é complexo e apresenta muitas novidades em termos de jurisprudência, o que sinaliza que mudanças e até revisões de análises iniciais podem ocorrer ao longo dos próximos meses.
O relatório se aprofundou em construir um histórico da empresa, da abertura de capital às aquisições, como descreveu o cenário nacional e internacional de crise das indústrias de insumos, enfatizando como principal razão exposta pelo grupo Agrogalxy para o pedido de recuperação judicial a inadimplência e não pagamento de compromissos por parte de pequenos e médios produtores, clientes da empresa, resultando em um valor de R$ 1,6 bilhão em contas atrasadas, o que acelerou o endividamento.
Uma das ressalvas descritas no relatório foi sobre o contato com a empresa. "É importante ressaltar que foram realizados diversos contatos para alinhamento das dinâmicas de trabalho. Naturalmente, dado o início do relacionamento com o Grupo Agrogalaxy, surgiram alguns desafios relacionados ao atendimento integral e tempestivo das solicitações de informações e envio de dados. De acordo com a administração judicial conjunta, algumas solicitações feitas à empresa foram atendidas parcialmente ou ainda estão em fase de atendimento, o que justifica a falta de uma conclusão no primeiro relatório.
O trabalho da Administração Judicial Conjunta do caso, composta pelos advogados Aluizio Ramos e Miguel Cançado, apontou que o grupo Agrogalaxy, apesar das solicitações encaminhadas, ainda não forneceu os dados relativos à: debêntures a pagar; passivo extraconcursal; passivo fiscal; contingência; valores inscritos na dívida ativa; cessão fiduciária de títulos/direitos creditórios; alienação fiduciária; arrendamento mercantil; obrigações tributárias após o ajuizamento da Recuperação Judicial; obrigações trabalhistas após o ajuizamento da RJ; outras obrigações após o ajuizamento da RJ e Ebtida.
“Até a data de apresentação do presente RMA, foram enviados seis Termos de Diligência (TDs) por esta Administração Judicial Conjunta ao Grupo Agrogalaxy, solicitando a disponibilização da documentação necessária para realização do presente Relatório e para elaboração de segunda relação de credores”, informa o documento.
A publicação do relatório faz parte das obrigações legais em um processo de recuperação judicial, mas não significa que seja um informe conclusivo ou que determina se a empresa vai ou não falir, por exemplo. Isso ainda não está em jogo.
Segundo Cançado, o relatório é uma espécie de estudo profundo sobre a situação financeira da empresa, com números e avaliações que funcionam como um “pontapé inicial” que dá abertura a uma série de novas avaliações ao longo da tramitação do processo, acrescentou Cançado.
As primeiras análises estão passíveis de revisão ou retificação, caso os administradores judiciais entendam como necessidade. Enquanto isso, Cançado vê com bons olhos a celeridade com que o processo corre na Justiça de Goiás, com agravos já julgados ou com data marcada para serem resolvidos.
“As informações não são estanques e as avaliações estão sujeitas a novas análises, pois mensalmente teremos que apresentar um relatório como esse (...) mais detalhado porque trata da própria vida das 13 empresas que estão sob RJ”, acrescentou. Ao mencionar 13 empresas, o advogado se refere às organizações regionais que compõem o grupo Agrogalaxy, que até início do ano era considerado pelo mercado como um dos quatro maiores em distribuição de insumos e revendas do Brasil.
Imagem matéria original: Empresa possui R$ 1,6 bilhão em contas atrasadas, o que acelerou o endividamento — Foto: Divulgação