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Ainda sem acordo com credores, Tok&Stok detalha sua crise em ação na Justiça

Capa tok e stok

varejista de móveis e decoração Tok&Stok abriu detalhes sobre a sua situação financeira.

02/06/2023

Em contestação por ela enviada à Justiça relativa ao pedido de falência feito por um parceiro — o seu principal fornecedor de tecnologia até o ano passado, ela abriu detalhes sobre a sua situação financeira. A ação transita na 3ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo desde abril.

A rede pede segredo de Justiça sobre o caso, ainda não julgado. O Valor teve acesso aos autos, antes do julgamento da solicitação de sigilo.

A companhia está em fase de reestruturação de dívidas e, de acordo com fontes, as negociações com os bancos, relativas a parcela dos passivos de cerca de R$ 600 milhões, avançaram pouco nas duas últimas semanas. Há um banco, com soma representativa em aberto, mais resistente a aceitar as condições já levadas aos credores.

Sem apoio da maioria do valor dos créditos em aberto com os credores financeiros, a renegociação financeira fora da esfera judicial pode ficar mais difícil de ser finalizada, dizem dois credores relevantes da varejista.

A rede ainda considera um aporte dos sócios controladores como medida que se complementa ao alongamento dos prazos de pagamento da dívida em negociação atualmente. A questão vem sendo trazida na mesa de negociação com bancos e fornecedores.

De qualquer forma, continua a expectativa, dentro da empresa, de que se consiga acordo com todos os bancos. Banco do Brasil e Santander estão entre as instituições credoras.

Perda de R$ 100 milhões

Foi nesse cenário de dificuldades financeiras que, em 19 de abril, a Domus Aurea Serviços de Tecnologia entrou com pedido de falência da Tok&Stok, pelo não pagamento de R$ 3,8 milhões relacionados a um contrato de serviço iniciado em 2019.

Nas alegações da Tok&Stok, enviadas à 3ª Vara, a cadeia cita problemas em decisões estratégicas e disparada de custos financeiros. Afirma que teve complicações na execução de um projeto de migração de centro de distribuição e atualização de sistemas de controle de estoque entre 2020 e 2021.

Com base nesse histórico, conclui-se que isso começou a ocorrer ao mesmo momento em que a companhia tentava colocar de pé, com apoio de bancos, uma oferta pública inicial de ações (IPO, da sigla em inglês).

Os seus sócios, liderados pelo Carlyle, protolocaram, em outubro de 2020, o registro de IPO (retirado em 2021). Eram coordenadores da oferta Itaú BBA, Credit Suisse, Bank of America, Bradesco BBI, Santander e UBS-BB.

Nesse período, a varejista teve que transferir estoques e toda a sua estrutura de sistemas e logística de Jandira (SP) para um novo centro de distribuição, em Extrema (MG), cujo dono é o fundo imobiliário Vinci Logística.

Trata-se do mesmo fundo que tentou despejar a varejista do local por atraso na pagamento da locação, em março.

Advogados da rede afirmam, nos autos, que a mudança levou a uma “paralisação temporária de recebimento pela companhia e de abastecimento de produtos do centro de distribuição para as lojas, causando perdas de R$ 100 milhões no faturamento” da cadeia.

Para se ter ideia do impacto, em 2020 (último dado público), segundo relatório da administração divulgado em Diário Oficial, a rede teve vendas líquidas de cerca de R$ 950 milhões, recuo de 21% sobre 2019.

Varejistas em fase de migração de sistemas ou de centrais de armazenagem fazem esse processo com detalhado planejamento e em períodos de baixa demanda porque, invariavelmente, há algum impacto que precisa ser controlado. O risco é uma pane que afete as vendas.

A empresa ainda cita, para explicar a sua situação atual, a queda na venda de móveis passado o auge da pandemia — as ondas da covid reduziram entre 80% e 90% as vendas da rede — e também a elevação na taxa de juros, que levou a uma alta nas despesas financeiras.

O custo do endividamento no grupo saltou de R$ 8 milhões em 2019, para R$ 361 milhões em 2021. A rede não abre o tamanho dessa conta com a alta da Selic que se prolongou em 2022.

Pedido de falência

A respeito do pedido de falência, requerido pela Domus Aurea Serviços de Tecnologia — e que transita desde 19 de abril na Justiça — a rede fez, na quinta-feira passada, o depósito em juízo da dívida em aberto, no valor de R$ 3,8 milhões, mais juros e honorários, alcançando soma total de R$ 4,2 milhões.

Na contestação enviada, a companhia confirma que assinou novo contrato com a Domus, em 2022, com novas condições. O valor em aberto desse contrato é que originou o pedido de falência.

A empresa era a fornecedora de todo o serviço de gestão e desenvolvimento de tecnologia da rede, e trabalhava no aprimoramento da estrutura de comercialização on-line dos produtos. Eram cerca de 200 funcionários trabalhando apenas na área de tecnologia na Tok&Stok.

Tok&Stok: Banco do Brasil e Santander estão entre as instituições credoras — Foto: Divulgação

Acordo com o parceiro

Na ação, advogados da rede admitem que a empresa fechou acordo nocivo à ela.

Em meados de 2022, antes da data final do contrato com a Domus, a empresa de tecnologia avisou a rede que buscava um ajuste nas condições, afirmando que teria atingido integralmente as metas de performance no contrato fechado em 2019.

As metas definiriam o preço de um resgate dos bônus de subscrição a ser pago pela Tok&Stok para a Domus.

A Tok&Stok disse que não tinha “elementos técnicos” para confirmar de imediato se as metas haviam sido cumpridas e ainda diz que se sentiu pressionada a fechar o novo contrato de 2022.

“[A rede] Não poderia aguardar o desfecho de eventual futuro litígio, pois dependia da Domus para dar seguimento aos projetos “em curso” e não “desmantelar” a operação on-line da empresa, área que era vital ao negócio naquele momento", disse na contestação.

Foi, então, acertado o montante de R$ 26,3 milhões a ser pago em 24 parcelas mensais, a primeira com vencimento em maio de 2022, e uma remuneração fixa, de R$ 5,5 milhões em dezembro, e mais R$ 32,5 milhões em dezembro de 2023.

Ainda foi acordada uma remuneração variável, mediante a emissão de novos bônus de subscrição pela rede. Neste período a empresa já sentia uma desaceleração nas vendas de produtos no varejo de móveis e decoração, em relação ao período inicial da pandemia.

Ocorre que depois que a rede já havia aceitado as condições e assinado novo acordo, e em fase de “controvérsias e insatisfação” com o serviço do parceiro, revisou as metas que teriam sido atingidas pela Domus, e entendeu que esses objetivos não foram alcançados. Interrompeu, então, os pagamentos, e começou tratativas de renegociação dos ajustes com a Domus.

Agora, com o depósito do valor em juízo, a Tok&Stok entende que não cabe mais ao Judiciário analisar o caso, que passa a ser tema para arbitragem, se não houver acordo. A juíza Clarrisa Tauk deu 15 dias para a Domus se pronunciar.

Autor(a)
Valor Econômico

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