A valorização do dólar, que rompeu ontem o patamar dos R$ 4,00 logo no início do pregão e fechou em alta de 1,84%, a R$ 4,0530, maior cotação da história do real, ameaça fazer um estrago de dezenas de bilhões de reais nos resultados do conjunto das companhias abertas do país. A moeda americana já sobe 11,73% no mês e 52,39% no ano.
Segundo Ricardo Carvalho, diretor-sênior da agência de classificação de risco Fitch Ratings, o dólar nesse patamar trará maior pressão sobre o endividamento de diversas companhias, podendo aumentar inclusive os pedidos de recuperação judicial. A combinação de geração de caixa operacional significativamente mais fraco, maior pressão das despesas financeiras e estresse de liquidez "se transforma em uma tempestade perfeita para as empresas mais endividadas", diz Carvalho.
A alta do dólar e a incerteza fiscal também impulsionam os juros futuros. Ontem, a taxa do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou no maior patamar desde o início da negociação do contrato, a 16,74%. "O mercado está demandando proteção porque não vê perspectiva de ajuste fiscal nem de curto nem de longo prazo", afirma o economista-chefe e gestor de investimentos da INVX Capital Asset, Eduardo Velho. A expectativa em relação à votação no Congresso dos vetos da presidente Dilma Rousseff às chamadas "pautas-bomba" ajudou a aumentar a apreensão no mercado