Ricardo Doebeli assumiu a presidência da Lupatech em fevereiro de 2013 com uma missão: encontrar um investidor que garantisse uma capitalização para a companhia. Mas só agora, quase dois anos depois, o executivo tem conseguido dedicar-se à essa missão. Ao entrar na Lupatech, Doebeli conta ter se deparado com um quadro muito mais difícil do que esperava. A companhia possuía R$ 1,6 bilhão em dívidas, a custo muito elevado. "O custo financeiro era maior que a geração de caixa operacional da empresa. Sem solucionar esse quadro, era impossível conseguir um novo investidor ", afirma Doebeli.
A saída encontrada, após intensa conversa com os credores, foi uma recuperação "extrajudicial" da companhia, relata. Ou seja, conseguiu-se resolver a questão do endividamento sem decretar uma recuperação judicial, uma medida drástica.
"Conseguimos fazer a reestruturação da dívida, sem brigas e sem a necessidade de ir à Justiça, com apoio de credores e acionistas, pois todos acreditam que a empresa tem um futuro pela frente", afirmou o executivo.
A Lupatech fornece equipamentos e serviços para o setor de petróleo e gás. Chegou à bolsa em 2006 e uma série de aquisições desde então, algumas delas alavancadas, e sem que a empresa tivesse êxito na integração dos vários negócios, resultaram no descontrole do endividamento, afirma Doebeli. Foram 17 aquisições num prazo de cinco anos; 14 delas antes de 2008, ano da crise financeira global, quando as perspectivas economia mudaram.
Doebeli reconhece que mesmo após a reestruturação financeira o cenário é desafiador. Não bastassem as dificuldades da companhia, que teve de rever todo o seu negócio, o setor vive momento delicada por conta da forte desvalorização dos preços do petróleo. Para completar, 80% do faturamento da Lupatech vem de contratos fechados com a Petrobras.
O executivo diz que o setor [de óleo e gás] está paralisado, com todos os seus integrantes refazendo projeções e planejamento. E o momento é de incertezas. Com relação aos negócios com Petrobras, afirma que a Lupatech fornece equipamentos para a etapa de produção da estatal; e o segmento mais afetado pela crise na petroleira é o de novos investimentos.
Sobre os pagamentos da Petrobras, informa que a Lupatech não detectou nenhuma mudança no fluxo de pagamentos, além do normal e das contínuas exigências de sempre.
É nesse momento complexo, que a Lupatech inicia o processo de busca de um investidor, que poderá ser estratégico ou financeiro, diz Doebeli.
Dentro de seu processo de reestruturação, a empresa, no ano passado, vendeu ativos, o que lhe garantiu uma recursos da ordem de US$ 24 milhões. Semana passada, anunciou a venda da controlada Jefferson Sudamericana, por mais US$ 5,7 milhões
"Apesar do cenário de crise, essa entrada de recursos nos deixa mais bem preparados para enfrentá-la", afirma o presidente. Ele destaca que a questão do endividamento, dentro das negociações extrajudiciais, foi totalmente equacionada.
A dívida de R$ 1,6 bilhão transformou-se em R$ 300 milhões - 80% com perfil de longo prazo -, depois que os credores concordaram em transformar o passivo em participação acionárias. Os acionistas, sendo BNDES, Petros e GP, os principais, foram diluídos.
"Apresentamos os cenários possíveis para a empresa se tivéssemos de ir à recuperação judicial. Nesse tipo de processo, é possível dizer que se sabe quando começa, mas nunca haverá certeza de quando e como acaba", diz. A Petrobras, principal cliente da Lupatech poderia, inclusive, cancelar contratos no caso de uma recuperação.
"Sentamos para conversar com os credores e expusemos todas as dificuldades que viriam com a recuperação. Houve disposição para conversas", afirma. Também hoje o acordo ajuda a empresa na negociação com os clientes e fornecedores, que teriam deixado de receber pagamentos no caso do processo judicial.
Do total da dívida, 44% estava nas mãos de credores internacionais, por conta de títulos emitidos pela companhia no exterior. O segundo maior grupo de credores eram debenturistas, com 31%. E o restante, R$ 200 milhões,estava com bancos, que se transformaram em acionistas.
A negociação principal foi com os donos dos bonds internacionais. Houve uma aproximação com dois grupos relevantes e ao final do processo houve aprovação de 95% dos detentores dos papéis - 5% não foram contrários, apenas não se manifestaram durante todo o processo. Eles aceitaram converter 85% dos papéis em ADRs (recibos de ações, listados em Nova York) da empresa, avaliadas a R$ 0,25, e alongar o saldo restante.
Com isso a Lupatech ganhou fôlego, embora o sucesso da renegociação não esteja refletido em suas cotações, negociadas a centavos. Existe uma pressão sobre os papéis porque há uma expectativa de que os credores internacionais possam vender as ações que receberam na conversão. Por um prazo de seis meses, que encerra em abril, eles estão impedidos de negociar as ações por conta de regras do mercado americano devido ao fato de os papéis distribuídos pela Lupatech não terem sido objeto de oferta pública.