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Atom faz 'reality show' para selecionar operadores

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"Seis milhões de reais na premiação final! O Reality Show do Mercado Financeiro está prestes a começar e você tem a chance de mudar a sua vida em suas mãos (sic), vai encarar esse desafio?"

É sob o velho mote que qualquer um pode se tornar um milionário na bolsa que a Atom vem angariando aspirantes a "traders" - ou, simplesmente operadores no bom português - pelas redes sociais. Alguns vídeos no YouTube e no Facebook, que alardeiam que qualquer pobre mortal pode fse tornar um expert em análises gráficas e ganhar dinheiro com isso, chegam a ter mais de 35 mil visualizações. Agora, a empresa está em plena campanha para a segunda edição do seu programa de seleção, aos moldes de um show televisivo, com transmissão do pregão ao vivo na etapa final, em novembro.

Na conclusão do processo, os candidatos que tiverem batido as metas de desempenho, respeitando certas regras, poderão fazer parte da equipe. Esse grupo terá à disposição um determinado capital para operar recebendo de 40% a 60% dos resultados que obtiver com suas estratégias. Os três melhores levam 100% dos lucros auferidos com a compra e venda de contratos de Ibovespa e dólar futuro por um mês.

Com 31% do capital em circulação na BM&FBovespa - sendo 7,09% nas mãos de uma gestora ligada ao grupo de controle familiar -, a Atom Participações tem origem na antiga Inepar Telecomunicações, comprada por R$ 5 milhões pela WHPH Participações no processo de recuperação judicial da tele, em oferta concluída em janeiro. A WHPH (de "work hard, play hard", trabalhe duro e jogue duro, numa tradução livre), por sua vez, foi fundada em 2014 pelos irmãos José Joaquim, de 30 anos, e Ana Carolina Paifer, de 28 anos.

Os ex-agentes autônomos lançaram em novembro, por meio da controlada Atom Traders, um simulador de investimentos para potenciais operadores, vinculado a um treinamento, que custa de R$ 212 a R$ 612. Paralelamente, a Atom Participações pefde na Justiça a sua exclusão do polo de ativos na recuperação judicial do grupo Inepar, que à época da privatização do Sistema Telebras, nos anos 90, integrou vários consórcios e também entrou sozinho no projeto Iridium, de lançamento de satélites para serviços de telecomunicações, programa que naufragou posteriormente.

Enquanto tentam resolver o impasse judicial, os jovens empreendedores têm planos ambiciosos e tentam emplacar no Brasil o conceito de mesa proprietária, já difundido em mercados maduros como o americano. Nesse modelo, a companhia só opera com capital próprio e remunera a equipe por performance. A WHPH cedeu de limite para os operadores R$ 35 milhões e como são sempre transações de "day trade", de compra e venda no mesmo dia, esse volume pode ser girado muitas vezes durante o pregão. Para dar mais eficiência a esse capital, surgiu a ideia do reality show, conta Ana Carolina. Ao longo do tempo, ela almeja atrair 30 mil operadores, que podem atuar remotamente, para a plataforma.

"O mercado hoje é completamente diferente da gritaria de 20 anos atrás, mas o que se vê é que as pessoas chegam melhor informadas, aprenderam a especulação já no mundo digital, têm afinidade com computador e com jogos", diz. Conforme quantifica, desde que lançou o simulador, cerca de 5 mil pessoas passaram pelo treinamento da Atom e 180 fdelas bateram metas, sendo qualificadas para operar com dinheiro e ativos de verdade. A WHPH investiu cerca de R$ 8 milhões na modelagem de risco, num software que faz a zeragem automática das posições quando batem em limites de perdas pré-definidos. ("stop loss").

"Assim não fico preocupada se vou perder mais dinheiro do que o que combinado", diz Ana Carolina. Uma das regras é nunca "dormir posicionado", deixando sempre o caixa em títulos públicos.

Numa primeira etapa do programa batizado como "Vida de Trader", os candidatos a uma vaga na mesa terão três semanas para comprar e vender até 50 mini contratos de dólar e de Ibovespa (que representam uma fração do lote padrão) ou até 10 contratos cheios num simulador com acesso em tempo real às cotações da BM&FBovespa. Os 50 melhores participarão de um curso intensivo de formação e um segundo filtro elegerá 10 candidatos. Em novembro, esses finalistas terão uma imersão de duas semanas na sede da empresa, em Sorocaba, negociando fativos de fato num pregão transmitido pela internet. Na mesa final, o participante não poderá perder mais que R$ 3 mil sob a pena de ser eliminado.

Como premiação, o primeiro colocado terá à disposição R$ 3 milhões para operar por um mês, ficando com 100% dos lucros, além de ganhar uma vaga na Atom para negociar 20 contratos cheios; o segundo lugar terá R$ 2 milhões e 15 contratos cheios, enquanto o terceiro leva R$ 1 milhão de limite e 10 contratos cheios.

Como a mesa só opera com capital próprio, não há exigência de certificação profissional, diz Ana Carolina. "A CVM não vê isso como captação porque o que a Atom oferece é o programa educacional, com acesso ao simulador, vídeos e 'hangouts'", afirma. "O que o trader contrata é o limite operacional". Procurada, a CVM informou que acomfpanha e analisa as informações e movimentações envolvendo as companhias abertas.

"Em princípio, o exercício de atividades educacionais e de formação do público investidor não constitui uma atuação irregular. Todavia, como a CVM habitualmente faz em situações análogas, é necessário se verificar se os serviços fornecidos não incluem atividades dependentes de autorização ou registro junto à autarquia, como por exemplo, a distribuição de valores mobiliários, a atividade de consultor, a intermediação de valores mobiliários e a administração de carteiras".

Mas por que a necessidade de ter o capital aberto, comprando a casca de uma empresa às voltas com imbróglio judicial como a Inepar? Segundo Ana Carolina, essa foi a forma encontrada para o trader participar da companhia já que nessa relação não há vínculo empregatício, mas se fprevê a bonificação por meio de ações. "Se fosse uma empresa fechada, eu teria que mudar o contrato social o tempo todo", diz. Da herança da Inepar ainda vem um prejuízo fiscal de mais de R$ 240 milhões que pode ser usado para abatimento de impostos quando a empresa voltar a ser operacional.

Pelos últimos dados financeifros, a Atom Participações tinha ao fim de junho um patrimônio negativo de R$ 8,002 milhões, tendo fechado o semestre com prejuízo de R$ 17 mil.

Autor(a)
Adriana Cotias

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