O atraso na entrega dos balanços da Agrenco é apontado pelos controladores da empresa como uma prova da ineficiência do trabalho da consultoria Íntegra na recuperação judicial. A advogada Lucia Figueiredo, representante da Agrenco Holdings, lembra que o atraso levou à suspensão, em fevereiro, dos negócios com os recibos de ação (BDR) da empresa na BM&FBovespa.
Os balanços começaram a ser arquivados na Comissão de Valores Mobiliários apenas nesta semana - estavam em atraso desde junho de 2008. A autarquia, agora, examinará os números e decidirá se os BDRs poderão voltar à negociação na bolsa brasileira.
Nelson Bastos, presidente da Íntegra, explica que os balanços não foram entregues por conta de uma expressiva mudança no patrimônio líquido da empresa identificada auditoria independente, a KPMG.
Segundo o executivo, em março de 2008, o patrimônio líquido da Agrenco Limited era de cerca de R$ 280 milhões. Três meses depois, em junho, conforme Bastos, havia passado ao negativo em R$ 460 milhões. A auditoria queria se certificar do que realmente teria acontecido e levado à perda tão relevante de patrimônio.
No entanto, naquele momento, os livros e documentos da empresa estavam apreendidos pela Polícia Federal, no âmbito da Operação Influenza. "Quando voltaram, estavam desordenados. E a KPMG levou muito tempo para organizar o material e fazer uma análise minuciosa de todos os documentos e informações possíveis", diz o consultor.
A KPMG só concluiu os trabalhos neste ano. A variação no patrimônio da empresa pode ser explicada, principalmente, por uma perda bastante substancial, de R$ 378,7 milhões, em operações realizadas com derivativos pela companhia . Quando acabou seu contrato com a empresa, que ia até a entrega do balanço de junho de 2008, a KPMG não quis renová-lo. Foi substituída pela BDO, que trabalha para entregar os números atualizados até setembro. Ressalte-se que, desde 2008, a companhia não está operando.
Do ponto de vista da holding, diz Lucia, os demonstrativos financeiros levaram 23 meses para ser entregues porque o conselho não tomou nenhuma medida eficaz para cobrar a KPMG pela conclusão do trabalho.
Bastos diz que a auditoria não podia ser trocada porque, de acordo com a legislação inglesa, que rege a Limited, o auditor só pode ser mudado se renunciar.
Autor: Ana Paula Ragazzi
Fonte: Valor Econômico (16/07/2010)