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Aversão ao risco abate preços de bônus brasileiros

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O mau humor generalizado do mercado global com títulos da dívida corporativa atingiu os papéis de emissores brasileiros. Os investidores globais estão receosos com a possibilidade de piora na recuperação econômica americana, menor crescimento da China, lentidão na evolução da economia europeia e por isso estão se desfazendo de bônus e derrubando o preços dos ativos.

No caso dos bônus brasileiros, a demora na execução do ajuste fiscal, a piora dos indicadores econômicos e a abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff agravaram esse movimento. A pressão adicional decorre da percepção de que o risco Brasil exige um prêmio maior para se carregar os ativos. Para se ter uma ideia, o CDS, um derivativo de crédito que é uma espécie de seguro contra calote, neste ano já subiu 137%, saindo de 200 pontos para 474 pontos, ontem.

Os ativos mais afetados têm sido os de empresas que têm o governo federal como parte do controle acionário, como Banco do Brasil (BB) e Caixa, que sofreram com respingos da crise política. A Petrobras também registrou queda no preço dos seus bônus, mas boa parte do ajuste para baixo ocorreu após as denúncias de que diretores da empresa estariam envolvidos no pagamento de propina em contratos da estatal. "Infelizmente, hoje praticamente todos os bônus de empresas brasileiras são considerados "high yield", diz Carlos Gribel, chefe de renda fixa da corretora Andbanc Brokerage, em Miami.

Os títulos do Banco do Brasil, com vencimento em 2023, caíram 12% desde o início do ano e eram negociados a 89% do valor de face. Já os papéis emitidos pela Caixa, que vencem em 2022, valiam 80,99% do valor de face, com baixa de 8,22% desde o começo do ano. Os títulos de outros segmentos também estão em queda. "Setores ligados a commodities e energia, em geral, estão sofrendo com a baixa no preço da matéria-prima", diz Samuel Canineu, vice-presidente para a área de empréstimos para as Américas no ING.

Os bônus emitidos pela mineradora Vale que vencem em 2022 tiveram baixa de 17,90% desde o início do ano. A Vale junto com a mineradora anglo-australiana BHP Billiton são donas da Samarco, segunda maior produtora mundial de pelotas do mundo. Em novembro, duas barragens da Samarco se romperam, em Minas Gerais, interrompendo a produção e causando danos ambientais para a região. Em meio às dúvidas sobre a recuperação da companhia, os bônus com vencimento em 2024 da Samarco já acumulam queda de 56% neste ano.

Os títulos da dívida emitidos pelas construtoras envolvidas na Operação Lava-Jato também têm registrado baixa nos preços. Os títulos perpétuos da Odebrecht caíram 60,37% desde o início do ano e estavam cotados a 21% do valor de face. Os papéis emitidos pela OAS Engenharia, também perpétuos, eram negociados a 7,4% do valor de face, com recuo de 37% desde o início do ano. Mas a expectativa é que essa queda seja revertida no longo prazo e o preço desses bônus se recupere.

O Grupo OAS entrou com pedido de recuperação judicial junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo. "A Odebrecht tem uma situação menos complicada e a companhia tem uma situação financeira mais saudável", diz Gribel. São companhias que devem sobreviver à crise, ficando menores do que já eram e por isso pagando mais juros quando voltarem a emitir bônus.

Depois de registrar queda durante o ano, os bônus da Construtora Andrade Gutierrez, com vencimento em 2018, estão em alta de 15%. A reversão na tendência de baixa dos preços ocorreu depois que executivos da empresa fizeram acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República, em Brasília, e a força-tarefa de procuradores que atua em Curitiba. É a mesma situação da Construtora Queiroz Galvão, que após anunciar acordo de delação premiada, viu os preços dos bônus, que vencem em 2019, subirem 14%.

No segmento financeiro, os bônus do Itaú Unibanco, com vencimento em 2023, que são os mais líquidos entre os títulos corporativos brasileiros, estão em baixa de 9,6% no ano, cotados a 89% do valor de face. Essa variação de preço mostra os respingos das incertezas globais e políticas no preço de um papel que é considerado grau de investimento. "Quando os investidores institucionais querem apostar no setor corporativo brasileiro eles compram ou vendem este bônus, o que justifica a oscilação dos preços", afirma um executivo do mercado de renda fixa. Ainda no setor financeiro, os bônus do BTG Pactual, com vencimento em 2022, um dos mais negociados no mercado, registram queda no preço de 49,3% no ano, refletindo a aversão geral do investidor a riscos e também à prisão do ex-controlador André Esteves.

Em meio à baixa generalizada dos preços dos bônus brasileiros, alguns fundos de investimento globais já consideram comprar os papéis, apostando em uma valorização futura. "Os fundos querem aproveitar as oportunidades do mercado e há empresas com bons riscos de crédito e preços baixos", diz Marcelo Lima, vice-presidente de renda fixa da INTL FCStone, em Miami.

Autor(a)
Chrystiane Silva

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