A Avianca Brasil, quarta maior companhia aérea do país, cujos ativos devem ser leiloados no dia 7 de maio, como parte do processo de recuperação judicial, ampliou ontem a lista de voos cancelados, para mais de 300, em pleno feriado prolongado da Semana Santa.
Gol e Latam estão abrigando os passageiros, conforme disponibilidade de assentos. Mas a Azul, que nas últimas semanas recebeu mais de 2 mil clientes da Avianca em seus aviões, não está mais disponível, disse uma fonte.
A Avianca já havia cancelado 179 voos para o período de sábado passado até amanhã. Ontem, o número de cancelamentos foi ampliado, considerando o intervalo de quinta-feira até o próximo sábado. Serão mais de 300, no total.
Em recuperação judicial, aérea dos irmãos Efromovich deverá ter ativos leiloados em 7 de maio
A Avianca está cancelando voos pois sua frota está encolhendo. Como a empresa não está conseguindo pagar o que deve às companhias de leasing, estas, que são as donas dos aviões, confiscam as aeronaves. A estimativa é que a frota da Avianca Brasil, que era de 35 aviões na sexta-feira, encolha para 20 nesta semana.
Consultada, a Latam informou que "está reacomodando os passageiros da Avianca de acordo com a disponibilidade de seus voos". A Gol também está transportando os clientes da Avianca quando há assentos disponíveis. "Esta dinâmica não impacta a operação da Gol", afirmou a companhia, em nota.
Latam e Gol assinaram um acordo com o fundo americano Elliott, maior credor da Avianca, que possibilitou o desenho do plano de recuperação judicial em andamento. Este foi aprovado no dia 5 de abril em assembleia de credores e homologado pela Justiça uma semana depois.
Antes de fechar com Gol e Latam, o fundo, credor de US$ 515 milhões da Avianca, procurou a Azul. Em março, esta tinha concordado em participar de leilão para comprar ativos da companhia, no plano criado pela consultoria Galeazzi para a Avianca. Para apoiar essa proposta, o Elliott pediu uma garantia: um pagamento antecipado de US$ 90 milhões. Segundo fontes, a Azul não aceitou.
O interesse principal da Azul era aumentar sua presença no aeroporto de Congonhas (SP), dominado por Latam e Gol. A ponte aérea entre Rio e São Paulo, em especial, havia despertado seu interesse. Mas, sem o apoio do Elliott, a estratégia da Azul naufragou.
O plano já homologado pela Justiça prevê o fatiamento da Avianca em sete empresas (Unidades produtivas isoladas, ou UPI), sendo que seis conterão apenas "slots" dos aeroportos de Congonhas, Guarulhos e Galeão, e uma unidade englobará os ativos do programa de fidelidade Amigo.
Gol e Latam se propuseram a fazer uma oferta no leilão de pelo menos US$ 70 milhões por duas UPIs cada uma. A Gol fará a oferta pela empresa A, que reúne 10 slots em Congonhas, 10 em Guarulhos e 6 em Santos Dumont. A Latam, por sua vez, vai fazer proposta pela empresa B, que tem 13 slots em Guarulhos, 8 em Congonhas e 4 em Santos Dumont.
Cada uma se comprometeu a fazer empréstimos DIP (sigla para "Debtor In Possession", empréstimo com caráter de investimento prévio) para a Avianca. Gol e Latam fizeram, cada uma, um empréstimo no dia 9 de abril, de US$ 5 milhões, e farão outro hoje, no valor de US$ 3 milhões. As duas aéreas também se comprometeram a comprar do Elliott dois empréstimos DIP feitos à Avianca, no valor de US$ 5 milhões cada um.
Além disso, se comprometeram em contrato a pagar, cada uma, US$ 35 milhões ao Elliott, divididos em quatro parcelas mensais, pagas entre abril e julho, no valor de US$ 8,75 milhões cada. Trata-se de uma antecipação ao Elliott da quantia a ser arrecadada no leilão das UPIs e será descontada do preço que Gol e Latam pagarão pelas UPIs, caso consigam fazer os arremates no leilão.
A proposta abraçada pela Azul previa a criação de uma UPI, que teria até 28 aviões, 70 pares de direitos de pousos e decolagens ("slots") e a transferência de parte dos funcionários da Avianca Brasil. A Azul estava disposta a pagar US$ 105 milhões, para comprar a UPI.
Essa empresa iria a leilão. A Azul, se vencesse o leilão, faria um aporte na UPI de US$ 130 milhões. A Azul também se comprometeu a fazer um empréstimo-ponte à Avianca, entre US$ 20 milhões e US$ 40 milhões. Esse valor funcionaria como um adiantamento pela UPI. Se perdesse o leilão, a empresa vencedora devolveria esse valor à Azul. Esta chegou a emprestar à Avianca US$ 13 milhões.
O juiz Tiago Limongi, da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, aprovou ontem a minuta do edital de oferta pública das UPIs que serão criadas pela Avianca. O leilão será realizado no dia 7 de maio e será feito por lances orais para cada UPI.
16/04/2019