Resultados no quarto trimestre de 2015 abaixo do esperado, provisionamento de R$ 390 milhões por conta do pedido de recuperação judicial da companhia aérea Republic Airways - uma de suas grandes clientes - e projeções mais tímidas para 2016 afetaram as ações da Embraer e os papéis da fabricante de aviões caíram no Brasil e nos Estados Unidos. O papel da empresa fechou ontem em queda de 13,98%, cotado a R$ 25,03 na BM&FBovespa. Os recibos de ações (ADRs) caíram 11,86% em Nova York, cotados a US$ 26,24.
O lucro no quarto trimestre subiu 76%, para R$ 425,8 milhões. A receita registrou avanço de 52,2%, para R$ 8 bilhões, resultado principalmente do efeito cambial, com valorização de 51% do dólar na comparação anual. No acumulado de 2015, o lucro foi de R$ 241,6 milhões, queda de 69,6% em relação a 2014. A receita subiu 35,9% em 2015, para R$ 20,3 bilhões.
Em relatórios, BTG Pactual, Morgan Stanley e Bradesco BBI reforçaram a leitura negativa sobre os dados divulgados pela Embraer. No caso do BTG, a avaliação é de que, embora o balanço do quarto trimestre tenha vindo "relativamente em linha" com as estimativas, o resultado foi "decepcionante". O Morgan Stanley criticou em especial a projeção de 8% a 8,5% para a margem Ebit consolidada para este ano; a instituição estimava uma margem de 10,4%.
A Embraer informou que projeta receita entre US$ 6 bilhões e US$ 6,4 bilhões em 2016 e investimento total de US$ 650 milhões, dos quais US$ 275 milhões são em "capex" (investimento em capital fixo) - aumento de 11,6% em relação ao capex total US$ 246,3 milhões (R$ 820,1 milhões) de 2015.
O Bradesco BBI vê as vendas de jatos comerciais pressionadas, pois além de considerar o atual mercado de usados robusto, a queda nos preços de combustível deve dificultar a renovação de frota, uma vez que o principal atrativo dos aviões novos é a eficiência de consumo.
Na área de defesa e segurança, o vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Embraer, José Antônio Filippo, disse que em dezembro de 2015 o valor total dos recebíveis relacionados aos programas com a Força Aérea Brasileira (FAB) totalizava R$ 1,368 bilhão. A FAB não comentou sobre o valor devido.
Em nota, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (Cecomsaer) informou ao Valor que os recursos para o pagamento dos programas de aquisição e modernização de aeronaves estão sendo disponibilizados dentro das possibilidades do orçamento do governo federal.
A participação da defesa na receita da Embraer que era de 17,4% no quarto trimestre de 2014, caiu para 9,7% no mesmo período de 2015. Já no ano, o segmento de defesa respondeu por 13,3%, bem abaixo dos 22,9% de 2014.
A Embraer registrou ainda uma provisão de R$ 390,6 milhões no quarto trimestre de 2015, por conta do pedido de recuperação judicial da americana Republic Airways, anunciado na semana passada. Ao fim do quarto trimestre, havia um total de 28 aeronaves E175 na carteira de pedidos firmes da Embraer, relacionadas à Republic. Em 25 de fevereiro de 2016, data do pedido de recuperação judicial da americana, a carteira de E175 havia diminuído para 24 aeronaves, programadas para serem entregues entre 2016 e 2017.
Em teleconferência para a imprensa, Filippo indicou que a provisão pode ser alterada "para mais ou para menos" de acordo com os próximos passos das negociações da companhia aérea com seus credores. O presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado, disse que a Embraer está muito confiante de que as aeronaves da Republic Airways serão entregues conforme programação, independentemente do processo de recuperação judicial da companhia americana.
"Acreditamos piamente que elas serão entregues. A United Airlines tem grande necessidade dessas aeronaves", disse Curado em teleconferência com analistas. A Republic Airways opera com jatos regionais em voos nos Estados Unidos, Canadá e Bahamas, sob as marcas de outras companhias como Delta, United e American Airlines.