A Usina São Fernando, controlada pelos filhos do empresário José Carlos Bumlai - que chegou a ser preso no âmbito da Operação Lava-Jato, mas atualmente recorre da decisão em liberdade -, teve seu plano de recuperação judicial rejeitado pelo Banco do Brasil e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As instituições estatais estão no grupo dos credores que têm garantias reais e têm créditos concursais a receber - e, por isso, têm poder para tentar barrar o plano.
O BNP Paribas está no grupo e também rejeitou o plano na assembleia realizada na noite de quinta-feira. Fontes que acompanham esse mercado e já participaram de outros processos de recuperação acreditam que, sobretudo no caso dos bancos estatais, pesou negativamente o fato de José Carlos Bumlai ter sido condenado em primeira instância na Lava-Jato.
"A repercussão fatalmente seria negativa, mesmo que as condições do plano apresentado não sejam, aparentemente, desfavoráveis tendo em vista que se trata de uma recuperação judicial", afirmou uma fonte. Procurado pelo Valor, o Banco do Brasil respondeu, em nota enviada por sua assessoria de imprensa, que "os encaminhamentos sobre a recuperação judicial da Usina São Fernando são decididos em assembleia com a participação de todos os credores, não cabendo ao banco se manifestar ao público por conta de sigilo comercial". O BNDES preferiu não se pronunciar até o fechamento desta edição.
Com um endividamento total nominal de R$ 1,3 bilhão, o plano prevê uma redução para R$ 950 milhões, a partir de descontos nos valores a serem pagos a credores sem garantia real. Desse valor nominal remanescente, R$ 530 milhões são devidos aos bancos, que receberiam 16% de suas respectivas fatias à vista e o restante em 20 anos, corrigido pela TJLP e mais 1,4% ao ano. Para arcar com esses pagamentos, a ideia é vender a usina, localizada em Dourados, em Mato Grosso do Sul.
Essa venda é ponto nevrálgico do plano formatado pela consultoria EXM Partners. A Amerra, gestora americana de fundos, manifestou interesse em comprar a usina, mas hoje não é mais a única postulante. O Valor apurou com uma fonte que um empresário "pessoa física" também entrou no páreo - a reportagem não conseguiu identificar qual. Na assembleia de quinta-feira foi proposta, então, a realização de uma leilão para definir o comprador, mas a ideia foi rechaçada pelos bancos estatais, já que o acerto prévio com um comprador torna mais fácil o processo.
De acordo com Wendel Caleffi, sócio da EXM, agora o impasse terá que ser resolvido pela Justiça, que poderá manter o plano como está, apesar da resistência dos bancos, ou pedir que um novo plano seja apresentado. Esse trâmite deverá demorar algumas semanas. De qualquer forma, Caleffi afirmou que a EXM vai insistir na realização de um leilão da usina caso haja mesmo mais de um interessado.
E EXM informou, ainda, que a Usina São Fernando, que tem cerca de 1,2 mil funcionários, continua operando normalmente.