Com o agravamento da crise econômica e da alta da inadimplência e dos pedidos de recuperação judicial, o Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) decidiu reduzir a exposição a empresas de maior porte, com faturamento acima de R$ 300 milhões, e ser mais seletivo no financiamento a companhias pequenas e médias. Ao mesmo tempo, o banco espera conceder mais financiamentos a pessoas físicas, em linhas como o crédito consignado para o setor público, menos afetadas pelo ciclo econômico.
"Como enxergamos que o atual cenário deve persistir, decidimos limitar a exposição aos clientes de maior porte e exigir mais garantias nas operações com as demais empresas", afirma Ricardo Hingel, diretor financeiro e de relações com investidores do Banrisul. O banco controlado pelo governo gaúcho registrou lucro líquido de R$ 201,5 milhões no segundo trimestre, 4,5% acima dos R$ 192,9 milhões do mesmo período do ano passado.
O banco passou a projetar uma retração expressiva de 15% a 19% na carteira de crédito para pessoas jurídicas neste ano. A estimativa anterior variava entre estabilidade e um crescimento de 4%. O saldo de financiamentos a empresas encerrou junho em R$ 8,338 bilhões, o que representa queda de 5,5% em relação ao primeiro trimestre e de 11,7% em 12 meses.
A carteira de crédito total do banco atingiu R$ 29,8 bilhões no segundo trimestre, redução de 5% na comparação com março e de 4,2% ante junho do ano passado. A estimativa para o ano, que variava entre estabilidade e uma alta de 4%, foi revisada e passou a contemplar uma queda de até 4%.
A redução nos financiamentos a empresas deve ser parcialmente compensada pelas linhas voltadas a pessoas físicas. O banco elevou suas projeções e espera terminar o ano com uma expansão de 4% a 8% nessa carteira. Os empréstimos consignados para o setor público representam aproximadamente 70% do crédito a pessoas físicas do Banrisul. "São linhas menos sensíveis ao ambiente econômico", diz Hingel. No segundo trimestre, o banco fechou a compra de uma carteira de R$ 400 milhões em créditos consignados de outra instituição, cujo nome não foi revelado. A operação foi realizada com recursos do depósito compulsório, sem efeito no caixa do banco, segundo o diretor.
O índice de atrasos acima de 90 dias na carteira do Banrisul era de 4,81% em junho. Apesar da alta de 1,07 ponto em 12 meses, houve uma pequena redução de 0,07 ponto na comparação trimestral. As despesas de provisão contra calotes também apresentaram sinais de melhora, com uma redução de 27,4% em relação aos três primeiros meses do ano. "Nos próximos trimestres, as despesas devem ficar no patamar do segundo", afirma. A melhora efetiva nas condições de crédito, contudo, só deve começar no ano que vem, segundo Hingel.
O Banrisul reduziu a estimativa para o retorno sobre o patrimônio líquido em 2016 para um intervalo de 11% a 15%. O banco esperava anteriormente obter uma rentabilidade entre 14% e 17%. A revisão está relacionada à compra da folha de servidores do Estado do Rio Grande do Sul, pela qual o banco pagou R$ 1,250 bilhão. A nova projeção é conservadora e considera que o Banrisul não conseguirá neutralizar neste ano a despesa inicial que a instituição teve com o negócio, segundo Hingel. No segundo trimestre, o retorno do Banrisul foi de 13,2%, ante 14% no mesmo período do ano passado.