O novo presidente do Banco do Brasil (BB), Paulo Caffarelli, levou menos de 30 segundos para cravar a primeira meta de sua gestão, durante a entrevista que concedeu para explicar os resultados do banco no segundo trimestre: retomar um patamar de retorno sobre capital comparável a de seus pares privados.
O caminho até lá, porém, deve ser longo. Entre março e junho, a rentabilidade ajustada do banco foi de 7,7% - ante 14,2% um ano antes. Já Bradesco e Itaú Unibanco apresentaram um retorno de 19% em média a seus acionistas.
A queda na rentabilidade do banco público em 2016 veio dos gastos que teve que realizar para fazer frente a calotes, em especial o da fabricante de sondas de exploração do pré-sal Sete Brasil. O BB teve um lucro líquido ajustado de R$ 1,801 bilhão no segundo trimestre, queda de 40,8% ante igual período de 2015. A expectativa de analistas compilada pelo Valor era de um lucro de R$ 1,95 bilhão, queda de 35,8%. No período, o BB gastou R$ 8,277 bilhões com provisões para créditos duvidosos, com alta de 59,5% em 12 meses.
A julgar pelo desempenho das ações do BB, porém, os investidores deram um voto de confiança ao novo comando do banco e preferiram apostar que o pior ficou para trás. As ações do banco chegaram a liderar as altas do pregão de ontem e fecharam com ganho de 5,65%.
Caffarelli também se empenhou em reforçar a mensagem de dias melhores à frente. O executivo prometeu queda nas despesas com provisão na segunda metade do ano, assim como a manutenção do forte ritmo de crescimento da margem financeira bruta do banco. A margem bruta do banco, antes das provisões, subiu 17,5% ante o mesmo período do ano passado, para R$ 12,46 bilhões, puxada pelo aumento das taxas de juros das operações de crédito e queda no custo de captação. Tanto que o BB aumentou a previsão de crescimento da margem para este ano - de 7% a 11% para 11% a 15%.
A margem cresceu mesmo com a queda na carteira de crédito ampliada do banco, aquela que inclui avais e fianças. O portfólio encerrou o trimestre em R$ 751,207 bilhões, recuo de 1,2% na comparação com junho do ano passado e de 3,1% em relação a março.
O BB também chamou atenção para o fato de que os números do segundo trimestre já foram melhores que os do primeiro. O lucro ajustado, por exemplo, cresceu 40% entre abril e junho na comparação com os três meses imediatamente anteriores. Já as despesas de provisão para devedores duvidosos caíram 9,5% em igual comparação. Para Caffarelli, essa é "indicação forte de melhoria de cenário".
O executivo não quis estimar quanto tempo a rentabilidade do banco vai levar para se igualar à dos pares privados. Para 2016, o banco espera atingir entre 9% a 12% de retorno, ante os 7,7% atuais, meta que analistas do Goldman Sachs consideram "ambiciosa".
A inadimplência do banco público subiu no trimestre, reflexo do calote da Sete Brasil. O índice de atrasos acima de 90 dias aumentou para 3,27%, ante 2,60% em março último e de 1,89% em junho do ano passado. O indicador de atrasos de curto prazo, porém, melhorou. A inadimplência entre 15 a 90 dias do banco caiu de 2,24% no primeiro trimestre para 1,64% no segundo.
Segundo Caffarelli, o "caso específico" que levou ao aumento da inadimplência está 100% provisionado e será baixado para prejuízo até o fim do ano, deixando de contar no índice de inadimplência. Sem esse caso, a inadimplência acima de 90 dias do BB teria sido de 2,85%.
Ainda assim, a qualidade de ativos do banco chamou atenção de analistas. Um dado em particular foi destacado: o BB encerrou junho com um saldo zerado de provisões adicionais, aquelas que o banco constitui além do que determina o regulador. Em março, o banco tinha R$ 1,2 bilhão em provisões adicionais. Em junho, essas provisões extras estavam zeradas.
Caffarelli disse que o banco não conta com a possibilidade de ocorrer um novo grande problema envolvendo clientes corporativos neste momento. No entanto, disse que a instituição tem sido "proativa em resolver situações" de empresas com problemas de endividamento. Walter Malieni, vice-presidente de gestão de riscos, afirmou que os mesmos critérios técnicos que o banco usou para determinar a constituição de provisão adicional no passado agora indicam que ela não é mais necessária.
Outro grande pedido de recuperação judicial do trimestre, o da operadora de telefonia Oi, teve efeitos menos claros sobre o balanço. Segundo Malieni, todas as recuperações judiciais são classificadas, no mínimo, de forma a exigir 30% de provisão. Ele não comenta o caso específico da Oi. No segundo trimestre, o saldo de operações que o banco classifica em "E", que exige 30% de provisão, subiu 50,8% ante março, a R$ 7,12 bilhões.
Caffarelli também endereçou outra preocupação frequente de investidores: os indicadores de capitalização do banco. Ele voltou a reiterar que o banco atingirá 9,5% de capital principal no início de 2019 - ante os 8,4% atuais - sem precisar de aportes do Tesouro. Na lista de estratégias que adotará está a venda de ativos. Por ora, porém, o único caso concreto em estudo no momento é uma oferta de ações do Banco Patagonia, da Argentina. Com a possibilidade de vender o Patagonia em vista, o projeto de internacionalização do BB foi para segundo plano. "O BB tende a ser um banco internacional, mas o foco agora é rentabilizar a operação no Brasil", disse.