O presidente do conselho de administração do BTG Pactual, Persio Arida, avaliou que a instituição perdeu dinheiro nos negócios feitos com o governo, mas conseguiu sobreviver à crise que ocorreu após a prisão de seu fundador, o banqueiro André Esteves, por suspeita de obstrução à Justiça no âmbito da Operação Lava-Jato, em novembro.
"Em todos os negócios do BTG com o governo, se perdeu dinheiro, sem exceção", disse Arida, após palestra na Universidade de Chicago em evento organizado pela Associação de Estudantes Brasileiros no Exterior (BRASA) no fim de semana. Ele não quis comentar a respeito da prisão de Esteves ou fazer avaliações sobre eventuais equívocos da Justiça.
Um pouco antes, durante a sua apresentação, Arida foi questionado sobre a corrida bancária após a prisão de seu fundador. "Enfrentamos enorme crise de liquidez e fomos muito bem", respondeu. "O BTG tem estrutura de ativos e qualidade de capital humano."
O economista, que presidiu o Banco Central e foi um dos formuladores do Plano Real, fez uma avaliação sobre processos que ameaçam bancos.
"As corridas bancárias são invariavelmente fatais", disse Arida, ressaltando que algumas instituições podem ir à falência em duas semanas. Ele citou que o Unibanco sofreu uma corrida bancária no passado que foi estancada rapidamente com a fusão com o Itaú.
Em seguida, Arida disse que, no Brasil, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, o Banco Central "não pode simplesmente dar dinheiro para o banco para que ele possa enfrentar o problema de liquidez".
Arida disse que, em casos como esse, é importante a velocidade nas respostas e ter ativos bons para vender aos credores. Outro fator importante, para ele, foi a organização interna para enfrentar a questão. Segundo Arida, não foi sequer preciso fazer reunião de diretoria para decidir o que fazer no BTG, pois todos já sabiam a estratégia a ser seguida. "Eu não precisei fazer reunião nenhuma. Eu falei: 'vamos fazer o óbvio'."
Para reforçar o caixa, o BTG vendeu uma série de ativos. Na sexta-feira, anunciou a segregação das atividades de trading de commodities, que passarão a operar sob a marca Engelhart Commodities Trading Partners. A nova empresa nascerá com US$ 5,7 bilhões em ativos e terá sede em Luxemburgo.
A separação faz parte dos esforços para simplificar o balanço patrimonial e, uma vez finalizada, em conjunto com a conclusão da venda já anunciada do suíço BSI, deverá incrementar em 5% o índice de Basileia do BTG. Apenas as operações desenvolvidas pela mesa de trading de energia do Brasil não serão segregadas.
A intenção é entregar aproximadamente 65% da participação na Engelhart CTP aos acionistas do BTG Pactual. A estrutura estudada prevê que os acionistas do BTG possam receber, na mesma proporção de suas participações atuais indiretas na Engelhart CTP, uma participação direta na nova empresa ou units do BTG.
Quando concluída, não deverá ser mais exigido que o banco consolide ativos e passivos da Engelhart CTP e sua participação será reconhecida como investimento em empresa assemelhada.
"Espera-se que a segregação permita a otimização da estrutura de capital da plataforma de commodities, bem como permita a exploração de seus negócios de forma independente, de modo compatível com a de seus principais concorrentes, incluindo a possibilidade de operar com um perfil de risco de crédito global mais adequado", informou o BTG.
Na apresentação em Chicago, Arida avaliou que a recessão atual não pode ser atribuída a fatores como a queda das commodities ou o recuo empresarial decorrente da Lava-Jato. Ele prevê recessão de 4,4% no PIB e ressaltou que essa queda inédita em dois anos é fruto da adoção de políticas equivocadas como o congelamento do preço da gasolina e a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, pela Petrobras. Outro problema foi financiar o pré-sal exclusivamente pela economia nacional. (Colaborou Aline Oyamada)