Passados seis meses desde que assumiu o comando Cemig, Cledorvino Belini já implementou mudanças importantes na estatal mineira, como uma redução de 25% em cargos de gerência e superintendência. No total, os esforços com foco em maior eficiência operacional e corte de custos devem resultar na economia anual de R$ 300 milhões a partir do ano que vem. Mesmo sem a "urgência" do passado, a companhia mantém seu plano de desinvestimentos, agora com o objetivo de reduzir ainda mais seu endividamento.
"Antes, havia um viés de liquidez, já que a companhia precisava desinvestir para honrar compromissos", disse Daniel Faria Costa, diretor de novos negócios da companhia, em entrevista coletiva concedida na sexta-feira para falar sobre os resultados do segundo trimestre do ano. Hoje, a Cemig está em situação financeira significativamente melhor, sem pressões de curto prazo e com dívida alongada. "Isso tirou um pouco a pressão da necessidade de liquidez", disse o executivo.
Em 2017, quando a Cemig lançou o plano de venda de ativos, a relação entre dívida líquida e Ebitda (sigla em inglês para resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da companhia estava em 3,52 vezes. Ao fim de junho deste ano, a alavancagem caiu para 2,82 vezes, trajetória que deve continuar nos próximos meses, de acordo com executivos da elétrica.
"Estamos preparando uma nova Cemig, com ações para valorizar a companhia e prepará-la para ser tão eficiente quanto uma empresa privada", disse Belini.
O foco do programa de venda de ativos mudou, e passou a ser desonerar a companhia. "É positivo desonerar o balanço de ativos que não têm o retorno esperado, ou que drenam capital da companhia, ao mesmo tempo em que podemos desalavancar dívidas em tese mais caras que o retorno que se obtém com o investimento", disse Costa.
Entre os ativos "na fila" de desinvestimento, ele destacou a Renova, que está em processo de venda do complexo eólico Alto Sertão III para a AES Tietê. Com os atrasos causados por questões "precedentes", a Cemig fez uma provisão de R$ 688 milhões no balanço do segundo trimestre, referente a créditos que tem a receber da investida no futuro.
"Não há cenário de perda de R$ 688 milhões, mas a empresa já fez a provisão demonstrando ao mercado seu conservadorismo", disse Mauricio Fernandes, diretor financeiro e de relações com investidores da Cemig. Isso ocorreu porque as perspectivas de recebimento dos créditos da Renova estão "deterioradas".
A Cemig não descarta, contudo, a chance de reverter parte dessa provisão no futuro, caso a reestruturação da Renova dê certo. Hoje, a geradora aguarda o aval da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para concluir a venda do complexo eólico para a AES Tietê. A agência reguladora tem questionado o preço dos contratos que lastreiam a operação. "Tivemos um trabalho intenso para demonstrar para a Aneel o racional dos preços praticados e também que não há prejuízo aos consumidores do sistema em função dos preços. A tese foi muito bem recebida e aguardamos nova manifestação da AES sobre isso", disse Costa.
Também estão na fila para desinvestimentos as participações da Cemig nas hidrelétricas de Belo Monte e Santo Antonio. No caso dessa última, a recuperação judicial da Odebrecht, que também é sócia do ativo, pode atrasar a operação, segundo Costa.
19/08/2019