Para consultor, a venda dos ativos é a saída para grande parte das empresas em crise, mas empresários resistem a "largar o osso"
Para as companhias que enfrentam crises financeiras mais graves, vender a empresa é quase sempre a melhor e única saída, pelo menos do ponto de vista de seus credores. O especialista em “turnaround” (recuperação) e consultor da KPMG, Salvatore Milanese, avalia que o fracasso de muitos processos de saneamento financeiro de empresas deve-se justamente à tentativa dos controladores de manter-se à frente dos negócios, “sem largar o osso”, buscando apenas postergar suas dívidas.
“Pelo menos entre 30% e 40% das empresas que tiveram seus planos de recuperação aprovados pela Justiça e pelos credores não conseguem cumprir com o programa proposto”, diz Milanese. Mas, em muitos casos, por falta de perspectivas, os credores levam adiante o processo, sem requerer a falência, explica.
Essa protelação explica porque ainda são poucos os casos de empresas que recorreram à Justiça e vieram, mais tarde, a pedir falência. Só 5% das recuperações judiciais aprovadas pelos credores resultaram na quebra da companhia desde que esse instrumento foi aprovado pela legislação brasileira, em 2005.
“A ênfase que deve ser dada aos processos de recuperação deve ser a venda dos ativos, seja imediatamente ou depois da implementação de um novo plano de gestão”, avalia Milanese. “O primeiro passo é vender o que a empresa tem de bom”, acrescenta.
Essa é a fórmula, segundo ele, que foi seguida nos planos de recuperação mais bem-sucedidos, como a da empresa de laticínios Parmalat e da empresa de biocombustíveis Infinity Bioenergy. Para que um plano dê certo, os antigos controladores precisam abrir mão da gestão da empresa e se propor a se desfazer de seus negócios para quitar seus credores, mas o que esbarra muitas vezes em seus interesses.
Uma análise dos processos de recuperação mais problemáticos mostra que os erros cometidos são: o não afastamento dos antigos gestores, a ênfase apenas nos aspectos jurídicos e na renegociação dos passivos, bem como a falta de um plano que considere a venda da companhia.
Entre os setores que registram os processos mais críticos de recuperação judicial estão os frigoríficos e as usinas de açúcar e álcool.
Atraso na aprovação de planos
Em 2009, devido à crise econômica mundial, 670 empresas entraram com pedido recuperação judicial no Brasil, um número recorde. Muitos desses pedidos, porém, não foram aprovados. E, entre os que receberam o sinal verde dos credores e da Justiça, uma boa parte só obteve a aprovação em 2010 (veja gráfico abaixo). No ano passado, 215 planos de recuperação foram implementados, mais do que o dobro do que os 101 processos aprovados pelos credores e pela Justiça em 2009.
A elevação dos juros, na avaliação de Milanese, deve fazer com o que cenário fique mais difícil para algumas empresas neste ano, principalmente as de menor porte, qoe tende a aumentar o número de pedidos de recuperação. A sobrevalorização do real é outro fator que deve continuar castigando alguns setores que exportam, como frigoríficos.
Recuperações judiciais
Pedidos voltam a crescer no fim de 2010
Autor: Claudia Facchini
Fonte: http://economia.ig.com.br (01/02/2010)