A fabricante de aerogeradores para energia eólica Wind Power Energia (WPE), controlada da Impsa, do grupo argentino Pescarmona, entrou com pedido de recuperação judicial na comarca do Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. O objetivo é equacionar a dívida de R$ 2,3 bilhões.
A ação foi apresentada em 5 de dezembro, na quarta vara cível da cidade pernambucana, conforme adiantou o Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor. A WPE, que tem duas fábricas no distrito industrial e portuário de Suape, uma delas de aerogeradores inaugurada em 2009, vinha enfrentando dificuldades financeiras há algum tempo e foi alvo de pedido de falência de credores. Devido à dificuldades de caixa e à queda de pedidos para 2015, recentemente demitiu 250 funcionários dos 1,1 mil que tem em Suape, afirmou Luís Pescarmona, presidente da WPE.
Segundo ele, a empresa deverá vender parte de seus parques eólicos em Santa Catarina e Ceará para ajudar no plano de saneamento financeiro. Esses parques, com capacidade instalada de 470 MW já em operação, podem valer pelo menos R$ 800 milhões.
A WPE atua na fabricação de aerogeradores para energia eólica e também turbinas de geração hidrelétrica. A empresa também controla, com 55% do capital, a Energimp, dona dos dois parques eólicos. Sua sócia no empreendimento é o fundo FI-FGTS.
"Nossa intenção é ter um tempo de tranquilidade para propor um plano de recuperação com nossos credores - bancos e fornecedores - e clientes", disse Pescarmona. Da dívida de R$ 2,3 bilhões, cerca de 80% são com bancos, como Bradesco e Banco do Brasil, além de um bônus emitido no exterior de US$ 390 milhões e um financiamento de US$ 150 milhões com Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Para o empresário, a recuperação judicial mostrou-se inevitável diante do agravamento da situação de caixa da companhia, com falta de pagamento da energia gerada em alguns de seus parques e de problemas conjunturais que têm afetado a indústria de bens de capital no Brasil.
Segundo Pescarmona, nos últimos oito anos a WPE investiu pesado no setor de energia eólica. Nas fábricas foram aplicados R$ 300 milhões e nos parques eólicos de Santa Catarina, R$ 1,3 bilhão. O maior projeto de Santa Catarina, diz, foi feito dentro do programa de fomento Proinfra (do governo federal, para estímulo ao setor, que ficou sob a gestão da Eletrobras). Iniciou operação em 2011.
O descasamento de fluxo de caixa da WPE, afirmou, foi agravado com a suspensão dos pagamentos pela energia gerada em Santa Catarina, entre 2011 e 2013, por parte da Eletrobras. "Ficamos dois anos sem receber. Somente a poder de liminar judicial é que pagou R$ 312 milhões, mas ainda há diferenças a receber".
A WPE mantém a ação para que a estatal cumpra o programa, que tem prazo de 20 anos. Em nota, a Eletrobrás informou que em março de 2013 iniciou processos administrativos para rescisão contratual dos contratos da Energimp referente aos parques catarinenses no âmbito do Proinfa. E que, após ações na Justiça, "em dezembro de 2013, a empresa recebeu todos os valores represados em razão dos processos, por decisão liminar". A estatal diz ainda que paga regularmente pela energia contratada, e assim deverá continuar enquanto permanecer a decisão judicial.
Fabiano Robalinho, advogado do escritório Sérgio Bermudes, que cuida do processo de recuperação judicial da WPE, disse que o não cumprimento do contrato pela Eletrobrás levou ao descasamento do fluxo de caixa da empresa. Para ele, isso a obrigou a ir para a recuperação judicial.
A crise da empresa, segundo apurou o Valor com fontes, começou com atrasos no pagamento de contratos que tem com empresas estatais. Isso obrigou a WPE a fazer várias captações de curto prazo no mercado financeiro, o que comprometeu seu caixa e levou ao calote de fornecedores, como a Máquinas Piratininga, de Recife, a quem deve R$ 4 milhões há dois anos. O Banco do Brasil informou ao Serasa, em agosto, que tem crédito de R$ 38,63 milhões com a empresa. O Santander, cobrava R$ 11,44 milhões
Segundo a WPE, antes da crise a empresa chegou a empregar 1.300 funcionários e que tem em carteira contratos para mais de 5 mil MW de projetos eólicos e usinas hidroelétricas no país.