Fragilizada por quase dois anos de recuperação judicial seguidos de uma das piores crises econômicas da história, a americana Dana arrumou as finanças e agora mira o segmento de veículos comerciais em busca do vigor que outrora exibiu no mercado mundial de autopeças. A escolha desse nicho fica evidente na composição da diretoria, que foi completamente reformulada e reuniu executivos egressos de empresas atuantes no mercado de comerciais leves.
De acordo com seu presidente mundial, James Sweetnam, a empresa está empenhada em analisar o potencial das diferentes regiões do planeta para detectar a vocação de cada uma em termos de produtos. "Para o futuro, o foco está em crescimento e rentabilidade, em como crescer de forma rentável", afirma o executivo, que esteve na semana passada no Brasil pela primeira vez desde que assumiu o cargo, em 2009.
Para Sweetnam, o país ganhou importância para os negócios globais da Dana, assim como China e Índia, diante do arrefecimento das vendas sobretudo nos Estados Unidos e do aquecimento da indústria automobilística em economias emergentes. Ainda assim, os investimentos programados para a operação brasileira são modestos se comparados aos planos anunciados pelo setor. Em 2010, os aportes devem somar US$ 20 milhões, US$ 14 milhões dos quais provenientes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), parte do primeiro empréstimo do banco estatal à companhia, tomado no ano passado, no total de US$ 22 milhões.
Com o enxugamento da operação na matriz e em países mais afetados pela crise, a Dana pretende redistribuir nas subsidiárias com maior potencial de crescimento linhas que foram desativadas. "Estamos transferindo linhas de produção dos Estados Unidos e Canadá para o Brasil, o que ampliará a capacidade em praticamente todos os segmentos", conta o principal executivo da empresa para a América do Sul, Harro Burmann. A companhia produz eixos, cardans, chassis, entre outros.
A revisão do mapa mundial de operações da Dana poderá reduzir o índice de nacionalização no Brasil e, eventualmente, levar a companhia a importar o que hoje ela produz por aqui, conforme Burmann. "Vamos focar no que somos bons. O cenário ainda é desafiador, com custos de mão de obra e matéria-prima que podem não ser competitivos em comparação a outras regiões", explica.
A crise enfrentada pela Dana provocou mudanças na estrutura comercial e administrativa. Como outras companhias americanas, viu diminuir a fatia dos negócios na América do Norte de 77%, em 2000, para cerca de 50% - com tendência a chegar em 45%, conforme Sweetnam. Internamente, as sete áreas de negócio existentes há dois anos foram condensadas em duas unidades: veículos leves e comerciais. A América do Sul, que representa 15% das receitas, segue à frente da Ásia, que contribui com 12% no ano passado.
No Brasil, o auge da companhia foi experimentado na década de 90, quando uma fábrica instalada em Campo Largo (PR) era responsável pela produção completa do chassi (incluindo as rodas) da picape Dakota, produzida em uma linha vizinha da Chrysler. A unidade foi vendida depois que a montadora deixou o país, o que marcou o início do enxugamento das operações brasileiras.
Sweetnam, que arrisca com segurança expressões em português, morou no Brasil na década de 70, quando ainda estava nos quadros da concorrente Eaton. "Houve uma grande mudança nas condições do país, principalmente na taxa de câmbio". No ano passado, a Dana faturou US$ 5,2 bilhões, ante US$ 8 bilhões de 2008, acompanhando a tendência geral do setor. "A empresa foi reconstituída financeiramente. Temos US$ 1 bilhão em caixa e dívida de líquida de apenas US$ 56 milhões", diz. Embora o tamanho da empresa tenha diminuído, o executivo se mostra confiante na capacidade de retomada. Ao fim de 2009, o preço da ação estava em US$ 0,90 e agora é de US$ 12. "Um ano antes, não estávamos nem negociando".
Autor: Marli Olmos e Stella Fontes
Fonte: Valor Econômico (12/04/2010)