SÃO PAULO - Com a retomada das atividades dos frigoríficos em recuperação judicial, em seis meses, pode faltar boi no mercado. De acordo com Paulo Molinari, economista e consultor da Safras & Mercado, a concorrência entre os grandes JBS-Friboi e Marfrig, com os de médio porte, como o Minerva, Independência, Quatro Marcos e Arantes, deve voltar com intensidade. "Se eles [Independência, Quatro Marcos e Arantes] saírem do processo de falência, a competição tende a ficar mais forte e os preços podem continuar subindo", observa.
O Independência confirmou que está negociando suas dívidas para reassumir o mercado. De acordo com a assessoria de comunicação do frigorífico, o processo de retomada ocorrerá de forma gradual e um cronograma do processo já estaria em estudo.
O Quatro Marcos teve o plano de quitação com os credores pecuaristas aprovado. Segundo Luciano Vacari, superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), o pagamento dos R$ 35,7 milhões aos pecuaristas deve ser efetuado em 12 parcelas a partir de 30 dias após a homologação do plano definido em Assembleias Gerais de Credores (AGC). Apenas o Estado de Mato Grosso computa 273 pecuaristas que devem receber mais de R$ 26 milhões. "A homologação deve estar para sair nos próximos dias", comenta Vacari.
O Arantes, de acordo com o superintendente, fechou com os credores um plano de pagamento para daqui um ano, condicionado à venda de algum ativo. "A dívida ultrapassa R$ 20 milhões."
De acordo com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), em 2008 e 2009 o abate de bovinos caiu bruscamente devido à crise financeira. Em 2007, o estado abateu 5,3 milhões de cabeças, ante os 4,1 milhões de cabeças abatidas igualmente nos dois anos seguintes. A crise econômica teria sido o vilão a levar os frigoríficos à falência.
Dados apresentados pelo Imea mostram que o abate de bovinos no primeiro bimestre deste ano avançou 4,5%. Na média mensal o abate aumentou de 348,5 mil cabeças em 2009 para 359,5 mil cabeças em 2010.
A estimativa do Instituto é de que o País feche o ano com 4,4 milhões de cabeças abatidas.
Em Mato Grosso, o boi gordo foi comercializado em média na semana passada a R$ 70,97, superior 1,20%, se comparado a semana anterior. O valor médio da vaca gorda à vista fechou na semana passada a R$ 66,33, R$ 0,91 a mais que na última semana de março.
Para a segurança na comercialização de bovino, Vacari defende a volta da campanha do gado à vista, uma medida de combate à inadimplência. "Temos de aprender com a crise. Vamos levar essa história de pesar o gado vivo na fazenda e receber na hora de carregar adiante", diz.
Bolsa de carne
O programa que nasceu em Campo Grande, o Bolsa de Carne, segundo Vacari, chega hoje a Cuiabá. A apresentação do processo de venda e compra eletrônica de gado bovino será feita no auditório da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato).
O plano de comercialização lançado pela Bolsa Brasileira de Mercadoria (BBM), controlada pela BMF & Bovespa, de acordo com o superintendente funciona a partir de um cadastro feito tanto pelo pecuarista como pelo frigorífico interessado, na BBM.
Segundo Vacari, até dois dias antes do carregamento o comprador se compromete em depositar 90% do valor da operação. "Após a confirmação do pagamento, o pecuarista entrega o animal. Os outros 10% é acertado de acordo com o padrão do lote."
De acordo com o mercado, cada operação pelo sistema custará 0,5% sobre o valor total da comercialização. É estimado um custo entre R$ 5 a R$ 7 por cabeça de gado. Ainda segundo o mercado, as corretoras costumam cobrar entre R$ 12 e R$ 15.
O sistema eletrônico pode operar como na venda em leilão. No qual o criador fará a oferta no sistema da bolsa, com as características do rebanho de boi gordo, para animais entre 15 e 23 arrobas. Nesta modalidade o pecuarista transformaria o gado em arrobas de carne e fixaria um preço mínimo por arroba. Do outro lado, o frigorífico analisaria o rebanho e faria sua oferta.
Autor: Alécia Pontes
Fonte: www.dci.com.br (06/04/2010)