Praticamente um ano após o anúncio do início das tratativas, a negociação de venda da fatia da Odebrecht na Braskem à holandesa LyondellBasell chegou ao fim sem solução. Na terça-feira (4), fato relevante da petroquímica brasileira concretizou as especulações das últimas semanas, informando que a empreiteira, que detém 50,1% das ações ordinárias da Braskem, e os holandeses decidiram encerrar as tratativas. Mesmo assim, o mercado especula que o fracasso não seja o fim de uma possível venda da Braskem. O fato relevante da Braskem afirma que ambas as partes decidiram, em conjunto, “encerrar as tratativas a respeito da potencial transação envolvendo a transferência à LyondellBasell da totalidade da participação da Odebrecht no capital social da Braskem”, que corresponde a 38,3% de todas as ações da petroquímica. A outra sócia considerável é a Petrobras, que detém 47% do capital votante e 36,1% do total de ações da Braskem. A petroquímica argumenta, na nota, que “a administração seguirá em busca de oportunidades que tenham o potencial de agregar valor à Braskem e, consequentemente, a todos os seus acionistas”. O anúncio de que as duas empresas negociavam a transferência do controle da Braskem, que concentra o mercado brasileiro de resinas petroquímicas, foi feito ao mercado em 15 de junho de 2018. Nas últimas semanas, especulações do mercado davam conta de que os holandeses estudavam desistir da operação por conta de problemas da petroquímica brasileira. Em abril, por exemplo, o Ministério Público de Alagoas pediu o bloqueio de R$ 6,7 bilhões da companhia, e a Justiça impediu a distribuição de dividendos. O motivo é que a extração de sal-gema pela companhia causou afundamentos em bairros de Maceió, danificando terrenos e construções. Além disso, a grave situação financeira da Odebrecht também teria pesado na decisão da LyondellBasell. A venda da fatia na Braskem era vista como essencial para solucionar as dívidas bilionárias da empreiteira baiana, que tem diversos braços em dificuldades. A Atvos (antiga Odebrecht Agroindustrial), subsidiária sucroalcooleira da Odebrecht, foi a primeira empresa do grupo a pedir recuperação judicial, na semana passada, com dívida de R$ 12 bilhões. O argumento é de que os holandeses poderiam retomar as negociações no futuro em busca de melhor preço no acordo. Diretor da MaxiQuim Assessoria de Mercado, João Luiz Zuñeda argumenta que o desfecho não significa que a venda da Braskem não ocorra mais. “Se essa negociação não deu certo, não quer dizer que outras não sejam construídas. Se você tem um bom produto, tem outras empresas olhando para ele”, argumenta Zuñeda. O perfil da Braskem, com ativos no Brasil e no exterior com base gás e base nafta, e seu tamanho, faz dela uma oportunidade única no mercado petroquímico mundial. O tombo das ações da Braskem, que liderou as baixas no dia na B3, com queda de 17%, é visto como normal por Zuñeda. “O mercado está precificando esse anúncio, o mercado financeiro é assim. Mas clientes para negociar não irão faltar, abre-se uma nova janela para negociações com outras companhias”, afirma o diretor.
Transformadores têm opiniões diferentes sobre o recuo da holandesa
Presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico no Rio Grande do Sul (Sinplast), Gerson Albano Haas, argumenta que, na visão dos transformadores, o fim das tratativas é apenas uma estratégia da LyondellBasell. “Acreditamos que, no momento certo, deverá voltar à carga, porque o negócio é interessante para as duas partes”, afirma Haas. Para a Odebrecht, o interesse seria de fazer caixa com seu ativo mais valioso e, para a LyondellBasell, em adquirir o controle por um preço mais baixo do que o imaginado. A aliança das duas petroquímicas geraria a líder global no setor. Diretor da MaxiQuim Assessoria de Mercado, João Luiz Zuñeda, não descarta que a LyondellBasell volte à mesa com a Odebrecht, mas não acredita que possa acontecer no futuro breve. “São duas empresas de capital aberto, não pode fazer esse anúncio para voltar um mês ou dois depois e dizer que era brincadeira”, comenta o diretor. Para o setor plástico, segundo o presidente do Sinplast, o maior problema é a instabilidade quanto ao real fechamento das negociações. O ideal, argumenta Haas, seria ter uma definição mais clara do cenário. Mesmo assim, os transformadores não temem qualquer mudança nos acordos comerciais que mantém com a Braskem, nem com os problemas de caixa da Odebrecht. Jaime Lorandi, presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho (Simplás), diz que o setor está tranquilo quanto à continuidade no trabalho da empresa, que seguirá fornecendo a matéria-prima nos mesmos modelos de contratos, negócios e parcerias, mas que ficará difícil a conquista de um novo interessado após a saída da LyondellBasell do negócio. Lorandi não acredita que a holandesa fará nova proposta de compra por que, apesar de a Braskem ser economicamente saudável (apesar de lucros recentes menores) e problemas de produção ou logística, está sob o guarda-chuva da Odebrecht e seus muitos problemas pendentes. “Acho que se a LyondellBasell fez todo o mapeamento da Braskem desistiu do negócio, a compra por outro interessado se torna um pouco mais difícil neste momento”, opina o presidente do Simplás.
05/06/2019