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Concordata da Peabody expõe declínio do carvão

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A crise na mineração de carvão fez a sua maior vítima até agora. Ontem, a Peabody Energy entrou com pedido de concordata, após ser dizimada por seu elevado nível de endividamento, preços baixos e queda da demanda.

A maior produtora privada mundial de carvão, por volume de produção, pediu concordata no Missouri, nos EUA, semanas após ter atrasado dois pagamentos de juros de títulos, e alertou para sua potencial incapacidade de seguir como uma empresa viável.

A empresa mineradora americana informou um prejuízo líquido de US$ 2 bilhões no ano passado, e anunciou estar em dificuldades devido a um endividamento líquido de aproximadamente US$ 6 bilhões. A companhia é agora companheira de outras 50 mineradoras americanas de carvão que pediram concordata desde 2012.

O pedido de concordata tem por objetivo permitir que a empresa reestruture sua dívida sem parar de operar. "Foi uma decisão difícil, mas é o caminho certo a seguir para a Peabody", disse Glenn Kellow, seu executivo-chefe. "Nós vamos buscar uma solução legal para a pesada carga de endividamento da Peabody, em meio a um cenário historicamente desafiador para o setor", acrescentou Kellow.

A Peabody culpou fatores "sem precedentes" que afetam o setor carbonífero mundial, entre eles a forte queda no preço do carvão metalúrgico - usado na produção de aço -, o esfriamento da economia chinesa, assim como problemas no mercado americano.

O setor do carvão nos EUA cresceu devido a uma onda de aquisições no início da década, mas foi impactado pela concorrência de gás barato e por maior rigor na regulamentação ambiental.

Dos quatro maiores produtores americanos de carvão, três - Alpha Natural Resources, Arch Coal e a Peabody - entraram com pedido de falência. O trio foi responsável por cerca de 41% da produção americana de carvão em 2014.

A queda dos preços do gás nos EUA, que acompanhou a desvalorização do petróleo a partir de meados de 2014, foi devastadora para o carvão. A participação do carvão no mercado da eletricidade americano caiu de 45% em 2010 para 33% no ano passado.

Regulamentos para controlar o mercúrio e outras emissões tóxicas provenientes das centrais elétricas a carvão, que entraram em vigor no ano passado, convenceram as geradores a fechar usinas mais velhas. Usinas de energia a carvão respondem por mais de 80% dos 18 gigawatts da capacidade de geração americana que foi paralisada no ano passado.

No longo prazo, o plano de energia limpa do presidente Barack Obama pretende, até 2030, reduzir em 32% as emissões de dióxido de carbono na geração de energia, em relação aos níveis de 2005.

O plano está sendo contestado na Justiça e os candidatos presidenciais republicanos comprometeram-se a reverter as medidas caso vençam a eleição de novembro. Se a iniciativa de Obama sobreviver, porém, isso significará mais fechamentos de usinas a carvão.

Os produtores americanos de carvão esperavam que exportações compensariam o mercado interno fraco, mas as vendas no exterior têm sido decepcionantes.

Um aumento das exportações entre 2010 e 2013 teve curta duração. Até o terceiro trimestre de 2015, as exportações de carvão dos Estados Unidos eram de apenas 16,9 milhões de toneladas, ou seja, uma queda de 41% de seu nível dois anos antes.

A Peabody contribuiu para seu infortúnio com a aquisição da australiana Macarthur Coal por US$ 5 bilhões em 2011. Essa foi uma em uma série de aquisições por grandes empresas mineradoras num momento em que os preços das matérias-primas estavam bem mais altos.

Cinco anos atrás, a Peabody recebia US$ 122 por tonelada de carvão na Austrália, mas no ano passado essas receitas caíram para US$ 55 por tonelada. As receitas e as margens por tonelada estão mais baixas para a maior parte das 229 milhões de toneladas da produção anual da Peabody que é vendida nos Estados Unidos.

Os negócios com ações da Peabody foram suspensos como resultado do pedido de falência. Suas operações nos EUA, que segundo a empresa produziram um fluxo de caixa positivo no ano passado, serão mantidas, assim como nas minas australianas excluídas do pedido de concordata. Kellow, que assumiu em 2015 o posto de executivo-chefe, antes ocupado por Greg Boyce, permanecerá no cargo.

A Peabody insistiu em que carvão permanecerá sendo uma parte "essencial" da matriz energética e disse que a empresa está "aqui para ficar". Mas alguns grupos ambientalistas disseram que o pedido de falência mostrou que as pressões sobre o carvão permanecerão.

Luke Sussams, analista da Carbon Tracker Initiative, com sede em Londres, disse: "Há alguns anos, a Peabody Energy dizia aos investidores que a demanda por carvão iria subir. Hoje ela entrou com um pedido de concordata".

"Esse é um lembrete oportuno para os investidores no sentido de que não devem aceitar as expectativas de demanda declaradas pelas empresas de combustíveis fósseis [e é] o sinal mais significativo até agora de que o mercado mundial de carvão está perto de um declínio estrutural."

Tom Sanzillo, diretor de finanças do Institute for Energy Economics and Financial Analysis, disse que a Peabody "não foi capaz de se ajustar aos novos mercados de energia, em que novas fontes energéticas estão sendo adotadas em detrimento do carvão".

"A indústria do carvão não está morta, mas enfrenta um período em que precisa inovar de formas que não fez antes", acrescentou. "Isso significa mercados menores e menos minas¨

Autor(a)
James Wilson e Ed Crooks

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