O cenário de retração da economia, juros altos, desemprego e redução no nível de confiança dos consumidores e empresários levou a uma queda no nível de crédito no país e a um aumento da inadimplência no ano passado.
Segundo o último Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado nesta quinta (7) pelo Banco Central, bancos privados reduziram em 8,2% a concessão de crédito, e bancos públicos, vetor das políticas públicas de incentivo ao crédito, tiveram crescimento quase nulo, de 0,2%.
Na média, houve retração de 3,7% no estoque de crédito, já descontada a inflação.
"O ambiente adverso da economia real começou a se refletir de maneira mais pronunciada nos indicadores de crédito neste último semestre, resultando na manutenção da cautela na concessão de crédito, na baixa demanda por parte dos tomadores - levando ao baixo crescimento da carteira de crédito - e no aumento da inadimplência, da renegociação e da restruturação das dívidas", diz o relatório.
O diretor de Fiscalização do BC, Anthero Meirelles, fez uma crítica velada às recentes ações do Ministério da Fazenda de estímulo ao crédito, ao afirmar que a oferta está baixa no país por um problema de demanda, fruto do baixo nível de confiança das pessoas e das empresas.
"Não há apetite dos bancos, públicos e privados, para ampliar crédito. Não há demanda. O sistema tem liquidez, tem folga de capital. Diria que acho que o estímulo ao crédito pode funcionar num momento de recuperação do ciclo, de recuperação da confiança. Fora isso, acho que não tem demanda por crédito."
INADIMPLÊNCIA
A inadimplência das operações de crédito no país chegaram a 3,4% em dezembro do ano passado. Um ano atrás, esse índice estava em 2,9%.
Segundo o relatório, a variação da inadimplência poderia ser 0,7 ponto percentual maior caso os bancos não lançassem mão de renegociações e restruturações de dívidas, práticas comuns em períodos de crise.
Segundo Meirelles, a taxa de inadimplência deve continuar crescendo, e o BC deve acompanhar esse movimento "com uma lupa permanente".
"A gente espera, evidentemente, que a inadimplência continue crescendo. Não esperamos nada explosivo, nenhuma ruptura, mas a gente espera que a inadimplência continue crescendo, nos bancos públicos e privados, pela situação econômica", disse Meirelles.
O aumento da inadimplência foi mais acentuado em cartão de crédito e em crédito pessoal sem consignação, modalidades que são mais sensíveis a pioras no cenário econômico, aponta o relatório.
LAVA JATO
Segundo o Banco Central, o sistema financeiro brasileiro tem liquidez e solvência, mas chama a atenção o crescimento do número de companhias em recuperação judicial.
No ano passado, houve mais de 1.300 pedidos de recuperação judicial, de todo porte de empresas. Em 2014, foram pouco mais de 800 pedidos. Esse movimento é impulsionado pela Operação Lava Jato.
No Relatório de Estabilidade Econômica anterior, divulgado em outubro de 2015, o Banco Central indicou que o sistema financeiro brasileiro tem condições de suportar uma onda de calotes de empresas envolvidas na Lava Jato e também de companhias ligadas a estes grupos econômicos.
Segundo Meirelles, não houve ampliação de riscos desde então, pois, diante desse cenário, os bancos provisionaram mais dinheiro.
"O sistema financeiro aguentaria inclusive os cenários mais adversos, não houve grandes mudanças nessa questão."
RENTABILIDADE
Apesar da queda na concessão de crédito e da inadimplência, a rentabilidade dos bancos aumentou no segundo semestre de 2015, chegando a 15,4% ao ano em dezembro. Em junho, esse índice era de 14,8%.
Os bancos privados foram os principais responsáveis por esse aumento, motivado por ajustes nas taxas de concessão, maior diversificação de serviços prestados e aumento da alíquota da CSLL das instituições financeiras, o que gerou ganhos contáveis com ativação de créditos tributários, explica o BC.
Em contrapartida, os bancos aumentaram suas provisões, preparando-se para um cenário adverso, com perspectiva de baixo crescimento das concessões e de novos aumentos da inadimplência, diz o relatório.