Na fase crítica em que a economia brasileira se encontra, os bancos comerciais vêm adotando uma atitude pragmática em relação a um grupo de empresas de grande porte, aceitando renegociar dívidas por prazos maiores, em condições que os tomadores podem suportar. Ao atuarem dessa forma, as grandes instituições permitem que algumas grandes empresas, cujo número é estimado em pouco mais de uma dezena, continuem operando no mercado, buscando formas de superar dificuldades financeiras, sem serem obrigadas a solicitar recuperação judicial.
Naturalmente, os bancos procuram também resguardar seus interesses, mantendo seus grandes clientes e evitando ter de contabilizar perdas ou elevar desmesuradamente as suas provisões para devedores duvidosos.
Esse quadro só seria preocupante se viesse a afetar a estabilidade do sistema bancário. Mas o Banco Central (BC) não demonstra preocupação. Segundo o Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado pela autoridade monetária há dias, os bancos do País têm capital para suportar uma recessão forte, com queda de até 10% do Produto Interno Bruto (PIB), taxa básica de juros de até 20% ao ano e dólar cotado a R$ 6,00.
Embora os dados conjunturais da economia brasileira sejam muito negativos, prevendo-se uma queda do PIB de 3,8% este ano, a situação ainda está longe de configurar o cenário que, na avaliação do BC, poderia ser considerado catastrófico.
A propósito, em recente discurso, o presidente do BC, Alexandre Tombini, fez questão de ressaltar que “o aumento moderado dos índices de inadimplência não representa risco material para o sistema, pois as instituições contam com níveis adequados de provisionamento e o endividamento do setor privado está sendo bem gerenciado, inclusive por meio de renegociações de operações de crédito”.
Em vista disso, pode ser tomado como um alerta o cálculo da agência de classificação de risco Moody’s de que, se os créditos reestruturados fossem incluídos no índice de inadimplência dos bancos brasileiros, ele subiria de 3,4% ao fim de dezembro de 2015 para 5,2% do total das carteiras de crédito ao término do primeiro trimestre de 2016.
O BC, porém, está atento a essas circunstâncias e não prevê afrouxamento de seus critérios prudenciais, como a exigência de capital dos bancos em relação ao total de ativos ponderados pelo risco, tal como preveem os Acordos de Basileia.