Em meio a um momento difícil na cadeia do setor, a fabricante de produtos de alumínio Alpex teve seu plano de recuperação judicial aprovado pelos credores e agora espera até a semana que vem para que a Justiça aprove o processo. A empresa, que tem seus negócios muito ligados ao setor de construção, terá dez anos para arrumar a casa e voltar a operar normalmente.
Para a Associação Brasileira do Alumínio (Abal), contudo, a crise ainda não chegou à transformação - segmento do qual a Alpex faz parte -, concentrando-se mais na produção do produto primário. Mesmo assim, a expectativa é que as vendas da área fiquem apenas estáveis durante este ano.
"Tendo uma queda de lançamentos e projetos, ficou difícil manter os níveis de lucratividade. A empresa tem de ser muito mais competitiva, foi atacado o custo fixo, mas a recuperação judicial foi necessária", afirmou, em entrevista ao Valor, Elias Rocha Azevedo, da consultoria Ejafac, responsável pelo processo de recuperação da empresa.
Com endividamento de aproximadamente R$ 100 milhões e tendo Itaú, HSBC e CBA como principais credores, a Alpex conseguiu que os investidores garantissem um deságio médio de 35% sobre suas obrigações. De acordo com Azevedo, ter o plano aprovado foi muito mais necessário para adequar o pagamento das dívidas à geração de caixa atual do que conseguir a redução dos passivos a serem pagos.
Frente ao plano original, Azevedo explica que foram necessárias algumas alterações para que os credores dessem o sinal verde. Agora, ele afirma que há maior previsibilidade de fluxo de caixa no futuro. "A Alpex não tem nenhum problema de curto prazo, em três ou quatro anos. A situação é tranquila, vai cumprir os compromissos enquanto faz o dever de casa", diz, lembrando que o contrato da Ejafac vai até o fim do ano.
"Estamos muito expostos a riscos e, no nosso caso, passamos a ter dificuldades de caixa em razão da necessidade que tivemos de alavancagem", afirma Camilla Herreros, diretora financeira da companhia. "Mas salvamos centenas de empregos", completa, lembrando a importância da parceria com a Ejafac - apesar de as demissões terem chegado a 15% do quadro de funcionários.
Em entrevista, Milton Rego, presidente da Abal, lembra que a cadeia do alumínio é muito longa e que a crise se concentra na produção primária. Entretanto, empresas mais expostas à construção como a Alpex - que fabrica boxes de banheiros, itens de decoração e móveis em geral - estão sofrendo mais por conta da retração da demanda.
"Embalagens e construção são as principais fontes de receita da transformação. A expectativa é que o segmento fique estável em 2015, com alta da venda para embalagens, mas queda para construção e ao setor automotivo", diz Rego. Mas mesmo no caso de embalagens, ele reforça que a expansão se dá muito mais por uma substituição de materiais do que pelo avanço do consumo.
Entretanto, a elasticidade do crescimento da ponta final da cadeia frente ao Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos garante sobrevida ao setor, acrescenta. "O que acontece é que a transformação do alumínio tem de ser vista dentro da perspectiva da indústria brasileira, que está pressionada, com vários setores diminuindo", afirma. "A queda de alguns setores foi muito dramática desde o ano passado."
Na produção do alumínio primário, há dois grandes problemas: a competição com a China e o custo da energia no Brasil, que mina a competitividade das empresas. Neste ano, a Alcoa já abandonou fundições em Poços de Caldas (MG) e em São Luís (MA) - em cinco anos, lembra Rego, foram também cinco fábricas do setor que fecharam as portas por aqui.
Desde 2008, a produção de alumínio primário caiu de 1,7 milhão de toneladas para cerca de 950 mil toneladas. O presidente da Abal acredita que, se não houver uma mudança de postura do governo quanto aos contratos de energia que alimentam essa indústria - em termos semelhantes ao que as empresas eletrointensivas do Nordeste conquistaram com a Chesf, da Eletrobras -, a perspectiva é que o volume siga em queda.