Insatisfeito com os rumos das conversações com a Oi, um grupo de "bondholders" - detentores de US$ 2,6 bilhões em títulos emitidos pela operadora e suas subsidiárias na Holanda - enviou carta à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). No texto, o International Bondholder Committee (IBC) - assessorado pela consultoria G5 / Evercore - afirma que a Oi se recusou a negociar "com seus principais credores", incluindo o IBC, o grupo de detentores de títulos capitaneado pelo banco de investimento Moelis & Co e agências estrangeiras de crédito à exportação.
No documento ao qual o Valor teve acesso, o IBC afirma que, em vez de se engajar com seus principais grupos de credores, a empresa "continua a se reunir com credores pequenos e de interesses conflitantes, uma vez que detêm vários graus de participação na Oi e, portanto, provavelmente estão interessados em um plano favorável aos acionistas em detrimento dos credores de Oi".
Endereçada ao conselheiro Igor de Freitas, a carta é de 1º de agosto, quando ocorreu uma reunião da direção da agência com executivos, acionistas e conselheiros da Oi. Freitas é o relator da matéria. Cabe a ele analisar preliminarmente as demandas e depois submetê-las ao Conselho Diretor. Por isso, a carta foi encaminhada a ele, e não ao presidente da agência, Juarez Quadros, apurou o Valor.
Segundo os "bondholders", em fevereiro e março foram realizadas reuniões infrutíferas de representantes do IBC e da Oi. "Nosso grupo gastou tempo, esforço e recursos consideráveis tentando negociar com membros do Grupo Oi um acordo de confidencialidade dentro de padrões de mercado que nos teria permitido negociar planos de recuperação judicial. Apesar de todos os nossos esforços, o Grupo Oi se recusou a se engajar [nas negociações]", afirmam os detentores de títulos na carta. O grupo inclui o fundo abutre Aurelius Capital Management.
No documento, os credores informam que chegaram a se reunir com o diretor-presidente da Oi, Marco Schroeder. "Embora o nosso consultor financeiro tenha se reunido várias vezes com o CEO da Oi, essas reuniões não envolveram discussões ou negociações substanciais". A carta termina com um pedido à Anatel para que exija da Oi negociações com seus principais grupos de credores de forma a chegar a uma solução de mercado.
Procurados, o International Bondholder Committee e a Oi não quiseram se manifestar sobre a carta enviada à Anatel.
A assembleia de credores da Oi está prevista para outubro. Em ofício enviado pela Anatel na semana passada ao conselho de administração da Oi, o regulador determinou que a tele apresente nova versão do plano de recuperação judicial divulgado em março. Na época, os detentores de títulos da Oi receberiam 25% do capital da tele de imediato. O pagamento incluiria também a emissão de R$ 2,8 bilhões em novos bônus com vencimento em 2027. Além disso, a Oi oferecia aos detentores de outros títulos R$ 3,9 bilhões em "bonds" conversíveis ao fim de 36 meses.
Quanto aos pequenos credores, os centros de atendimento abertos pela Oi para cadastrá-los em todo o país receberam mais de 40 mil acessos na plataforma on-line. Foram feitos acima de 7,1 mil cadastros. Podem se inscrever todos os 55.080 credores que constam da lista publicada em 29 de maio.
A Oi, que tinha só um centro de atendimento no Rio de Janeiro, agora conta com 39, cobrindo todas as capitais. Além disso, abriu unidades em outros municípios do Rio, de Minas Gerais, do Paraná e da Bahia.
Por enquanto, a companhia pode apenas fazer o cadastramento, mas não o agendamento para fechar acordos. Isso porque uma decisão liminar do Tribunal de Justiça do Rio, atendendo a pedido do China Development Bank, que também tem crédito exposto com a operadora, a impede de pagar até R$ 50 mil aos credores.
Podem se cadastrar no Programa para Acordo com Credores quem constar da relação publicada no edital de 29 de maio de 2017, informa a Oi. O cadastramento também pode ser feito pelo site www.credor.oi.com.br.
A companhia informa que aguarda decisão da Justiça para prosseguir com o programa.
15/08/2017