Cenários: Após três anos, bancos põem propriedades à venda, por R$ 146 milhões; resultado sai em julho.
Depois de terem sido transferidas aos credores há mais de três anos como parte de pagamento de dívida, sete fazendas com eucalipto que pertenciam à Eucatex, empresa da família Maluf, devem ser finalmente vendidas no mês que vem. Bancos e um fundo de pensão lançaram um processo de licitação das terras que deverá movimentar, no mínimo, R$ 146 milhões. As propostas serão recebidas e abertas no dia 15 de julho.
Todas as propriedades estão localizadas no Estado de São Paulo e somam uma área de 8,6 mil hectares, quase um quinto do atual cultivo de florestas plantadas da Eucatex - que tem 44 mil hectares, todos também em São Paulo. A companhia é uma das maiores fabricantes do país de produtos de madeira como pisos laminados e portas, e entrou em processo de recuperação financeira em 2003.
As fazendas de eucalipto a serem licitadas foram distribuídas em dois lotes. O primeiro deles, com três propriedades, tem 3,6 mil hectares e valor mínimo de arremate de R$ 70,986 milhões. O segundo é formado por quatro fazendas e uma área de aproximadamente 5 mil hectares. O lance mínimo deste bloco foi estipulado em R$ 76,793 milhões.
Ainda não é possível avaliar o tamanho da demanda por essas áreas, porque as propostas serão entregues e divulgadas no mesmo dia. Mas o banco Bradesco, que lidera a organização do processo de licitação, vem desde o mês passado divulgando anúncios em jornais sobre a venda. Abriu também um plantão para fornecer informações e visitas aos interessados em conhecer as propriedades.
Procurado, o banco preferiu não conceder informações sobre a situação das fazendas, assim como das plantações de eucalipto, cultura que está em alta no Estado de São Paulo e cujo avanço só é menor que o da cana no Estado. Mas, segundo uma avaliação superficial da NAI Commercial Properties (multinacional do ramo imobiliário) feita a pedido do Valor, as propriedades estão sendo colocadas à venda por preços de mercado.
Aloisio Feres Barinotti, CEO da NAI, pondera que não se sabe a quantidade equivalente de madeira existente dentro das fazendas. Mas, a partir da relação entre preço, tamanho da área e município, é possível afirmar que o valor mínimo pedido pelo hectare do lote 1 (Anhembi e Botucatu) é de cerca de R$ 19 mil. "Trata-se de uma região mais valorizada, com melhores estradas. Esse preço está na média de mercado", afirma.
Avaliação semelhante também é feita no caso do lote 2 (Angatuba, Itu, Pilar do Sul e Salto de Pirapora). Na média, explica Barinotti, o valor mínimo pedido pelo hectare neste lote está em R$ 15 mil, preço "razoável" para aquisição se a área estiver bem reflorestada e em época de corte. "Uma fazenda boa de laranja em Angatuba está valendo R$ 20 mil o hectare", compara.
A licitação ofereceria uma maior oportunidade relativa ao comprador se os preços estivessem na chamada categoria "liquidez forçada" - ou seja, quando os preços pedidos são de 30% e 40% abaixo dos de mercado para agilizar a venda, segundo o especialista.
As fazendas da Eucatex foram transferidas aos credores em dezembro de 2006. O Itaú Unibanco é o que detém a maior fatia do conjunto desses ativos (29,63%), seguido por Bradesco (29,07%), Petros (26,64%) e Itaú BBA (14,66%).
O processo de recuperação financeira da empresa foi longo. Iniciou-se em 2003, ainda como uma concordata preventiva. Em 2005 foi substituído por um processo de recuperação judicial, mas somente em 2007 o plano foi aprovado. Na época, a dívida da companhia era avaliada em R$ 485 milhões, de acordo com informações publicadas pelo Valor na época. A transferência de propriedades foi uma das formas que a Eucatex encontrou para fazer o pagamento aos credores.
Autor: Fabiana Batista
Fonte: Valor Econômico (24/06/2010)