Reestruturada, companhia catarinense analisa aquisições. Na lista de interesses estão fabricantes de produtos plásticos.
Depois de deixar a casa em ordem, neste ano, a estratégia da catarinense Cremer para 2011 é crescer de forma orgânica e por meio de aquisições. "Passo mais da metade do meu tempo analisando empresas que poderiam ser nossas parceiras ou compradas", afirma Alexandre Borges, presidente da companhia especializada na fabricação e venda de itens hospitalares, de higiene pessoal e de primeiros socorros. Na lista de interesses estão concorrentes e parceiros que fabricam produtos complementares ao portfólio da Cremer — que abriga hoje cerca de 2 mil itens.
Segundo Borges, as aquisições são uma forma de balancear a participação de mercado das seis categorias de produtos que a companhia fabrica. "Para se ter uma ideia, enquanto a plataforma têxtil da Cremer responde por 21% do mercado, a de plásticos tem apenas 1%. O ideal é termos uma fatia de 20% de cada área", diz dando pistas de que as fabricantes de agulhas, seringas, sondas e coletores estão na mira.
E o primeiro passo nesse sentido foi dado com a assinatura, em setembro, da parceria com a Embramed. O acordo, firmado em R$ 5 milhões, concede à companhia condições especiais na compra dos materiais por três anos. Depois, a Cremer tem opção de aquisição da fabricante. "Com a parceria, queremos obter os 25% de participação de mercado que eles têm", revela o executivo. "E, se decidirmos comprar a empresa, o valor já foi estabelecido", afirma sem revelar detalhes.
Outra meta da Cremer é o plano de expansão e renovação do parque fabril. Neste ano, foram investidos cerca de R$ 35 milhões nas três fábricas — têxteis, adesivos e plásticos —, o maior aporte dos últimos cinco anos. "Tínhamos equipamentos em operação com mais de 35 anos. Estava mais que na hora de trocá-los."
A fim de garantir recursos para a modernização das unidades no ano que vem, a Cremer já está em contato com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Se aprovado o financiamento, vamos utilizar os recursos para comprar equipa-mentos mais novos", informa o Borges, sem revelar os valores.
Garantidos mesmo são os R$ 72,5 milhões que a Cremer conseguiu com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para investir em processos inovadores. "Criamos uma área de inovação para desenvolver produtos e melhorar os nossos processos fabris."
As ações da Cremer renderam à empresa o Prêmio TMA-PwC-Brasil Econômico de Recuperação de Empresas, entregue durante o II Congresso TMA de Reestruturação e Recuperação de Empresas organizado pela Turnaround Management Association do Brasil, que aconteceu nos dias 29 e 30 de novembro.
Diversificação
O portfólio da Cremer está dividido em seis segmentos. O principal é o hospitalar, que responde por 52% da receita líquida, seguido pelo varejo, responsável por 22%. Com menor participação, estão o segmento odontológico (9%), de adesivos e plásticos (14%) e de produtos para exportação (3%). A empresa tem nove centros de distribuição e atende aproximadamente 50 mil clientes por ano.
No terceiro trimestre, a receita líquida da fabricante atingiu R$ 91,4 milhões e no acumulado do ano chegou a R$ 284 milhões. Já o lucro líquido de julho a setembro foi de R$ 10,4 milhões, que representa unia queda de 6,8%, em relação ao mesmo período do ano anterior. "Tivemos influência negativa do mercado de luvas que está muito ofertado. Os preços caíram de 30% a 40%."
Menor número de itens garante maior rentabilidade
Fundada há 75 anos, a empresa saiu das mãos da família Cremer para as da Merrill Lynch e hoje tem vários fundos no controle
Quando foi fundada 75 anos atrás pelo imigrante alemão Werner Siegfried Cremer — em parceria com um grupo de médicos de Blumenau (SC) —, a Cremer era uma pequena fábrica de produtos têxteis de uso cirúrgico e hospitalar. A companhia foi bem até a década de 1990, quando enfrentou uma crise financeira cujo estopim foi o endividamento feito para a construção da unidade de adesivos. "A dívida foi feita em dólar e, na época, houve uma desvalorização cambial muito forte que forçou a família a sair do controle da empresa", conta Alexandre Borges, atual presidente da Cremer.
Foi aí que o braço de private equity do Merrill Lynch entrou na companhia e definiu uma nova estratégia: vender diretamente para varejistas, hospitais e farmácias. Com isso, a Cremer chegou a ter 5 mil produtos, que incluíam algodão, xampu da marca Seda e coleira de cachorro. A empresa cresceu muito e, em abril de 2007, abriu seu capital. A receita, naquele ano, havia atingido R$ 277,1 milhões ante R$ 169,1 milhões, em 2004. Contudo, a margem Ebitda reduziu, no período, passando de 18,2% para 16,2%.
Em 2009, cinco fundos de investimento somaram fatia superior a 51% das ações ordinárias e conseguiram retirar a cláusula do estatuto conhecida como pílula de veneno, que visa garantir a dispersão do capital da empresa no mercado. Com isso, os fundos assumiram o comando da Cremer. Foi neste momento que Borges entrou, com o objetivo de arrumar a casa. "Tínhamos de repensar a estratégia. Separamos a companhia em unidades de negócios e colocamos holofote nos resultados. Abrimos mão do crescimento puro e fomos atrás de rentabilidade."
A principal mudança foi buscar atender necessidades específicas dos clientes. Um exemplo é a gaze com esparadrapos, que antes tinha de ser preparada pelas enfermeiras. "Um diretor de hospital me disse que 70% do algodão que eles usam serve para dar banho em pacientes. Voltamos com essa informação e passamos a produzir conforme as necessidades."
Outra mudança importante foi a abertura do escritório em São Paulo para atender melhor os clientes. "Montamos uma área de marketing, segmentamos o atendimento e terceirizamos a distribuição nos mercados secundários. Além disso, fechamos turnos, mas estamos produzindo mais."
Hoje, na composição acionária da Cremer, a Tarpon Investimentos é a líder com 31% das ações, seguida pela Hedging-Griffo Corretora de Valores com 10,8%, Poland (10,6%), Aberdeen Asset Management (10,4%), M&G Investment Management (5,3%) e Guepardo Investimentos (5%). O restante está no mercado.
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Autor: Natália Flach
Fonte: http://www.brasileconomico.com.br, págs. 30/31 do jornal impresso (13/12/2010)