Refletindo a desaceleração econômica no Brasil, mais empresas têm recorrido à recuperação judicial para salvar operações e negociar com credores.
TeA Boa Vista/SCPC apontou alta de 187,5 por cento nos pedidos de recuperação judicial em julho, na comparação anual, e de 154,3 por cento no acumulado do ano. E a Serasa Experian revelou que em janeiro e maio foram os meses que registraram os maiores números de pedidos de recuperação judicial desde a criação do dispositivo, em 2005, com 86 e 82 solicitações, respectivamente.
Segundo especialistas, a maior demanda por esse recurso reflete a combinação de menor acesso a crédito --com os bancos mais conservadores devido à crescente inadimplência-- e a desaceleração da economia.
"Ficou mais difícil conseguir, principalmente capital de giro, para suprir problemas de caixa", disse o economista da Boa Vista Flávio Calife.
Em julho, o Banco Central apontou desaceleração do crédito por cautela de bancos, após os índices de inadimplência terem atingido os maiores níveis em cerca de 3 anos. Bradesco e Itaú Unibanco já reduziram as projeções de expansão de suas carteiras em 2012.
Segundo Juliana Bumachar, sócia do escritório Bumachar Advogados, especialista em Direito Empresarial, o movimento é semelhante ao do pós-quebra do banco Lehman Brothers, em 2008. Em setembro daquele ano, foram feitos 23 pedidos. Em março de 2009, mês com mais requisições de recuperação judicial depois do recrudescimento da crise, foram verificados em 76 pedidos.
Para a diretora da Área de Restructuring e Administração Judicial da KPMG, Osana Mendonça, a crise se agravou em muitos casos por problemas de gestão, especialmente em empresas de perfil familiar. Segundo ela, em pelo menos 70 por cento dos casos há problemas de gestão.
"Esses problemas emergem quando a maré baixa", disse Osana.
Os especialistas avaliam que o número de empresas pode aumentar, já que existem setores em dificuldades, como o têxtil, que sofre forte pressão de importados, principalmente da China.
Além disso, verifica-se aumento de empresas que são credoras ou fornecedoras de companhias que recorreram ao dispositivo há alguns anos, como frigoríficos e usinas de cana de açúcar.
"Empresas de setores que a gente não via antes num volume tão grande pedindo recuperação judicial, como transportes, fornecedoras de autopeças, de frigoríficos e usinas de cana de açúcar, alguns dos grandes ramos que quebraram, hoje estão sofrendo as consequências", disse Osana, da KPMG.
Osana destacou que uma das preocupações atuais do mercado é com empresas que pediram recuperação recentemente, pois há dúvida sobre a capacidade delas de honrarem dívidas até o fim do prazo de carência estabelecido nos planos, de dois a três anos.
CASOS NOTÓRIOS
A recuperação judicial ganhou vulto com a Varig, que já foi a maior companhia aérea do país. Após muita negociação, a empresa acabou fatiada. A marca foi comprada pela Gol em 2007, enquanto a Varig "ruim", com as dívidas, tornou-se a Flex e teve a falência decretada em agosto de 2010. A VarigLog, que também entrou em recuperação judicial, suspendeu as operações em fevereiro. Outros ativos, como centro de manutenção e prédios, foram vendidos para liquidação de dívidas.
Hoje, entre outras empresas, o caso mais destacado é o da distribuidora paraense de energia Celpa, do Grupo Rede Energia, cuja votação do plano de recuperação por credores já foi adiado pelo menos três vezes.xto
Autor: Fábio Couto
Fonte: http://noticias.r7.com, com informações da Reuters (28/08/2012)