Um dos maiores desafios de Pedro Parente na presidência da Petrobras, cargo em que toma posse oficialmente hoje, será dar consistência e ritmo ao programa de desinvestimento da estatal, ao mesmo tempo em que terá que acompanhar a situação financeira da empresa e garantir a independência do governo. O convite para a permanência de Ivan Monteiro à frente da diretoria mostra o reconhecimento dos esforços feitos por ele para equacionar a dívida da Petrobras, que o agora ex-presidente Aldemir Bendine chamava de "monstruosa" em conversas reservadas.
A Petrobras é a empresa de petróleo mais endividada do mundo e captou R$ 53 bilhões no ano passado. O analista Frank McGann, da Merrill Lynch Bofa, avalia que a questão mais importante que Parente terá que considerar é a redução da dívida para restaurar a solidez financeira da Petrobras. "Além disso, acreditamos que a empresa precisa mostrar progressos na conclusão da venda de ativos para manter a liquidez e lidar com as dificuldades associadas às investigações em curso", escreveu o analista.
Ele mencionou a Operação Lava-Jato, a Securities and Exchange Commissionn (SEC), o Departamento de Justiça dos Estados Unidos e as ações coletivas em curso naquele país. Ele diz esperar ainda que o novo presidente atue rapidamente e pro-ativamente na direção de buscar solução os desafios mencionados.
Até o momento a única operação da Petrobras visando explicitamente o alongamento dos vencimentos foi fechada no mês passado por Monteiro e teve a participação de 629 investidores.
Antes do fechamento dessa operação a Petrobras tinha que pagar R$ 53,8 bilhões entre juros e principal este ano. A partir do próximo ano a conta a pagar aumenta progressivamente, para R$ 64,5 bilhões em 2017, chegando a R$ 80 bilhões em 2018 e R$ 99,9 bilhões no ano seguinte. Comparar o tamanho da dívida com as projeções de produção de petróleo traz preocupação.
Em dólares, a dívida líquida da companhia estava em US$ 103,8 bilhões no dia 31 de março e no mês passado captou US$ 6,75 bilhões que vencem em cinco e dez anos. O dinheiro será usado em parte para trocar dívida de curto prazo por dívidas mais longa. Mas a avaliação corrente é que para equilibrar a estrutura de capital será preciso mais dinheiro com menos dívidas. Se ela precisará ou não de capitalização, só o tempo dirá.
Por enquanto, os planos de Parente para a diretoria não são conhecidos. Ele herda também um problema gigantesco que é a dívida da Eletrobras com a empresa que ele passa a dirigir. Além de não pagar pelo combustível usado para gerar energia na Região Norte do país, a subsidiária da Eletrobras no Amazonas está se valendo de liminares na Justiça para contornar a decisão da Petrobras de vender apenas à vista.
Será um "revival" dos tempos em que além de assento no conselho (por três anos) lidou com todos os agentes do setor elétrico para negociar as regras do racionamento de energia em 2001.
Ele também terá que equacionar a política de preços da Petrobras, que atualmente vende combustíveis no Brasil mais caros do que no exterior. É uma tentativa de manter o fôlego depois da sangria no caixa provocada pela política de preços subsidiados adotada depois de 2010, no primeiro governo de Dilma Rousseff, e as discussões a respeito no conselho de administração não foram pacíficas. Parente tem um bom relacionamento com o presidente do conselho, Luiz Nelson Carvalho, e isso pode ser um indicativo de que sua relação com o colegiado não terá os embates ocorridos entre Aldemir Bendine e Murilo Ferreira, antecessor de Carvalho no cargo.
Também é bom lembrar que a estatal tem várias investigações sobre a participação de funcionários envolvidos com a corrupção descoberta pela Lava-Jato. O ponto alto é uma audiência marcada para setembro em Nova York, onde a empresa enfrenta processo bilionário de investidores. A Petrobras também renegocia contratos com fornecedores de equipamentos e serviços, sendo que o mais complicado é com a Sete Brasil, que entrou em recuperação judicial e tem dois acionistas, a EIG e a Luce, que entraram na justiça.
Outra questão bem esclarecida é o tratamento dado pela Petrobras aos executivos que tiveram participação direta ou indireta com esquemas de corrupção e que passaram a ser investigados. As investigações internas e externas são realizadas em sigilo e não se tem notícia de punições.
Não menos importante, Parente pode enfrentar um aumento da oposição dos sindicatos de petroleiros controlados pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), que tentou convencer o conselho a não referendar o nome do executivo, que foi aprovado por unanimidade. Parente toma posse hoje em Brasília e para amanhã às 10h está marcada a cerimônia de transmissão do cargo na sede da Petrobras, no Rio.