Somente os 20 maiores débitos chegam a R$ 73,4 bilhões, aponta Alvarez & Marsal; segundo especialistas, chance de recuperação é baixa e não deve chegar à metade do total
Os desafios da economia brasileira estão sendo sentidos pelas empresas, que estão cortando custos, revendo estratégias de expansão e realizando demissões. Muitas vezes, todo esse esforço de austeridade não é suficiente e vários negócios são obrigados a recorrer à recuperação judicial – saída legal que permite à companhia uma “moratória” de seis meses para negociar débitos. Apenas entre as empresas que tiveram a recuperação judicial aprovada, o total da dívida é de R$ 120 bilhões, diz a consultoria especializada em recuperação de empresas Alvarez & Marsal.
Segundo os dados da companhia, apenas as 20 maiores recuperações judiciais somam R$ 73,4 bilhões em dívidas (veja quadro ao lado). No curto prazo, existem motivos para acreditar que o “bolo” vá aumentar. O número de pedidos de recuperação judicial no País quase dobrou até abril, na comparação com igual período de 2015, aponta a Serasa Experian. Fontes de mercado dizem que grandes negócios – como a operadora Oi e a siderúrgica Usiminas – correm risco de vir a engordar – e muito – os débitos renegociados na recuperação judicial.
Dificuldades. Analisando a complexidade das 20 maiores dívidas, muitas das quais vêm sendo roladas há anos, o diretor-geral da Alvarez & Marsal, Marcelo Gomes, diz que, mesmo numa perspectiva otimista, é pouco provável que os credores venham a reaver sequer a metade do que lhes é devido. Segundo o diretor da BR Partners, Cláudio Citrin, a recuperação judicial é uma “espécie de choque de realidade” para um negócio. “Todos os ativos passarão a valer menos do que em uma situação normal.”
O sócio do Banco Plural, Warley Pimentel, afirma que a questão a ser analisada é a chance de o negócio se perpetuar. “Muitas empresas usam a retórica da crise, culpam o mercado, mas o fato é que alguns negócios em recuperação não param em pé, não são mais viáveis”, diz o executivo. Para Pimentel, o raciocínio vale para as usinas de açúcar e álcool, que vinham com problemas ainda na época em que o Brasil vivia a euforia de crescimento, pois os preços praticados para o etanol nunca foram suficientes para pagar o custo da construção das usinas.
O mesmo argumento vale para empresas que encabeçam a lista de recuperações, como a Sete Brasil, que tem como único cliente a Petrobrás, estatal investigada, por corrupção, na Lava Jato. Segundo Gomes, da Alvarez & Marsal, a Lava Jato é parte do problema. “Acho que, no caso do setor de óleo e gás, a queda do petróleo foi mais nociva do que a Lava Jato.”
Além de ter sido abatida pela queda do petróleo, a OGX (hoje OGPar) não conseguiu confirmar as expectativas de produção de seus campos de petróleo, o que comprometeu a credibilidade do negócio. O processo de recuperação judicial da empresa começou em 2014, quando o País começou a sentir os primeiros sinais da crise atual. A OSX, criada para fornecer à “coirmã”, acabou sendo levada junto. No âmbito da recuperação da OGX, parte dos credores aceitou transformar a dívida em participação do negócio na esperança de rever os valores. “Não adiantou, pois, sem as reservas prometidas, o negócio não se sustenta”, diz o executivo do Brasil Plural.
‘Rombo’. Embora o valor de R$ 120 bilhões devido pelas empresas em recuperação judicial no País pareça gigante, o endividamento das companhias é, na verdade, maior. Isso porque alguns débitos ficam de fora da recuperação, entre eles os tributários. “É por isso que, ao iniciar a recuperação judicial, muitos ativos que poderiam ser vendidos para dar fôlego ao negócio já estão penhorados”, explica Pimentel.
A OGPar afirmou, por e-mail, que a saída da OGX da recuperação judicial dependerá da “combinação do preço do petróleo no mercado internacional e da capacidade de controlarmos nossos custos operacionais”. A companhia afirmou que espera, no futuro, ser uma “empresa enxuta e com a estrutura adequada”.