Há seis anos o banco de investimento americano Lehman Brothers foi à falência e a economia mundial ainda está longe de ter se recuperado da debacle financeira de 2008. Em relatório econômico divulgado ontem, os economistas da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) resumem o momento: fraqueza econômica persistente, crescimento potencial em queda, a desigualdade em alta, os desequilíbrios externos e ameaças à estabilidade financeira ainda estão no horizonte.
As principais economias ainda estão às voltas com as políticas adotadas para responder à mais grave crise do capitalismo desde a Grande Recessão de 1929. O golpe foi tão forte nos Estados Unidos, onde tudo começou, que o Federal Reserve precisou de três programas de afrouxamento quantitativo para que a economia entrasse em uma rota de recuperação que agora parece firme. A herança deixada preocupa. O balanço do Fed subiu a 20% do PIB americano (de US$ 16 trilhões) e a normalização monetária, cujo ritmo é incerto, implicará aumento dos juros em um momento em que as economias apresentam trajetórias divergentes - o mundo emergente, por exemplo, ainda desacelera.
Enquanto EUA, Canadá e Reino Unido parecem rumar para a expansão, as preocupações se concentram na Europa, com seus falsos sinais de recuperação e sua real proximidade da estagnação. Após a farra do subprime americano, a crise da dívida soberana foi um segundo e mais poderoso golpe sofrido pelos bancos europeus. Boa parte deles ainda não está com balanços equilibrados e tem pouco interesse ou capacidade para realizar empréstimos, que caem há muito tempo na zona do euro. As economias da união monetária estagnaram no segundo trimestre e, pior, a inflação continua cedendo - 0,3% ao ano em agosto.
Os mercados aguardam as medidas para o afrouxamento monetário à la europeia do BCE, que implicará possivelmente a volta de seu balanço ao nível de 2013, isto é, a 30% do PIB da zona do euro (de US$ 9 trilhões). Em paralelo, há a expectativa de que os testes que serão aplicados pelo BCE resolvam de uma vez por todas as deficiências de capital de várias instituições financeiras. A previsão da OCDE indica que a enrascada em que a zona do euro está metida não será deixada para trás tão cedo. Ela deve crescer 0,8% este ano e 1,1% em 2015. Isso se outros riscos não se materializarem: a separação da Escócia do Reino Unido, em referendo que se realiza esta semana e o agravamento das tensões geopolíticas, após nova bateria de sanções europeias à Rússia.
A segunda maior economia do mundo, a China, tem conseguido manter seu ritmo de crescimento em 7,5% ao ano, mas enfrenta dúvidas contínuas de que os desequilíbrios da economia - excesso de capacidade de produção, bolha imobiliária, empréstimos de difícil recuperação no sistema bancário - possam escapar ao controle. Até hoje, esses são efeitos do megapacote contracíclico usado para conter os efeitos da crise de 2008, superior a US$ 700 bilhões. O PC chinês tem evitado desaceleração mais forte da economia, mas, por outro lado, não tem conseguido redirecionar o modelo para o crescimento do consumo doméstico. A produção industrial perdeu ritmo - cresceu 6,9% ao ano em agosto, ante 9% em julho.
A OCDE acredita que a expansão prevista em 2014 para China (7,4%), Japão (0,9%) e Índia (5,7%) está dentro da tendência. O caso do Brasil é diferente - é o "lanterna" dos países analisados, com crescimento previsto de 0,3% este ano e 1,4% em 2015.
Os problemas brasileiros guardam relação com a política anticíclica utilizada, com sucesso, para enfrentar a recessão de 2008-2009 que, graças a ela, foi breve. Em vez de retirar os estímulos, porém, os governos petistas os mantiveram e ampliaram. A economia estagnou - para a OCDE, o país está em recessão. Inflação e política fiscal são a parte mais visível dos problemas. "Adotar uma regra de gastos seria um compromisso crível para a necessária melhoria do superávit primário", aponta o relatório. A modesta retomada de 2015 se dará com "evidentes constrangimentos de oferta, incluindo mercado de trabalho ajustado e a necessidade de políticas macroeconômicas apertadas para conter a demanda doméstica". A solução de longo prazo prescrita é conhecida: aumento dos investimentos em infraestrutura, redução das barreiras comerciais e reforma nos tributos.