A aquisição pela EDP Energias do Brasil da fatia de 50% da Eneva na termelétrica Pecém I, foi a solução encontrada pela companhia para evitar que o empreendimento, do qual o grupo português detém a participação restante, fosse envolvido no processo de recuperação judicial solicitado pela elétrica controlada por Eike Batista e a alemã E.ON.
"Há duas lógicas complementares para este movimento. A primeira é defensiva, no sentido de proteger o projeto e a EDP das eventuais consequências da recuperação judicial da Eneva. A segunda é estratégica, no sentido em que, através desse movimento, passamos a reforçar nossa posição como operador hidrotérmico de referência no mercado energético brasileiro", disse ontem o diretor-presidente da EDP, Miguel Setas, em teleconferência sobre a operação.
Com a transação, a térmica deixará de ser considerada como equivalência patrimonial e passará a ser consolidada integralmente no balanço da EDP Energias do Brasil. Com isso, segundo Setas, o projeto deve agregar às contas da empresa R$ 2 bilhões de dívida e R$ 400 milhões de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações). "Vamos ter uma noção mais clara quando fizermos a conclusão da operação. Isso é algo que não vai ter impacto nenhum em 2014", disse ele.
Para um especialista do setor que pediu anonimato, porém, há dúvidas com relação à rentabilidade da usina. "É um projeto problemático. Há um sobrecusto grande e aparentemente não resolvido", disse ele. "Não creio que ela [EDP Energias do Brasil] tinha intenção de comprar o ativo. Ela não quis foi correr o risco da recuperação judicial", completou.
"O ativo tem demonstrado nos últimos meses uma performance mais consolidada", explicou Setas. Segundo ele, o gerador da primeira unidade de Pecém I, que teve que ser substituído, está hoje com performance superior a 90%. E a segunda máquina está operando com estabilidade acima de 98%. O executivo contou que, considerando as paradas para manutenção, a ideia é que as turbinas operem com uma performance de 90%.
Com 720 megawatts (MW) de capacidade instalada, Pecém I, localizada no Ceará, possui dois grupos geradores, de 360 MW cada, e opera com carvão mineral.
A aquisição ampliará o parque gerador da EDP no Brasil dos atuais 2,2 gigawatts (GW) para cerca 2,6 GW. Considerando a participação da empresa em três hidrelétricas em construção no país hoje (Santo Antônio do Jari, Cachoeira Caldeirão e São Manoel), a capacidade instalada do grupo alcançará 3,2 GW em 2018.
O novo diretor-presidente da Eneva, Alexandre Americano, afirmou ontem que a transação, no valor de R$ 300 milhões, depende, entre outras questões, da aprovação dos credores, dentro do provável plano de recuperação judicial da elétrica.
O executivo afirmou ainda que as usinas na qual a Eneva tem participação e que não entraram no pedido de recuperação (Pecém II, Itaqui e o complexo termelétrico a gás natural do Parnaíba) continuarão honrando pagamento a funcionários, fornecedores e credores.
Para o advogado especializado em recuperação judicial Sérgio Emerenciano, os pedidos de recuperação apresentados ontem pela Eneva e a Wind Power Energia (WPE), empresa do grupo Impsa no Brasil, evidenciam o aumento dos casos de proteção envolvendo empresas de infraestrutura. Segundo ele, esse movimento vem ocorrendo de forma mais acentuada nos últimos dois anos, devido à situação econômica do país.