Durante anos, o colapso da Blockbuster tem se desenrolado como um filme de terror em câmera lenta. Agora, a hercúlea tarefa de redigir um roteiro com final feliz está recaindo sobre James Keyes.
Num dia ensolarado este mês, Keyes, de 55 anos, executivo-chefe da Blockbuster sediada em Dallas, esteve em Hollywood pela segunda vez numa semana. Logo depois de visitar a Warner Bros. naquela manhã, ele foi ao almoço na Sony para tentar extrair dos estúdios de cinema termos melhores sobre os estimados US$ 1 bilhão que pagou a eles por DVDs no ano passado.
Keyes tenta ganhar tempo para transformar a Blockbuster num concorrente ágil, que possa movimentar mais dos seus filmes digitalmente ou pelo correio. Isso poderá manter à distância a Netflix, potência das compras pelo correio e pela internet - cuja capitalização de mercado teve ascensão meteórica, com alta de 52% na comparação com o ano passado, para US$ 3,9 bilhões, ante uma queda de 47%, para US$ 62 milhões registrados pela Blockbuster - e as máquinas de venda da Redbox, que se tornaram as melhores amigas dos locadores de filmes de última hora. "Nós somos um processo em desenvolvimento", disse Keyes, afônico de tanto regatear, enquanto se reclina numa mesa na cafeteria Starbucks. "Mas necessito de um pouquinho de ajuda."
A Blockbuster vem tentando há anos se desfazer da sua pele, mas acumulou dívidas. Sua participação nos US$ 6,5 bilhões do setor de locação de filmes caiu de 36% em 2008 para 27% em 2009, diz Michael Nathanson, analista do Bernstein Research. A companhia perdeu US$ 932 milhões nos dois nos passados, à medida que as receitas desabavam, com uma queda de 23%, para US$ 4,1 bilhões. O endividamento chegou a US$ 856 milhões no fim do ano.
Keyes chegou à companhia em 2007, após permanecer 20 anos na 7-Eleven. Seu maior ativo na Blockbuster é que Hollywood quer ver a companhia sobreviver. A empresa é um lugar onde os consumidores ainda se agrupam para comprar DVDs; e, apesar de as locações continuarem representando 75% do seu negócio, as vendas de DVDs são muito mais lucrativas para os estúdios. Elas recebem até US$ 18 por cada unidade vendida, contra cerca de US$ 4 por uma locação, de acordo com Michael Lynton, presidente do conselho de administração da Sony Pictures Entertainment. "Queremos que Jim triunfe", diz David Bishop, presidente da Sony Pictures Home Entertainment. Isso explica porque alguns estúdios parecem preferir a Blockbuster em relação às suas rivais: em 23 de março, a Warner Bros. assinou um acordo para permitir que a Blockbuster alugue DVDs on-line e por reembolso postal no mesmo dia em que forem liberados para venda. Antes, a Warner havia insistido para que a Netflix e a Redbox aguardassem 28 dias para só então oferecerem os novos filmes.
Mas Keyes precisa convencer Hollywood a considerá-lo como um sócio, não como um fornecedor. Keyes diz que ele poderia gerar caixa se os estúdios reduzissem o seu preço inicial. A Blockbuster pediu que os estúdios diminuíssem o seu preço de US$ 18 para até US$ 2 em troca da elevação dos estoques e de uma fatia maior nas receitas dos DVDs.
Seja como for, grande parte do espaço nas prateleiras da Blockbuster está desaparecendo. A companhia disse em comunicado oficial que fechou 374 lojas nos Estados Unidos em 2009 e pretende fechar até 545 neste ano, reduzindo o seu total para aproximadamente 3,5 mil lojas. Ela assinou acordos para fornecer serviços de vídeo por encomenda a operadoras de cabo de médio porte e espera expandir para 10 mil o número de máquinas de venda que está lançando em conjunto com a NCR. A rede fornece filmes "Blockbuster por Encomenda" a assinantes da TiVo e a proprietários de TVs Samsung conectados à internet.
Conseguirá a Blockbuster evitar a recuperação judicial? A companhia informa que enfrenta um pagamento de dívida de US$ 390 milhões em 2012 e levantou a possibilidade de uma reestruturação no seu comunicado oficial. "Trata-se de uma companhia que dispõe de dois anos para dar a volta por cima", disse Michael Pachter, analista do Wedbush Securities, que confere à Blockbuster uma classificação neutra. Keyes está "tomando todas as providências certas. Mas ele tem o pior cargo do mundo". (Tradução de Robert Bánvölgyi).
Autor: Ronald Grover, BusinessWeek, de Los Angeles
Fonte: Valor Econômico (29/03/2010)