Narcélio, presidente: "Temos a intenção de obter um investidor estratégico ou acessar novamente o mercado de capitais via nova emissão de ações"
Após entrar com pedido para encerrar seu processo de recuperação judicial, a OGX, joia da coroa do antigo Império X, de Eike Batista, tem pela frente desafios importantes a superar nos próximos meses. Com dificuldades para honrar seus compromissos de investimentos e convivendo com riscos de ter sua única fonte de geração de receitas interrompida já a partir do ano que vem, a petroleira pretende recorrer a um sócio estratégico ou ao mercado de capitais ainda este ano, para levantar recursos que lhe permitam se consolidar como uma empresa sustentável no longo prazo.
Presidente da OGX, Paulo Narcélio conta que, encerrada a recuperação judicial, a primeira prioridade será solucionar a dívida que detém com seus sócios no projeto de Atlanta, na Bacia de Santos, nos próximos 60 dias. O fim da recuperação ainda depende de parecer favorável da Delloite e aprovação do juiz responsável pelo processo, na 4ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Rio. Na sexta-feira, o mercado reagiu bem ao pedido de encerramento da recuperação, tendo as ações da OGX subido 35% e as da OGPar, a holding, 56%.
A OGX detém 40% de participação de Atlanta, mas não tem conseguido honrar as chamadas de aporte de capital no desenvolvimento do campo e abriu um processo para venda de uma parte de sua fatia no projeto. Só em 2017, os investimentos estimados pela companhia no desenvolvimento do campo giram em torno de US$ 50 milhões. Segundo dados da própria companhia, ao fim do primeiro trimestre a petroleira já acumulava uma dívida de R$ 92,4 milhões com seus sócios (Queiroz Galvão Exploração e Produção e Barra Energia).
"O momento agora é olhar para frente. A preocupação imediata é com o BS-4 [projeto de Atlanta]. Existe um desafio inicial de colocar créditos atrasados com os sócios", afirmou o executivo ao Valor.
Segundo Narcélio, a empresa quer manter entre 10% e 20% da concessão. O executivo conta que a empresa já tem propostas na mesa, mas que o entendimento é que o ativo "valeria mais do que a oferta que está sendo feita". Como plano B, a empresa considera, como alternativa, vender sua fatia de 6,22% na Eneva (antiga MPX) para levantar recursos para quitar os débitos.
Se não equacionar a dívida, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) pode intervir no consórcio e a OGX corre riscos de ter sua participação diluída, comprometendo sua futura geração de caixa.
Para além da venda de ativos, a OGX pretende recorrer a um sócio estratégico ou ao mercado de capitais ainda este ano, para se capitalizar. Narcélio destacou que a companhia quer lançar nos próximos meses uma nova marca para a empresa, com o objetivo de mudar a imagem da petroleira frente ao mercado.
"Resolvida essa situação [fim da recuperação judicial e quitação da dívida com sócios de Atlanta], é olhar para frente, para o longo prazo. Temos a intenção de obter um investidor estratégico ou acessar novamente o mercado de capitais via nova emissão de ações", afirmou.
A capitalização da empresa, de acordo com o executivo, permitirá à OGX investir na revitalização do campo de Tubarão Martelo, no pós-sal da Bacia de Campos, para alongar a vida útil do ativo. Única fonte de receitas da empresa, hoje, Tubarão Martelo produz 7,7 mil barris diários de petróleo, mas sua vida útil, se não forem feitos novos investimentos, se esgota em maio do ano que vem.
Segundo Narcélio, o projeto de revitalização do campo deve exigir investimentos de até US$ 75 milhões, para alongar sua vida útil até 2021, e permitir uma produção adicional de 7 milhões a 10 milhões de barris, num patamar de 9 mil barris diários. O executivo disse ainda que a intenção é começar a investir a partir de outubro e que a ideia é encontrar uma equação financeira para que o investimento seja pago ao longo da vida útil do projeto. Em 2017, a companhia estima receitas de US$ 113,4 milhões com a produção de Tubarão Martelo.
"Antes estávamos numa situação que não tínhamos nem tempo, nem dinheiro. Agora [com o fim da recuperação] temos um pouco mais de tempo para conseguir o dinheiro", afirma.