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Em recuperação judicial, Bonasa acumula dívida trabalhista com funcionários no DF

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Funcionários da Bonasa Alimentos S/A – uma das maiores produtoras de carne de frango do país – afirmam que, em meio ao encerramento das atividades em todo o país, a empresa acumula dívidas trabalhistas no Distrito Federal, em Goiás e em Tocantins.

Em nota divulgada na última terça-feira (15), no site da empresa, a Bonasa confirma a crise e diz que entrou em processo de recuperação judicial, ou seja, em uma reorganização para evitar a falência.

O termo de rescisão foi assinado pelos trabalhadores e pelo sindicato da categoria (STIAB-DF) no último dia 11, e inclui um acordo para o pagamento das dívidas. Segundo a entidade, cerca de mil funcionários da Bonasa foram demitidos apenas no DF.

O termo de rescisão estabelece que as dívidas com cada empregado serão pagas em parcelas de R$ 1 mil, até a quitação dos valores. De acordo com o documento, a empresa depositaria a primeira parcela da rescisão ainda no dia 11.

A data não foi cumprida. Uma das funcionárias da unidade de Águas Claras, Adelita Oliveira, diz que só recebeu quatro dias após o prazo marcado. "Tem colaboradores que ainda não receberam", afirma.

A ex-funcionária da empresa Ivonete Gomes é um desses casos. Até o fechamento da reportagem, na noite desta quinta-feira (17), ela ainda não tinha recebido a primeira parcela. A trabalhadora diz que tentou contato com o sindicato da categoria, sem sucesso.

Mais dívidas

Outra reclamação de Ivonete diz respeito às dívidas mencionadas no acordo. De acordo com ela, os salários de março e abril não foram pagos. Já o último depósito do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) teria sido em outubro de 2017.

O termo de reclamação assinado pelos demitidos, porém, faz menção a 'saldo de salário' de forma genérica. A regularização com a Previdência Social também não é mencionada explicitamente.

"Eles falaram que isso tinha que pedir na Justiça, porque não ia entrar no acordo. Eles iam pagar, só não tinha data", diz Ivonete.

Por causa das dúvidas, a funcionária Nilda Alves foi instruída por um advogado a não aceitar a negociação. "Como você assina um acordo em que seu salário está atrasado, FGTS não pago, e nem foi colocado no seu acordo e você não tem garantia pra receber?", questiona.

Setor em decadência

A Bonasa divulgou na última terça-feira (15) uma nota sobre o pedido de recuperação judicial. A companhia diz que tentou várias outras medidas de contingência, como troca da diretoria, corte de segmentos que não se recuperariam a curto prazo e renegociação de dívidas.

De acordo com a empresa, a decisão foi tomada em um contexto de uma "crise que se instalou no segmento, a maior da história do Brasil".

O presidente do STIAB-DF, Zacaria Assunção, diz que o fechamento da empresa foi causado por um processo de decadência da indústria a nível nacional. “O nosso setor passa por um momento delicado”, diz.

Ele afirma que o declínio do setor começou com a Operação Carne Fraca, em março de 2017. A investigação revelou várias falhas na indústria, de excesso de amido em salsichas à falsificação de laudos negativos da bactéria salmonela. “O setor não se equilibrou”, afirma.

Zacarias alega ainda a existência de “barreiras sanitárias e fiscais" e diz que, na visão dele, "o governo também tem culpa".

Em nota enviada ao G1, a Bonasa afirmou que está em crise desde 2016, quando, em decorrência da "crise econômica, escassez de crédito barato e fatores externos como a alta brutal dos insumos agroindustriais” teve um prejuízo R$ 100 milhões, mesmo com o faturamento total próximo a R$ 1 bi.

No ano seguinte [2017], o faturamento foi de R$ 750 milhões. Mas o rombo, segundo a empresa, chegou a R$ 17 milhões.

A companhia alega ainda que no primeiro trimestre de 2018 “a crise no setor voltou a exercer pressão só que em dose ainda mais elevada do que em 2016”, com superoferta de produtos no mercado interno, causando queda nos preços de venda.

Fábricas fechadas

Nilda Alves afirma que, até a semana passada, a negociação era feita diretamente com o gestor do departamento financeiro da empresa, Pedro Amorim. Ele é filho do atual presidente da companhia, Aroldo Silva Amorim Filho.

No último dia 3, Pedro Amorim anunciou o fechamento da unidade de Águas Claras, especializada em fatiados e espetinhos. Em um vídeo filmado durante o anúncio, Amorim afirma que há cerca de três anos a empresa vive um momento delicado.

Com o fechamento da unidade de Nova Veneza (GO), afirma ele, não haveria mais frangos abatidos para serem processados em Águas Claras.

Na ocasião, a empresa não deu prazo para os funcionários receberem os salários atrasados e o seguro-desemprego, devido ao grande número de demissões. “O departamento pessoal tá bem atribulado de coisas pra fazer”, explicou. O gestor confirmou, ainda, que não podia garantir o pagamento integral dos salários.

18/5/2018

 

 

Autor(a)
Ana Luiza de Carvalho

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