A recessão da economia brasileira, que já dura mais de dois anos, está obrigando os bancos a renegociar as dívidas de grandes empresas com uma novidade: a adoção de um prazo de carência para o início do pagamento dos débitos. Com passivo de R$ 4 bilhões, a incorporadora PDG Realty, por exemplo, alongou o prazo de vencimento de suas dívidas e ganhou quatro anos de carência.
A renegociação interessa aos bancos porque a alternativa é o calote. Dados do Banco Central mostram que a inadimplência das empresas tem crescido de forma acelerada. Nos últimos 12 meses, saltou de 2,3% para 3% do saldo das operações de crédito, em meio ao aumento de pedidos de recuperação judicial e à forte retração da atividade econômica.
No balanço dos grandes bancos, o volume de operações renegociadas aumentou 34% nos 12 meses encerrados em junho, para R$ 76,4 bilhões, incluindo nessa conta também as pessoas físicas. No mesmo período, a carteira de crédito total caiu 3,3%, percentual que não considera os números da Caixa Econômica Federal e do BNDES, que não divulgam os valores renegociados.
Em contrapartida às condições oferecidas às empresas, os bancos exigem todas as garantias possíveis para evitar prejuízos ainda maiores no caso de um calote. Além disso, em geral não aceitam reduzir o valor nominal das dívidas. Nas situações mais extremas, aceitam até converter parte do passivo em dívida com características semelhantes às de uma ação, o que significa que o credor só terá seu dinheiro de volta caso a empresa volte a lucrar ou seja vendida.
Para executivos ouvidos pelo Valor, a lógica dos acordos de renegociação, em especial a adoção de prazo de carência, é liberar fluxo de caixa. Isso permite que as empresas tenham mais tempo para vender ativos sem serem obrigadas a aceitar qualquer preço. Ao mesmo tempo, conseguem rodar alguns ciclos de negócio sem ter que se preocupar com os credores. Com a esperada recuperação da economia, os bancos apostam que as companhias voltem a gerar caixa suficiente para honrar as dívidas.