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ENDIVIDADAS, EMPRESAS NEGOCIAM ROLAGEM COM BANCO

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A conta dos juros altos e do dólar em meio à estagnação da economia chegou aos balanços das maiores empresas brasileiras. Com os indicadores de endividamento em nível recorde e crédito cada vez mais escasso na praça, as companhias negociam com bancos e investidores a rolagem dos compromissos de curto prazo e o perdão ("waiver") pelo descumprimento das cláusulas contratuais nas dívidas, também conhecidas como "covenants".

A siderúrgica Usiminas é uma das empresas que precisarão se sentar com os credores até o fim do ano após ter estourado o limite de endividamento. A companhia encerrou o terceiro trimestre com uma dívida líquida equivalente a 6,8 vezes o lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização (Ebitda). O limite de alavancagem estabelecido nos contratos de financiamento é de 3,5 vezes, segundo Ronald Seckelmann, diretor financeiro da companhia. A rival CSN também discute a renovação das dívidas e já obteve acordos com o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

A disparada nos indicadores de endividamento ocorre com maior intensidade entre as empresas com dívida em moeda estrangeira. Mas a recessão econômica já ameaça empresas até então avaliadas como de baixo risco. É o caso da concessionária de rodovias CCR, cujas ações registraram forte queda após a divulgação do balanço do terceiro trimestre, pressionadas pelo elevado endividamento de curto prazo, que representa pouco mais da metade do total. Empresas do setor de energia, que se financiam com frequência no mercado de capitais, também devem sentir os efeitos da maior restrição dos investidores na hora de renegociar os compromissos.

No fim de junho, antes da disparada mais recente do dólar, a relação entre a dívida líquida e o Ebitda das empresas brasileiras estava em 3,1 vezes, de acordo com estudo do Credit Suisse com mil companhias que, juntas, detêm R$ 1,6 trilhão em dívidas corporativas. O índice de cobertura de juros - que mede a relação entre a geração de caixa da companhia e o serviço da dívida - das mesmas empresas estava em 1,6 vez.

De forma isolada, a Petrobras é responsável por um quarto desse volume, mas a tendência de alta na dívida se mostra inalterada mesmo excluindo a estatal da amostra, segundo o banco. Entre 11 setores analisados, sete têm dívida líquida sobre Ebitda acima de três vezes, e cinco setores têm cobertura para o pagamento de juros de uma vez ou menos.

A distribuidora de energia Light, a concessionária de rodovias Arteris e a Rumo Logística estão entre as empresas que já pediram perdão ("waiver") pelo descumprimento de índices financeiros. As incorporadoras PDG Realty e Rossi, que contam principalmente com dívida bancária nos balanços, também estão em busca de algum fôlego para o passivo.

Ao buscar a renegociação de dívidas, as companhias devem, de um modo geral, encontrar credores dispostos a rever condições. O que se percebe na conversa com executivos de instituições financeiras é que há um esforço para evitar uma onda generalizada de calotes. Os bancos praticamente fecharam a porta para conceder dinheiro novo, mas têm demonstrado disposição para rolar os compromissos. "Em muitos casos, simplesmente não há alternativa", afirma o diretor de um banco estrangeiro. Para ilustrar o impacto da alta de juros nos balanços, ele diz que o gasto médio de uma empresa apenas com o serviço da dívida saltou de 30% para até 60% da geração de caixa.

Em contrapartida à rolagem das dívidas, os bancos passaram a cobrar "spreads" mais salgados e a exigir garantias adicionais nos contratos. As linhas de crédito com garantia em ativos têm ocupado o lugar das fontes tradicionais de captação, como o mercado de capitais. Na mesma semana em que desistiu de uma emissão de pelo menos R$ 3 bilhões em debêntures por falta de demanda dos investidores, a Petrobras obteve um financiamento de US$ 2 bilhões (R$ 7,8 bilhões) com o Industrial and Commercial Bank of China Leasing (ICBC Leasing), por meio de uma estrutura de leasing de plataformas de petróleo.

Os bancos também negociam o perdão temporário do descumprimento dos "covenants" ou mesmo a eliminação dos compromissos nos contratos. "Para muitas empresas, a alavancagem chegou a tal ponto que seria inútil estabelecer qualquer índice financeiro", afirma o diretor de um banco.

A siderúrgica Gerdau foi uma das empresas que conseguiram eliminar os covenants nos contratos de financiamento. A companhia também obteve um empréstimo sindicalizado de US$ 1 bilhão com prazo de três anos, renováveis por mais dois, ao custo equivalente à taxa interbancária de Londres (Libor) mais 155 pontos-base, em uma operação que contou com a participação de nove bancos. Os recursos obtidos com o empréstimo contam com garantia da Gerdau e poderão ser usados pelas subsidiárias da siderúrgica no exterior.

Com o mercado de capitais praticamente fechado para emissões de títulos de dívida, principalmente no exterior, o balanço dos bancos tornou-se em muitos casos a única fonte de recursos para as empresas, segundo Ignacio Lorenzo, superintendente-executivo de mercados de crédito do Santander, que liderou a operação de empréstimo da Gerdau. "Os bancos internacionais ainda contam com liquidez e demanda por ativos de boa qualidade na América Latina", afirma.

As grandes companhias ampliaram o endividamento nos últimos anos para fazer investimentos e aumentar a produção, acreditando que também teriam elevação na receita com o aquecimento da economia. A expectativa, porém, não se confirmou.

Nos últimos 10 anos, a dívida líquida média das empresas brasileiras foi multiplicada por 4,2 vezes, enquanto a geração de caixa cresceu apenas 1,5 vez, de acordo com estudo do Banco Modal com informações de 268 companhias de capital aberto.

Diante da escassez de novas linhas de financiamento, as companhias devem começar a ajustar suas estruturas de capital. "Para aumentar o caixa, as empresas podem renegociar custos com fornecedores ou interromper o pagamento de dividendos aos acionistas", diz Ricardo Almeida, professor de finanças do Insper.

A alavancagem e a diminuição do ritmo de crescimento econômico, que afeta as vendas e a receita das companhias, fizeram aumentar o número de pedidos de recuperação judicial. Nos nove primeiros meses deste ano, 170 grandes empresas requereram a recuperação judicial, um aumento de 65% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a Serasa Experian. "A participação das grandes empresas na recuperação judicial tem crescido desde meados do ano passado", diz Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.

Autor(a)
Vinícius Pinheiro e Chrystiane Silva

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