Mesmo com as incertezas do cenário macroeconômico e toda a turbulência do setor elétrico, as ações da Equatorial Energia atingiram a máxima histórica no fim de novembro. A holding é especializada em comprar o controle e promover a reestruturação de distribuidoras de energia em dificuldades e em regiões com perspectiva de forte crescimento.
Hoje, controla a Cemar, distribuidora Maranhão, adquirida há dez anos, com 65%; e a Celpa, comprada dois anos atrás, com 96,2%. Nos últimos meses, gestoras de recursos de renome no mercado têm elevado a exposição nas ações. A expectativa é que a Equatorial repita na Celpa os mesmos resultados apresentados na Cemar.
"Somos o único investidor financeiro no controle de companhias desse setor. Apesar de não sermos tradicionais, estamos mostrando resultados", afirma Alessandro Horta, sócio da gestora Vinci Partners, que hoje exerce o controle da Equatorial por ter a maioria no conselho de administração. Segundo ele, a tese de reestruturação aplicada pela Equatorial mistura disciplina financeira e de gestão, com cultura focada no cliente, que tem de estar bem atendido. "Após o trabalho na Cemar, criamos um time que pode ser utilizado em outras companhias", diz. A equipe que reestruturou a distribuidora maranhense está hoje fazendo o mesmo processo na Celpa.
Acionista da Equatorial desde 2008, a gestora de recursos Squadra escreveu sobre o sucesso do investimento em carta a seus cotistas em meados deste ano.
"Algo que sempre nos atraiu na Equatorial é a qualidade de seus executivos, com forte cultura proprietária e estabelecimento, acompanhamento, cobrança e entrega de metas internas. A cada visita que fazemos ao Maranhão e ao Pará voltamos mais convictos do quão diferenciada e poderosa é esta cultura, que se encontra presente em tão poucas companhias brasileiras, dentre as quais o exemplo mais emblemático é a Ambev ", diz a Squadra, segunda maior acionista da holding, depois da Vinci.
Na carta, a gestora comenta sobre o retorno do investimento: quem investiu R$ 1.000 no IPO, multiplicou esse valor por 5.
A Cemar foi estatal até 2000, quando foi comprada pela norte-americana PPL Global. Em 2002, entrou em concordata e sofreu intervenção da Aneel, agência que regula o setor, por dois anos. Em 2004, a GP Investimentos, ao lado de um fundo que à época era do Pactual e hoje tem os sócios da Vinci no comando, ficou com a empresa. Em 2006, a holding foi listada em bolsa e, no ano seguinte, a GP saiu do negócio.
Quando foi adquirida, há dez anos, a Cemar era o patinho feio do setor, resume Firmino Sampaio, presidente da Equatorial. A distribuidora maranhense estava entre as dez piores do país. Dois indicadores de qualidade, diz, mostram o salto da Cemar na gestão Equatorial. O DEC, que mede a duração, em média, da falta de energia, saiu de 63,44 horas em 2004 para 18,85 em 2013, uma redução de 44 horas ou 70%. O FEC, que mede a quantidade, em média, da falta de energia, oscilou de 39,30 para 10,88 no período. Na gestão Equatorial, a relação dívida e Ebitda da Cemar saiu de 6,7 vezes para 1,6. O consumo saiu de 2.500 GWh para 5.297 GWh, com crescimento anual de 8%. O número de clientes atendidos dobrou e hoje supera 2 milhões. Houve redução relevante nas perdas de energia.
Em dez anos, o investimento total na empresa é próximo a R$ 3,7 bilhões. "O Maranhão vinha de uma base muito baixa de clientes e o crescimento foi brutal. Por conta disso, é preciso investir sempre, para reforçar toda a infraestrutura da rede. Como tem muito crescimento, é necessário também muito investimento", diz Horta.
O resultado já apresentado faz com que o mercado se posicione nas ações da holding na expectativa de que Celpa apresente retornos semelhantes. Na semana passada, a empresa saiu da recuperação judicial, cumprindo o plano previsto, fato raro em empresas que acabam tendo como única opção esse processo.
Eduardo Haiama, diretor financeiro e de relações com investidores da Equatorial, diz que o anúncio mostra que a empresa está no caminho certo e é fundamental para que ela volte a ter acesso a outros meios de financiamento no mercado.
Em dois anos de trabalho, o DEC da Celpa saiu de 102,3 para 50,2, uma redução de 50,9%. "Quando eu reduzo pela metade a interrupção média de fornecimento de energia para o consumidor, ganho dois dias de fornecimento de energia e também dois dias de faturamento", resume Firmino. No acumulado de nove meses deste ano, a Celpa reduziu as perdas globais de energia de 36,5% para 31,74%.
O presidente da Equatorial diz que a empresa nasceu com o desejo de ser uma das mais rentáveis do país e com a melhor qualidade de serviço. "Formamos uma cultura Equatorial de gestão, com disciplina em tudo que faz", resume. Ele explica que todas as ações da equipe são medidas e quantificadas, por isso podem ser replicadas. Como tudo está sendo "medido" o tempo todo, qualquer coisa que esteja saindo do rumo é rapidamente percebida e revertida, diz.
Haiama afirma que na definição da remuneração variável dos executivos, tem forte peso a meta de percepção de qualidade pelo cliente. "Não basta entregar só lucro ou Ebtida se a satisfação do consumidor estiver ruim", diz.
A Squadra resume a história da Equatorial a seus cotistas como um "ganha-ganha": ganharam os vendedores (antigos credores), os compradores (Equatorial), os funcionários (de Cemar e Celpa) e a população. E também cita o governo federal, que assistiu "a execução exemplar por parte da companhia de um de seus principais programas de inclusão social, como o Luz Para Todos" no Maranhão. Por fim, aponta a gestora, o governo maranhense passou a arrecadar R$ 330 milhões em ICMS, bem acima dos R$ 100 milhões de 2004.