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Erros e acertos marcaram história do grupo editorial

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Quando o Pato Donald perdeu o emprego, ficou claro que a situação era grave. Em junho, depois de 68 anos, o protagonista da primeira revista lançada pelo Grupo Abril deixou de ser publicado, com os demais personagens da Disney. Não foi um movimento significativo do ponto de vista comercial, mas chamou a atenção para o agravamento da crise financeira enfrentada há anos pela companhia; uma história de erros e acertos cujo desfecho veio ontem, com a venda da empresa para o empresário Fabio Carvalho.

A Abril foi fundada em 1950 por Victor Civita, um novaiorquino de ascendência italiana que cresceu em Milão. A mulher, Sylvana, com quem Victor se casou em 1935, nascera em Roma. Quando a família se mudou para São Paulo, os filhos Roberto e Richard tinham, respectivamente, 13 e 11 anos.

O pato irascível e de voz esganiçada é considerado o marco inicial da editora, embora o jornalista Gonçalo Junior conte uma história diferente no livro "O Homem-Abril" (Opera Graphica, 2005). O primeiro título, escreve o autor, foi a revista infantil "Raio Vermelho, que só durou alguns meses. A data de fundação também seria outra - 1947, o ano em que César Civita, irmão de Victor, registrou o nome, diz o jornalista Carlos Maranhão na biografia "Roberto Civita: O Dono da Banca" (Companhia das Letras, 2016).

Nos primeiros anos, a Abril passou por um rápido crescimento. Em 1958, quanto Roberto Civita passou a trabalhar na empresa, já estavam em funcionamento tanto a gráfica quanto a distribuidora de publicações do grupo. Os títulos da Abril se multiplicavam, à medida que a editora colocava em prática sua estratégia bem-sucedida de segmentação. Em 1960, lançou "Quatro Rodas", destinada a fãs de automóveis; em 1961, "Claudia", para o público feminino; Contigo!, de 1963, mostrou o apelo das fotonovelas à época - foi a primeira revista brasileira a vender mais de 500 mil exemplares. "Placar", de esportes, começou a circular em 1970; e assim por diante.

Além das revistas, na metade dos anos 60 a Abril identificou um filão que se revelaria muito popular: a venda de enciclopédias em bancas de jornal, em fascículos. A primeira foi "A Bíblia Mais Bela do Mundo". Seguiram-se coleções como "Conhecer" e "Os Pensadores".

Roberto Civita passou a ter uma influência crescente na companhia. Comandou a redação de "Realidade", que se inspirava no "Novo Jornalismo" americano, caracterizado por textos aprofundados e bem escritos. A revista, que durou dez anos, entre 1966 e 1976, teve grande repercussão em sua primeira fase. Roberto também inspirou títulos como "Exame" e a versão brasileira de "Playboy".

Mas o maior projeto do empresário e herdeiro foi "Veja". Desde que entrou na Abril, Roberto tinha planos para criar uma revista semanal de informação semelhante à "Time", dos Estados Unidos.

"Veja" estreou em 1968 e teve seu lançamento precedido por uma campanha de US$ 1,9 milhão. Foi um estouro comercial, com 650 mil exemplares vendidos na primeira semana, conforme narra o jornalista Matías M. Molina, em artigo publicado pelo Valor em 2016.

O vigor inicial, porém, perdeu força e a circulação chegou a cair para 20 mil exemplares semanais. Os gastos eram muito elevados, mas Roberto insistiu em manter a revista intocada. Acertou. Em 1986, "Veja" ultrapassou a marca de 1 milhão de exemplares vendidos, estabelecendo-se como principal título da Abril.

Fora do campo editorial, o grupo fez várias incursões malsucedidas. De uma só vez, ingressou em TV paga via cabo, satélite e microondas. A TVA (TV Abril) começou a funcionar em 1991. Em 2012, teve seu controle assumido pela Vivo, que já havia adquirido partes da operação anteriormente. A Abril também chegou a ser sócia da DirectTV e a controlar o canal MTV no país.

Da mesma forma, as operações digitais mostraram-se acidentadas. Em abril de 1996, a Abril lançou o BOL, provedor de acesso gratuito à internet. Em setembro do mesmo ano, o negócio foi fundido ao UOL, do Grupo Folha. Movimentações societárias posteriores levaram a Abril a deixar o UOL.

A companhia recebeu capital estrangeiro em 2006, quando o grupo sul-africano Naspers adquiriu 30% de seu capital. Em 2014, no entanto, o Naspers fez uma baixa contábil de US$ 113,5 milhões referente ao negócio.

Uma das últimas operações significativas da Abril foi a venda de sua divisão de educação, em 2015, por R$ 1,3 bilhão.

Em 2018, a situação da Abril chegou ao limite. Em junho, a família deixou o comando executivo. Giancarlo Civita, neto do fundador, foi substituído por Marcos Haaland, da consultoria Alvarez & Marsal. Em agosto, a Abril anunciou 800 demissões e fechou vários títulos. Dias depois, entrou com pedido de recuperação judicial, abrindo espaço para negociações de compra, como a revelada ontem.

21/12/2018

 

Autor(a)
João Luiz Rosa

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