A um mês de apresentar o plano de recuperação judicial a seus credores, o frigorífico paulista Frigol trabalha com 70% dos abates de bovinos nas duas unidades em operação, paga o boi à vista e tem conseguido faturar R$ 55 milhões mensais, com vendas principalmente ao mercado interno (85% do total).
A empresa pediu recuperação judicial no fim de julho do ano passado, mas não ficou sem operar, de acordo com o diretor da companhia, Djalma Gonzaga de Oliveira, pois conseguiu linhas de crédito com bancos que já eram credores ou não.
Problemas de liquidez e dívidas da ordem de R$ 144 milhões levaram a empresa, que faturou R$ 467 milhões em 2009, a pedir a proteção contra a falência no dia 30 de julho de 2010. O balanço "especial", publicado no plano a ser apresentado aos credores, mostra receita bruta de R$ 375 milhões e prejuízo de R$ 78,6 milhões de janeiro a 30 de julho do ano passado, data do pedido de recuperação.
Apesar de bem menos endividado que outros frigoríficos de carne bovina que também recorreram à recuperação judicial, o Frigol teve de fazer demissões por conta das dificuldades financeiras. Foram 380 pessoas, mas 250 já foram recontratadas, segundo Oliveira. Hoje, a empresa tem 850 funcionários nas duas fábricas de Lençóis Paulista e em Água Azul do Norte (PA). A unidade de Pimenta Bueno (RO), que era arrendada, foi devolvida, segundo o diretor do Frigol.
Do total de dívidas de R$ 144 milhões do frigorífico, R$ 4,427 milhões são credores trabalhistas, R$ 31,016 milhões com garantia real e R$ 108,7 milhões com credores quirografários (sem garantia).
O diretor afirma que o plano de recuperação da empresa vai priorizar o pagamento a pecuaristas e outros fornecedores, que somam R$ 60 milhões. Não haverá deságio nesses créditos, conforme o plano. Créditos até R$ 10 mil serão pagos integralmente em 30 dias a contar da aprovação do plano. Entre R$ 10 mil e R$ 20 mil, o pagamento será em seis parcelas mensais.
Para créditos acima desse valor, o Frigol propõe que, caso haja entrada de recursos provenientes de créditos tributários junto à Fazenda Estadual Paulista e de novos recursos para capitalização (a empresa negocia ambos), sejam destinados 75% do valor aos credores em até 30 dias após a entrada desse montante no caixa da companhia. O saldo remanescente seria pago em 24 meses com um ano de carência.
No caso de credores financeiros, o Frigol propõe um deságio de 60% sobre as dívidas e pagamentos anuais por meio da destinação de um percentual a ser aplicado sobre a receita líquida a ser realizada nos 12 meses anteriores ao pagamento. A carência é de 48 meses.
O plano que será apresentado aos credores também prevê a possibilidade de venda de ativos do grupo para fomentar as operações, "e possibilitando assim o pagamento a seus credores e o cumprimento do plano de recuperação".
Considerando a conjuntura de mercado e de custos no setor de carne bovina, a projeção do Frigol para o primeiro ano de recuperação judicial é alcançar uma receita bruta de R$ 656,3 milhões. Para o décimo ano, a previsão é de faturamento de R$ 1,114 bilhão, conforme o plano.
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico (23/02/2011)