O crescimento da inadimplência é um fator adicional a pressionar os fluxos de caixa já bastante debilitados das companhias brasileiras, o que faz a Fitch projetar que este será o pior ano em termos de avaliação da qualidade de crédito das empresas locais.
Apenas nos primeiros três meses de 2016, a agência contabiliza 15 rebaixamentos de nota em moeda global, ante apenas uma elevação no período. Em escala nacional, foram 18 rebaixamentos, contra 3 elevações. Em uma série histórica em que a agência mede a relação entre cortes e aumentos de rating, a situação mostra um agravamento de um balanço negativo (com mais reduções que elevações) que teve início em 2014 e não dá sinais de recuperação.
Em escala global, o índice ficou abaixo de 1 entre 2010 e 2013, saltou para 2,8 em 2014, chegou a 4,4 em 2015 e até agora em 2016 disparou para 15 (quanto maior pior). Em moeda nacional, a relação vinha abaixo de 1 desde 2004, saltou para 2,5 em 2014, atingiu 4,1 no ano passado e está em 6,0. Segundo o diretor sênior de empresas da agência, Ricardo Carvalho, a tendência é que o índice continue crescendo e que chegue a 10, considerando os ratings nacionais.
Ele classifica 2016 como um ano "perdido" e afirma que os próximos três meses serão cruciais para traçar perspectivas para 2017. "Depende de qual governo vamos ter, de definições de políticas e metas econômicas". Diante desse cenário, Carvalho avalia que as empresas precisam hoje trabalhar com plano A, B e C para lidar com o endividamento.
Além da redução da receita e da inadimplência, destaca, as empresas enfrentam maiores pressões de custos. Assim, cresce a necessidade de capital de giro. Em um momento em que o fluxo de caixa operacional está comprometido, o ideal para as companhias é conseguir ao menos rolar as dívidas que vencem, o que tem se revelado um desafio.
As captações externas estão fechadas para empresas brasileiras há quase 12 meses; as companhias enfrentam o encarecimento das emissões no mercado de capitais local; e, por parte dos bancos, há uma postura mais restritiva na concessão de crédito.
No primeiro trimestre deste ano, as captações de empresas brasileiras no mercado local de capitais sofreu retração de 55%, somando R$ 8,2 bilhões, conforme dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima).
As alternativas que restam para equilibrar as finanças das empresas acabam sendo aporte de capital dos sócios - o que depende não apenas de disposição, mas de capacidade - e a venda de ativos. O cenário ajuda a explicar o crescente volume de empresas recorrendo à recuperação judicial.
No entanto, Carvalho destaca que nem todas devem ter sucesso na empreitada, já que há muitos bens à venda, e nem tantos compradores dispostos neste momento. A única ponta apontada pelo diretor, com potencial para se beneficiar do cenário que se desenha é o setor exportador. (Colaborou Alessandra Bellotto)