Diante do impasse em torno do futuro da Sete Brasil, algumas das principais fornecedoras globais de bens e serviços já começam a contabilizar suas perdas com o projeto de nacionalização das sondas. Enquanto os credores da empresa brasileira não chegam a um consenso sobre uma possível recuperação judicial da Sete, multinacionais como a Keppel Corporation, de Singapura, a japonesa Kawasaki e a norueguesa National Oilwell Varco (NOV) já reconheceram algumas perdas em seus balanços financeiros de 2015 e admitem que pelo menos parte delas podem não vir a ser recuperadas.
O caso mais recente é o da NOV, fornecedora de equipamentos submarinos que informou na semana passada a decisão de retirar cerca de US$ 1,2 bilhão de sua carteira de encomendas, após rescindir contrato com o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco. A norueguesa tinha um acordo para entrega de pacotes de perfuração para sete sondas.
A norueguesa ainda possui contratos de US$ 1,8 bilhão em carteira, para fornecimento de equipamentos para 15 sondas em construção nos estaleiros Brasfels (RJ), Rio Grande (RS) e Enseada (BA), mas destacou que tem reduzido o ritmo das atividades e que continua trabalhando, no momento, para só um desses estaleiros - onde as obras também vêm caindo de ritmo, segundo a empresa.
"A situação no Brasil permanece incerta e continua dependendo da garantia de financiamento de longo prazo para o projeto [das sondas da Sete Brasil]", disse o presidente da NOV, Clay Williams, na semana passada, durante apresentação dos resultados da companhia no quarto trimestre. "O único estaleiro que continuou trabalhando no Brasil também diminuiu [o ritmo das obras] no quarto trimestre", completou o executivo.
Já a Kawasaki Heavy Industries, que detém 30% de participação no estaleiro Enseada do Paraguaçu, na Bahia, registrou perdas de 22 bilhões de ienes japoneses (US$ 187,9 milhões) no balanço do seu terceiro trimestre fiscal, relativos a contratos com a Sete. Além de sócia no Enseada, a companhia japonesa fornece serviços e equipamentos para o estaleiro e contabilizou perdas não só por "impairment" (perda do valor recuperável dos ativos), como também por inadimplência, perda no valor de estoques e por valores a receber pela transferência de tecnologia.
Segundo a própria Kawasaki, o Enseada não recebe nenhum pagamento da Sete há mais de um ano "devido a mudanças imprevisíveis no financiamento do projeto, causadas pela Lava-Jato" - que investiga sócias da japonesa no estaleiro como a Odebrecht e a UTC.
O atraso nos pagamentos, destaca, tem comprometido "seriamente" a posição financeira e o fluxo de caixa do estaleiro. "Como resultado, a empresa [Enseada] tem ficado para trás em seus pagamentos à Kawasaki para a transferência de tecnologia e para a construção de partes do casco das sondas atualmente em construção em Sakaide, no Japão. A empresa também tem sido incapaz de fazer progressos sobre o reembolso de empréstimos concedidos pela Kawasaki", citou a empresa, em nota divulgada em janeiro.
A Keppel Corporation, por sua vez, decidiu interromper de vez, no fim de 2015, as obras para a Sete no Brasfels, em Angra dos Reis (RJ). A fornecedora fez uma provisão no balanço do quarto trimestre de cerca de 230 milhões de dólares de Singapura (US$ 163 milhões) para os projetos relacionados à Sete, "depois de avaliar o progresso da construção, o status de pagamento e valores devidos aos nossos fornecedores, entre outras áreas".
A empresa tem contrato para construção de seis sondas, sendo que as duas primeiras unidades já têm mais de 90% das obras avançadas, e esclarece que, por ora, a Sete Brasil continua sendo um cliente da Keppel.