Funcionários deveriam retornar ao trabalho nesta 5ª após 30 dias de férias; empresa não justificou corte
CUIABÁ - O JBS demitiu nesta quinta-feira, 9, cerca de 400 funcionários dos setores de matança e desossa da unidade industrial de Cáceres, município que fica a 225 km ao oeste de Cuiabá. A medida surpreendeu os empregados, que deveriam retornar hoje ao trabalho, após férias coletivas de 30 dias concedidas pelo frigorífico no início de agosto. A dispensa em massa foi confirmada pela presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Cárceres, Gláucia Maria Andrade Gonzaga, que na manhã desta quinta acompanhou o processo de demissão dos empregados.
Segundo a dirigente sindical, a unidade do JBS em Cáceres tinha ao todo 760 funcionários, dos quais serão mantidos o pessoal de manutenção, limpeza, refeitório e administrativo. Ela afirmou que a empresa deu opção de algumas vagas para os empregados da parte operacional que quisessem se transferir para outras unidades, em Cuiabá e Quatro Marcos.
Gláucia Gonzaga disse que a empresa não apresentou justificativa para as demissões. Ela afirmou que no mês passado, quando anunciou as férias coletivas, a empresa alegou a necessidade de suspensão das atividades para ampliação das câmaras frias, o que possibilitaria aumentar a capacidade de abate. Embora não tenha informação oficial, a líder sindical acredita que o abate em Cáceres deve ser retomado em quatro meses, após as conclusões das obras de ampliação do frigorífico, que continuam em andamento.
O presidente do Sindicato Rural de Cáceres, João Oliveira Gouveia Neto, diz que o maior impacto da paralisação do frigorífico, ainda que temporária, será na economia do município. Da população de 90 mil habitantes, cerca de 5 mil dependem direta ou indiretamente do frigorífico, que é o maior empregador da cidade. Ele acredita que a paralisação não deve derrubar os preços do gado no mercado local, pois desde o mês passado os criadores buscavam alternativas de comercialização em outras praças, em função das férias coletivas do JBS.
O diretor superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso, Luciano Vacari, diz que respeita as razões do JBS para suspender os abate, mas questiona "a falta de compromisso da empresa com os funcionários, criadores e comunidade onde estão suas unidades". Ele questiona o fato de o governo brasileiro, por meio do BNDES, ter financiado a expansão do JBS em outros países, enquanto a pecuária brasileira continua sem uma política que leve em conta os interesses dos diversos segmentos do setor.
Com a suspensão dos abates pelo JBS em Cáceres o número de frigoríficos em funcionamento em Mato Grosso cai para 20, pois existem várias unidades paralisadas por empresas que se encontram em processo de recuperação judicial. Existem 39 plantas que recebem inspeção federal no Estado. Um fator adicional de preocupação para os pecuaristas é a suspensão das compras pela Rússia, que é o segundo principal mercado das exportações de Mato Grosso. Por isso, a Acrimat reivindica ao governo estadual a regulamentação da lei que estabeleceu a redução do ICMS de 7% para 4% nas vendas de boi em pé para outros Estados.
Procurada pela reportagem, a gerência da unidade da JBS em Cáceres não retornou a ligação.
Autor: Venilson Ferreira
Fonte: http://economia.estadao.com.br (09/09/2010)