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Frigoríficos vivem fase de concentração radical

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Um ano e meio e dez frigoríficos depois, um quadro de concentração ainda maior se desenha no setor de carne bovina. Especialistas preveem que no médio prazo - cerca de cinco anos - restarão apenas quatro empresas no setor. Num horizonte de mais de dez anos, estimam que sobrarão apenas duas ou três.

Boa parte da consolidação vista até agora foi feita com o apoio do BNDES, que injetou recursos em grandes empresas como JBS e Marfrig. A ação do banco provocou queixas entre as empresas de pequeno e médio portes, que se sentem preteridas diante de um pequeno grupo de escolhidos.

Desde o primeiro trimestre do ano passado até agora, dez empresas de carne bovina pediram recuperação judicial ou deixaram de operar, arrendando unidades para outros frigoríficos ou suspendendo os abates de gado.

A crise financeira mundial, que atingiu seu auge no fim de 2008, precipitou o quadro, já que o crédito para essas empresas secou. Mas os frigoríficos já vinham sentindo os reflexos de oferta apertada de boi gordo - que ainda perdura - e muitos estavam alavancados após um período de euforia com o crédito fácil. Foi essa combinação que arrastou empresas como Independência e Arantes e permitiu a formação de gigantes no setor depois que a JBS incorporou a Bertin e arrendou unidades do Quatro Marcos, enquanto a Marfrig arrendou unidades do Mercosul e do Margen, em 2009.

A onda mais recente de pedidos de recuperação judicial - em maio foi a vez do Frialto e em julho, do Frigol - pode ser explicada também pela dificuldade dessas empresas de porte médio de concorrer num mercado dominado por companhias de grande porte.

"Num horizonte de cinco a seis anos, vão sobrar quatro e mais alguns [frigoríficos] médios e pequenos que vão atuar de forma especializada e regionalizada", avalia José Vicente Ferraz, especialista no setor da consultoria AgraFNP. Os quatro, segundo Ferraz, deverão ser JBS, Marfrig, Minerva e Brasil Foods (resultado da fusão entre Perdigão e Sadia), que tem uma operação pequena em bovinos. Outro especialista, Alcides Torres, da Scot Consultoria, acredita que serão, no longo prazo, apenas duas ou três empresas, como ocorre hoje nos Estados Unidos, onde JBS e Cargill dominam.

Ferraz explica que, num primeiro momento, a concentração no setor se deu pela incorporação de empresas menores pelas grandes. A nova onda, porém, reflete um desequilíbrio no setor, reforçado pela atuação do BNDES. Mais fortes, os grandes têm maior poder de barganha na compra de gado e nas vendas do produto final.

Autor: Mauro Zanatta e Alda do Amaral Rocha

Fonte: Valor Econômico (04/08/2010)

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