Com dívidas vencidas e a vencer no curto prazo de até R$ 400 milhões e receitas em queda devido à quebra da safra de verão na temporada passada (2011/12) e à paralisação do recebimento de grãos no início deste ano, a gaúcha Cotrijuí, com sede em Ijuí, enfrenta uma das mais graves crises dos seus 56 anos de história.
As dificuldades provocaram a reação de um grupo de associados, autodenominado "Terceira Via", que promete convocar uma assembleia para destituir o presidente Vanderlei Fragoso e enviou uma representação ao Ministério Público do Estado pedindo a nomeação de uma comissão provisória para administrar a cooperativa até a escolha da nova direção.
"A Cotrijuí está por um fio e queremos que ela sobreviva", diz Luís Carlos Libardi, um dos líderes da "Terceira Via", que até agora obteve 1,7 mil adesões ao abaixo-assinado para convocar a assembleia. Segundo ele, o número de assinaturas supera o mínimo exigido de 20% dos cooperados com direito a voto (os que entregaram grãos na safra anterior), que atualmente se limitam a 1,4 mil entre 19,2 mil associados por conta da quebra de 2012. Procurado, Fragoso disse que não comentaria o assunto. O presidente anterior, Carlos Poletto, também não quis se manifestar.
Do passivo de curto prazo, cerca de R$ 200 milhões são relativos a dívidas com produtores que não foram pagos pelos grãos que depositaram na cooperativa, conforme apurou o Valor. Outros R$ 100 milhões são devidos a bancos e o restante a fornecedores, a clientes que deixaram de receber soja adquirida antecipadamente e a funcionários. No dia 11 deste mês, a Justiça do Trabalho em Ijuí concedeu tutela antecipada a uma ação do Ministério Público do Trabalho (MPT) que pediu a indisponibilidade de bens imóveis da Cotrijuí para garantir o pagamento de R$ 7 milhões em dívidas trabalhistas.
A principal acusação contra Fragoso é que até agora ele não apresentou soluções para a crise e ainda agravou o problema, porque adotou medidas que travaram as operações da cooperativa. Ele teria se negado a negociar com credores e demorou a indicar os novos gerentes que assinariam como fiéis depositários da produção recebida na modalidade "armazém geral", que protege os associados contra eventuais penhoras de ativos da Cotrijuí. No dia 16, a 1ª Vara Cível de Ijuí concedeu liminar a uma ação movida pelo Ministério Público Estadual (MPE) salvaguardando a safra dos associados, mas a colheita já estava no fim na região.
Como resultado, a cooperativa, uma das mais tradicionais do Estado, com capacidade para armazenar 1 milhão de toneladas de grãos, recebeu apenas 6 mil toneladas de toneladas de soja neste ano, ante a expectativa original de 420 mil toneladas. Em 2012, com a seca, o recebimento já havia caído para 200 mil toneladas, 50% a menos que em 2011, o que contribuiu para reduzir o faturamento da cooperativa de R$ 1,22 bilhão para R$ 1,14 bilhão no período. A soja representa 30% da receita do grupo, que agora corre o risco de cair para perto de R$ 800 milhões em 2013.
Segundo Vergílio Perius, presidente da Organização das Cooperativas do Rio Grande do Sul (Ocergs), a entidade se reuniu três vezes em março com o atual presidente e outras entidades do setor para discutir um plano de recuperação, mas até agora a nova direção não levou adiante nenhuma das sugestões. Conforme ele, considerando os compromissos com vencimento de longo prazo, a dívida da Cotrijuí é de R$ 503 milhões, mas ele considera que, assim como em outras crises, há saídas à vista.
As propostas discutidas incluem desde medidas mais simples, como a negociação com outras cooperativas para adquirir a produção dos associados ou arrendar armazéns, até iniciativas ousadas como a venda do frigorífico de suínos que fica em São Luiz Gonzaga e vale R$ 90 milhões, diz Perius.
Outra proposta é buscar um socorro de R$ 450 milhões do BNDESPar, o braço de participações do BNDES – ou, no limite, recorrer ao pedido de liquidação extrajudicial com continuidade dos negócios (o equivalente à recuperação judicial), como fez a Cotrimaio, de Três de Maio, em janeiro deste ano.
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